Os últimos anos foram bastante complicados para Deuses Americanos. A adaptação da obra de Neil Gaimain conquistou na primeira temporada, em 2017, mas logo se viu envolvida em todo tipo de problema com a saída dos showrunners originais e de membros do elenco. Por conta disso, a série da Starz entrou no período que é conhecido como inferno de desenvolvimento.

A terceira temporada demonstrou todo esse conflito dos bastidores na tela, mas mesmo que a qualidade tenha caído, Deuses Americanos merecia uma última chance de se despedir da forma correta. Felizmente, há um derivado chamado Os Filhos de Anansi em desenvolvimento, então talvez ainda exista uma redenção.

Não tente entender os critérios das plataformas de streaming para renovar e cancelar séries. Julie e os Fantasmas é um exemplo de como essas decisões podem desafiar a lógica.

Adaptação norte-americana de uma série brasileira, o programa infantojuvenil foi um grande sucesso entre seu público-alvo, e também não era uma produção de alto custo - especialmente por ser estrelada por um elenco de desconhecidos. Nem isso impediu a Netflix de descer o machado e cancelar Julie e os Fantasmas após uma única temporada. Pior ainda é o fato de que o cancelamento só veio mais de um ano após a estreia, ou seja, os fãs assistiram o seriado respirar por aparelhos ao longo de 15 meses

A HBO é a emissora mais prestigiada da TV, mas nem ela está isenta de tomar decisões bastante questionáveis. Lovecraft Country foi uma das melhores produções de 2021, exaltada pelo seu excelente elenco, pela estrutura variada dos episódios, e pela forma que abordavam racismo através do horror.

Ainda que tenha conquistado a crítica, o público e até as premiações, a série não passou da primeira temporada. E não foi por má vontade dos realizadores: desde o cancelamento, a criadora Misha Green revelou todos os seus planos para a segunda temporada, que cutucaria a ascensão da supremacia branca nos Estados Unidos dos dias de hoje. Pelo tom de Green, o conteúdo afrontoso do texto não caiu nos gostos dos executivos da HBO.

Outra série que foi cancelada por não cair nos gostos de executivos é A Casa Coruja, um divertido e adorável desenho do Disney Channel. A criação de Dana Terrace conquistou um público considerável, ganhou indicação ao Peabody (prêmio das animações) e foi altamente elogiada pela sua positiva representação LGBTQIA+, tendo um excelente casal queer como protagonistas.

A própria criadora afirmou que o cancelamento de A Casa Coruja não se deu por falta de audiência e nem por problemas por conta da Covid-19, mas sim porque os executivos da Disney achavam que o desenho não se encaixava na marca e valores da empresa - o que soa bastante controverso e duvidoso. A acusação de Dana Terrace foi apoiada por Alex Hirsch, criador de Gravity Falls e parte do elenco de voz do desenho, que também criticou a hipocrisia da empresa em se posicionar publicamente como aliada da comunidade LGBTQIA+, mas censurar criadores no privado.

A Casa Coruja terá uma terceira temporada final, mas que será apenas três episódios especiais de 44 minutos cada, sem previsão de estreia.

Fazer televisão não é nada fácil, e algumas séries demoram muito para sair do papel - o que só torna mais trágico quando elas são canceladas logo de cara. A adaptação televisiva de Y: O Último Homem passou por um verdadeiro inferno de desenvolvimento, com diversas versões descartadas, mudanças nos cargos principais e até troca de emissora.

Em 2021, depois de 14 anos no limbo, a saga icônica dos quadrinhos da Vertigo enfim chegou à TV… e foi cancelada antes mesmo de terminar sua primeira temporada. O FX cortou o programa no sétimo episódio (de um total de dez). O motivo supostamente foi a emissora não querer abrir os bolsos para estender o contrato do elenco. A produção, porém, se mantém otimista de que vai encontrar um novo lar para Y: O Último Homem, então quem não veremos uma retomada em 2022?

No meio de uma pandemia, ninguém deve se sentir culpado por buscar conteúdos leves e divertidos para aliviar o peso da realidade. Ajuda bastante quando tais conteúdos são tão bons e feitos com amor quanto *Zoey e a sua Fantástica Playlist. Infelizmente, amor não paga as contas.

A comédia dramática musical, estrelada por Jane Levy (O Homem nas Trevas), se viu presa em um período em que a emissora NBC buscava migrar produções para seu novo streaming, o Peacock. No fim das contas, os executivos não quiseram bancar uma terceira temporada na casa nova. Curiosamente, o Roku - aquele aparelho de central de mídia a lá Chromecast e Apple TV, sabe? - decidiu que era uma boa hora de entrar na criação de conteúdo, e decidiu financiar um filme especial para concluir a trama da série, que havia ficado em um enorme gancho narrativo. Talvez o amor dos fãs tenha sim tido influência nesse estranho resgate.

Dentre os streamings, a Netflix tem a fama de canceladora, mas o Amazon Prime Video também não deixa a desejar. Tudo que não vira um sucesso gigantesco na plataforma é cortado sem mais nem menos (lembra de Panic, por exemplo?), mesmo que tenham potencial para se tornar algo legal no futuro. É o caso de Truth Seekers.

A série sobrenatural de Nick Frost, conhecido por estrelar a Trilogia Cornetto de Edgar Wright, tinha um gostinho de Doctor Who mais puxado ao horror, e foi mostrando sua força ao longo de seus curtos seis episódios. Infelizmente, a plataforma não botou fé no projeto, e em 2021 veio o cancelamento definitivo.

Ainda que sejam muito frequentes, cancelamentos não costumam acontecer tão rápido. Afinal de contas, os executivos precisam ponderar a recepção do público, a audiência, o custo de produção e o potencial de franquia de qualquer produção, o que costumam levar pelo menos um mês ou mais de trabalho. No caso da adaptação live-action de Cowboy Bebop, isso demorou apenas três semanas.

Tudo bem que a série teve uma recepção morna, decepcionando em especial os fãs do anime original, mas o seriado ficou no Top 10 dos mais assistidos da plataforma durante todo o período do lançamento. O cancelamento era certeiro, mas a forma prematura que aconteceu mostra que a Netflix cedeu à pressão da internet.

A injustiça não é que Cowboy Bebop era ótima e foi cortada antes da hora, mas sim que havia potencial para melhorar em uma outra temporada. É um tratamento um pouco estranho visto que Death Note - outra adaptação live-action de anime amplamente odiada - passou por uma situação parecida mas foi presentada com uma continuação.

A HBO Max é um dos serviços de streaming mais novos do momento, tendo sido lançado nos EUA em 2020 - e na América Latina só em 2021. Por conta disso, sua lista de cancelamentos ainda é minúscula, mas não tirou o impacto de Generation ter rodado após uma única temporada.

A série, produzida por Lena Dunham (Girls) e estrelada por Justice Smith (The Get Down, Detetive Pikachu) durou apenas quatro meses. Por mais que o projeto tenha sido pensado para ter várias temporadas, que acompanhariam o crescimento do grupo principal de jovens, Generation não passou de oito episódios, e foi encerrada sem muita cerimônia apesar de ter conquistado uma pequena base de fãs na plataforma.

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