Vingadores: Era de Ultron – Crítica por Gustavo Fiaux.

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Vingadores: Era de Ultron – Crítica por Gustavo Fiaux.

Por Gus Fiaux
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Vingadores: Era de Ultron - Crítica por Gustavo Fiaux

"Joss Whedon sai da franquia em grande estilo, mas Marvel começa a ser refém do sinal amarelo."

Em uma das primeiras entrevistas sobre o segundo filme que traria a reunião dos heróis mais poderosos da Terra, Joss Whedon revelou que pretendia fazer algo que não fosse maior, e sim mais intimista e focado em cada personagem. Em um mundo recheado de Transformers e Homens de Aço, é até difícil imaginar que algo assim aconteceria. Agora, pouco depois de ver o resultado final, vemos que Whedon cumpriu metade do que queria fazer. E isso é um excelente avanço.

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É fácil dizer que Vingadores: Era de Ultron é um verdadeiro conflito. Mas não, não se trata do conflito eterno entre bem e mal ou heróis e vilões... Digo, isso também está lá, obviamente. Mas é um conflito entre a criação e o criador, e não apenas no enredo do próprio filme, isso também está claro no que veio atrás das câmeras.

Já não era surpresa alguma que Joss Whedon começou a se desgastar ao longo do processo de produção do filme. A cada entrevista ou vídeo de bastidores isso se tornava ainda mais claro. E tudo tem a ver com a trama principal do filme. Whedon criou um verdadeiro monstro em 2012. Um filme gigantesco que até hoje está entre os 10 filmes mais rentáveis da história do cinema. Três anos depois, a expectativa por algo maior e mais grandioso pairava acima das montanhas... E com isso o jogo virou.

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O trabalho de Whedon está inteiro lá. Todos os personagens têm seus arcos próprios (destaque muito forte para o Gavião Arqueiro, a Feiticeira Escarlate e o Visão), e a trama do filme faz questão de dar um bom momento para cada um. Porém, ainda melhor que vê-los separados é quando podemos ver todos juntos, lutando como Vingadores e não apenas como heróis autônomos. Nesse ponto, eu preciso mencionar a cena de abertura e o marcante terceiro ato.

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A verdade é que, diferente de outras franquias do gênero que carregam o nome de certa equipe, e desenvolvem ao longo de seus filmes apenas dois ou três personagens, os Vingadores, de Whedon, fazem jus ao título, levando cada integrante a uma rota nova. Ao final de belas 2 horas e vinte minutos, ninguém mais é como era no início do filme. É ao final do filme que vemos a importância do Thor, nessa nova fase que terá início com “Capitão América: Guerra Civil”, e por falar nisso, é aqui também que vemos as discordâncias ideológicas aflorarem entre Tony Stark e Steve Rogers.

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Mas não é apenas o trio principal que sofre mudanças. O Gavião Arqueiro passa por um arco muito bem estruturado, que tem como base a questão em torno de sua importância como Vingador. O Hulk toma consciência de seu próprio lado ameaçador. Os gêmeos Maximoff trocam de lado, deixando o ódio em prol do heroísmo. Ultron, ainda que bem diferente de sua versão dos quadrinhos, é um vilão poderoso e perigoso, que infelizmente se vê refém do dever de se tornar alívio cômico, algo que não lhe cai bem. A Viúva recebe um background muito mais tocante que apenas a “dama letal”.

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Aliás, falando em Viúva Negra e em Hulk, os dois dividem um relacionamento no mínimo estranho para os fãs dos dois personagens, e leitores ávidos de quadrinhos. Confesso que eu mesmo não conseguia compreender direito a história ao longo do desenrolar do filme. Mas é no início do terceiro ato que isso ganha uma justificativa extremamente plausível, e que nos faz lembrar o início do primeiro filme. A verdade é que, ainda que não seja um casal existente nos quadrinhos, Bruce e Natasha ainda são mais palpáveis que certo herói que precisa beijar a mocinha no meio de toda a destruição, porque o público precisa ver o casal feliz ao final do dia.

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Aliás, se é para investir no festival de alfinetadas, Era de Ultron ganha um enorme troféu ao mostrar a preocupação dos heróis, mesmo em meio a uma destruição de nível global, com os civis que nada tem a ver com o assunto. Isso chega até ser um pouco chato, em especial, pois se subentende que muitas pessoas morrem, mas nunca vemos isso em uma escala tão grande que possa nos passar uma real sensação de perigo. Outra coisa que deixa qualquer espectador bastante incomodado é como certos personagens passam por situações físicas extremas e não demonstram dor. Afinal de contas, perder um braço ou tomar um tiro é super normal, claro.

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Por falar em diluição do perigo, o humor característico da Marvel ainda está lá, e dessa vez, diferentemente do primeiro filme, ele se mostra algo não muito favorável. Personagens como Thor acabam fazendo piadinhas desnecessárias em momentos desnecessários, passando uma sensação maior de vergonha alheia do que uma risada natural. Entretanto, aqui não chega a ser algo como em Homem de Ferro 3, um filme que, pelos trailers, era vendido de uma forma e exibido de outra.

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Porém, esse está longe de ser o pior do filme. Na realidade, a grande desgraça vem, curiosamente, da própria Marvel. Era de Ultron possui um vilão interessante e heróis dispostos a pará-lo. Bastaria isso para termos um grande filme, certo? Não. O filme precisa ser grandioso. Precisa tomar um nível ainda maior que o anterior. Não basta algo bom. Tem que ser melhor que o primeiro. E nisso ele falha miseravelmente.

Digo não que o filme seja melhor ou pior que seu primeiro, é difícil escolher um melhor, uma vez que o que falta da diversão proporcionada pelo primeiro em Era de Ultron é compensado numa profundidade e numa complexidade narrativa ainda maior: com uma grande trama envolvendo o uso de inteligências artificiais e como as criações podem se voltar contra seus criadores. Entretanto, é essa gigantesca ânsia por algo sem precedentes que faz o filme perder o foco de sua mensagem e ganhar um ar blockbuster, que indica os primeiros sinais de cansaço da Marvel Studios. É hora de reinventar a fórmula, porque de ameaças globais impedidas no último momento pelos heróis que descobrem a força dentro de si já basta Transformers.

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Tecnicamente falando, Era de Ultron é impressionante. Apesar de uma sequência inicial com efeitos um pouco exagerados demais, as técnicas de CGI (especialmente as de captura de movimentos para o Hulk e em alguns momentos, para o Visão) são espetaculares. A fotografia é bonita, não trazendo nada muito espetacular ou digno de nota. A grande decepção mesmo fica por conta da trilha sonora, de Brian Tyler. Mesmo gostando dos recentes trabalhos dele em Homem de Ferro 3 e Thor: O Mundo Sombrio, em Era de Ultron, a trilha do compositor fica apagada, mesmo que tenha sido retocada por Danny Elfman. Ao final do longa, percebe-se que o único grande destaque se dá quando ouvimos o tema dos Vingadores, composto por Alan Silvestri para o filme anterior.

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Ainda assim, Vingadores: Era de Ultron é um ótimo filme, especialmente para quem procura um pouco de ação descompromissada. Para os mais atentos, a mensagem do filme circula incessantemente, mas está lá apenas como um pano de fundo, e não como o tema principal, como deveria ser. No final das contas, os heróis salvam a Terra e tudo fica bem. Genérico? Bastante. Mas, mesmo assim, não deixa de ser um filme grandioso, e que pavimenta muito bem a trilha para o futuro do Universo Marvel nos cinemas. E que Thanos cuide muito “bem” desse futuro!