Até por uma questão temporal, seria muita insanidade dizer que X-Men: A Série Animada tem um estilo de animação melhor que Evolution. As duas séries foram produzidas em contextos bem diferentes, com a animação da década de 90 tendo sofrido na mão de algumas decisões executivas e uma troca constante de estúdios fora dos EUA.

Evolution também teve alguns problemas, mas nada que se compare. A obra foi animada por vários estúdios asiáticos bem importantes, como o DR Movie, a Madhouse e a Mook Animation e o resultado é nítido na tela, com uma movimentação fluida e personagens muito bem delineados, fora a sólida consistência entre os episódios.

Ainda que Evolution possa ter uma animação mais fluida e "bonita", é impossível não encher os olhos com os visuais da Série Animada. Aqui, temos uma adaptação dos trajes mais icônicos da equipe, usados por eles na década de 90 nas HQs, e que até hoje são tidos como os "visuais definitivos" dos Filhos do Átomo.

Não só isso, a série não tem medo em apostar nas cores vibrantes e em uma identidade própria para cada personagem. Já Evolution tinha uma ideia mais similar à dos filmes e dos quadrinhos dos Novos X-Men, com um "uniforme" fixo e com poucas mudanças para cada membro da equipe, o que é um pouco decepcionante considerando que cada mutante tem um estilo e uma personalidade única.

Em X-Men: Evolution, é quase como se fôssemos convidados para ver o dia-a-dia no Instituto Xavier para Jovens Superdotados, e é a partir disso que a série se desenrola, mostrando os vários conflitos e dramas adolescentes dos personagens - que inclusive são divididos entre os "jovens estudantes" e os "professores mais velhos".

Isso valoriza toda a temática do sonho de Charles Xavier em construir um centro de educação para mutantes do mundo inteiro. A série também mostra como isso se desenvolve temporada a temporada, com novos alunos entrando para o instituto. Nesse sentido, a série sempre conseguiu abordar essa temática de uma forma melhor que X-Men: A Série Animada.

Porém, se Evolution conseguiu abordar muito bem o lado "escolar" dos X-Men, foi A Série Animada que acertou em cheio ao tratá-los como uma família, por vezes disfuncional, briguenta e um pouco emocionada, mas ainda assim uma família. Essas relações e afetos atravessam todos os personagens, até os que são meio "deixados de lado" a princípio, como o Morfo.

Os quadrinhos dos X-Men sempre os retrataram como escola e família, então é interessante que cada uma das animações siga caminhos diferentes na hora de abordar esses conceitos e apesar disso, ambas acabam tocando nas duas vertentes ocasionalmente. Ainda assim, Evolution é como ver Malhação e seus dramas colegiais, enquanto A Série Animada é uma grande novela das nove com muita treta familiar.

Os anos 2000 tinham chegado com tudo, a WB Kids queria apostar em uma série que convidasse um público mais jovem. Por isso, algumas decisões bem curiosas foram tomadas, como a criação de Spyke, um sobrinho de Ororo Munroe que nunca existiu nos quadrinhos. O personagem logo foi abraçado pelo público, especialmente em sua trama ao lado dos Morlocks.

Algo similar aconteceu na terceira temporada, quando os produtores tiveram a ideia de deixar o Wolverine mais de lado, por medo de como o herói era violento. Isso fez com que os animadores e roteiristas acabassem criando X-23, uma personagem que logo se consagrou no imaginário dos fãs. Por isso, X-Men: Evolution é a campeã quando se trata de criações originais.

Não é que X-Men: Evolution não tenha apostado em crossovers, na verdade, muitos devem se lembrar da participação do Capitão América na série, mas não tem como competir quando, nos anos 90, a Marvel tinha o seu próprio "universo compartilhado" muito antes do MCU sequer ter sido imaginado.

Em X-Men: A Série Animada, é comum vermos participações especiais e algumas conexões com outras séries que eram lançadas na época, como por exemplo o desenho clássico do Homem-Aranha. Esperamos que, com o sucesso de X-Men '97, tenhamos a chance de ver mais desse universo compartilhado no futuro.

Enquanto X-Men: A Série Animada sempre retratou os Filhos do Átomo quase como arquétipos perfeitos dos quadrinhos, com pouco espaço para as mudanças e evoluções dentro da equipe (que é o exato oposto do que X-Men '97 vem fazendo, por exemplo), X-Men: Evolution sempre teve um desenvolvimento de personagens bem interessante.

Certas figuras, como Ciclope, Vampira e Jean Grey, passam por uma evolução mais sutil ao longo das temporadas, enquanto figuras como Lince Negra, Mística, Feiticeira Escarlate e o Avalanche passaram por grandes transformações, seja de caráter ou até mesmo nível de poder. O mais interessante da série era justamente ver essa progressão episódio a episódio.

Por outro lado, X-Men: A Série Animada sempre se destacou ao adaptar arcos e sagas clássicas dos quadrinhos para a televisão, sem nunca sacrificar a essência das melhores histórias dos Filhos do Átomo. Foi assim que acabamos com uma versão definitiva da Saga da Fênix Negra e arcos baseados em Dias de um Futuro Esquecido e a saga do Vírus Legado.

Aliás, um ponto muito positivo para a animação clássica é a forma como seus episódios e temporadas são divididos, tanto que foi uma das primeiras séries animadas a contar com um formato sequencial, com menos episódios soltos e um foco maior na construção da narrativa, um legado que X-Men '97 vem mantendo cada vez mais firme.