Pânico sempre começa com uma morte em sua cena de abertura, mas o novo filme mira especificamente em recriar a introdução do clássico de 1996, em que Casey (vivida por Drew Barrymore) é assassinada após atender uma ligação do Ghostface.

Dessa vez, Tara Carpenter (Jenna Ortega) dá mais trabalho ao assassino, recusando a ligação algumas vezes antes de começar a bater papo com o invasor. Assim como Casey no original, ela brinca com as facas enquanto fala no telefone, é forçada a responder trivias sobre terror para salvar alguém que ama, e tenta lutar contra o assassino.

Ghostface é um grande cinéfilo, que adora testar os conhecimentos de cinema dos outros. A forma que Pânico encontrou para escapar com toda a sua metalinguagem é ter recriado seus filmes dentro do filme, em uma franquia fictícia chamada Facada. Quando Tara é questionada sobre os atores do longa, ela rapidamente abre uma versão do IMDB para usar de cola.

Como já foi mostrado em outros filmes, o primeiro Facada foi dirigido por Robert Rodriguez (Um Drink no Inferno, *O Livro de Boba Fett) e é estrelado por Tori Spelling como Sidney Prescott, Jennifer Jolie como Gale Weathers, David Schwimmer como Dewey, Heather Graham como a vítima Casey Becker e Luke Wilson** como Billy Loomis. A piada foi tão longe que há várias cenas clássicas refeitas com esse elenco, ao ponto de te fazer acreditar que esse filme realmente existe.

Quando Tara é mandada ao hospital após sobreviver ao ataque do Ghostface, quem entra em contato com sua irmã distante, Sam (Melissa Barrera), é um jovem chamado Wes Hicks, que é do grupo de amigos da vítima.

Ambos os nomes são homenagens a grandes nomes do cinema de horror. Wes vem de Wes Craven, cocriador de Pânico e a mente por trás de A Hora do Pesadelo e muitos outros clássicos que, infelizmente, faleceu em 2015. Já Sam compartilha o sobrenome com John Carpenter, o criador de Halloween, Enigma de Outro Mundo, Eles Vivem! e muito mais.

Uma camada extra de ironia surge quando é revelado que Sam é filha do assassino Billy Loomis, visto que o sobrenome do serial killer é uma homenagem ao doutor Samuel Loomis, o psiquiatra interpretado por Donald Pleasence na franquia Halloween.

Pouco após o ataque à Tara, somos apresentados ao seu carismático grupo de amigos. Dentre eles, está o atleta/nerd Chad Meeks-Martin, que parece ter um caso com Liv McKenzie. Sua parceira afirma que está sendo perseguida por um stalker estranho, e Chad prontamente diz que o colocará para conversar com seus músculos, carinhosamente apelidados de Hobbs & Shaw.

Se você não pegou, esses são os nomes dos personagens de Dwayne ‘The Rock’ Johnson e Jason Statham na franquia Velozes e Furiosos. Qual a conexão com Pânico? As duas são da Paramount, e só.

Sam e Richie decidem ir para Woodsboro para encontrar Tara. Logo que chegam na cidade, o filme mostra o casal passando de carro por uma grande avenida principal, chamada de Rua Elm.

O nome é tirado diretamente de A Hora do Pesadelo (ou Nightmare on Elm Street no original*), a franquia em que o assassino Freddy Krueger atormenta os sonhos dos jovens que moram na Rua Elm. É uma aceno à outra grande saga criada por Wes Craven, que também criou Pânico.

Vale pontuar que a Rua Elm também é citada na abertura do filme, quando Tara responde que é o endereço de Sidney Prescott no primeiro Facada (a versão fictícia de Pânico dentro do filme).

Quando reencontramos Dewey Riley, ele não está na melhor das situações, tendo sido forçado a se aposentar da polícia, vivendo em um trailer e divorciado de Gale Weathers. A repórter, por outro lado, parece estar vivendo uma boa vida, apresentando um jornal matinal direto da cidade de Nova York.

Gale abre o jornal com uma história tocante, que Dewey não consegue ouvir por completo ao ser interrompido por Sam e Richie pedindo ajuda, mas um dos trechos que podemos ouvir traz a jornalista dizendo: “... e é por isso que vocês não devem deixar eu cortar minha franja sozinha de novo!”. No caso, é uma referência ao terrível corte de cabelo que a personagem utiliza em Pânico 3, fortemente zombado pelos fãs - e até pela própria Courtney Cox.

Se essa é a sua primeira vez assistindo Pânico, talvez você tenha estranhado ouvir a música de abertura de Peaky Blinders tocando no som do carro de Vince Schneider (Kyle Gallner). Acontece que a franquia chegou bem antes de Thomas Shelby e seus gângsters britânicos.

“Red Right Hand”, canção do Nick Cave and the Bad Seeds, é o hino não-oficial de Pânico desde 1996, tocando em todos os filmes - com exceção de Pânico 4, por algum motivo. Felizmente, a faixa retorna para o quinto capítulo, e bem em uma cena de assassinato.

O maior erro que a franquia já cometeu foi assassinar o adorável nerd Randy Meeks antes da hora, em Pânico 2. Os dois filmes seguintes tentaram encontrar formas de manter sua presença sem trazê-lo de volta dos mortos, e foi assim que Pânico 3 introduziu Martha Meeks, a irmã do nerd vivida por Heather Matarazzo.

No novo filme, não só Martha está de volta como também é revelado que ela casou e teve gêmeos, os carismáticos irmãos Mindy e Chad Meeks-Martin. Obviamente eles também são obcecados por filmes de terror.

Além do trio principal, há também o retorno da policial Judy Hicks, vivida por Mary Shelton. A personagem foi inicialmente apresentada em Pânico 4 (2011), e trabalhava na delegacia da cidade junto com Dewey. Na época, para tentar conquistar o colega, ela prepara uma baciada de doces de limão - que, claro, despertam a ira de Gale Weathers.

No novo Pânico, Judy se tornou a xerife de Woodsboro, mas não perdeu seu jeitinho. Cuidando do filho Wes, ela deixa um bilhete na geladeira dizendo que deixou doces de limão para o jovem. O problema é que nenhum dos dois terá tempo para comer, né.

Infelizmente, Wes não sobrevive até o final do filme, e é assassinado por Ghostface em sua própria casa, pouco após a morte de sua mãe. Para honrar sua passagem, seus colegas decidem dar uma festa em seu nome na casa de Amber. Assim, Chad levanta um brinde em homenagem ao falecido, dizendo: “Para o Wes”.

É uma homenagem dupla, já que também serve como brinde ao diretor Wes Craven, que faleceu aos 76 anos em 2015, vítima de um tumor no cérebro. Como esse é o primeiro Pânico sem o seu envolvimento, os novos cineastas encontraram uma forma de lhe prestar respeito dentro do filme - ainda que a fala seja repetida logo na conclusão.

Com uma porrada de remédios e hospitalizada, Tara até consegue uns minutinhos de paz antes de voltar para a mira do Ghostface. No pouco tempo em que consegue ficar tranquila em sua cama, ela assiste na TV de seu quarto um episódio de Dawson’s Creek, a popular série adolescente da The WB (antigo nome da CW). Em especial, ela assiste “The Scare”, episódio 11 da primeira temporada que acompanha uma pegadinha de terror para tentar assustar o grupo com a ameaça de um assassino.

Pode parecer uma escolha aleatória, mas há uma conexão muito clara: Dawson’s Creek foi criada e escrita em 1998 por Kevin Williamson, o roteirista e cocriador de Pânico ao lado de Wes Craven. No novo filme, Williamson assina apenas como produtor-executivo, mas os novos cineastas encontraram uma forma de acenar para seus outros trabalhos.

Richie aprende rápido que precisa entender sobre a franquia Facada para sobreviver em Woodsboro. Parte da sua pesquisa inclui assistir aos filmes na Netflix, e também buscar opinião dos outros na internet. Ouvindo sobre como a franquia fictícia descarrilou, ele acompanha dois críticos que destroem o oitavo Facada em um canal no Youtube.

Os apresentadores são a dupla James A. Janisse e Chelsea Rebecca, casal por trás do canal Dead Meat. No Youtube, os dois não só discutem filmes e séries de horror, como também entrevistam personalidades do gênero e listam as mortes de grandes franquias. O casal foi grande apoiador de Casamento Sangrento, filme de 2019 dos diretores do novo Pânico, portanto ganharam um espacinho dentro da franquia que tanto amam.

Em toda a insanidade do Ato 3, quando os assassinos são revelados, Sam Carpenter não perde tempo, e parte para cima de Richie com uma faca em mãos, abraçando o sangrento legado de seu pai.

Além de, claro, ter tirado vidas dentro da casa de Stu Macher, a jovem também puxou do pai o mesmo jeito de limpar o sangue da faca com as próprias mãos.

Randy Meeks já alertou logo no primeiro filme: o assassino sempre volta para mais um susto. E nem mesmo ter a cara desfigurada por fogo impediu Amber de voltar para tentar acertar mais uma facada nas sobreviventes, mas as balas de Tara parecem ter resolvido de uma vez por todas.

Se você acha a atriz de Amber familiar, é porque Mikey Madison protagonizou uma cena parecida em Era Uma Vez… em Hollywood. No filme de Quentin Tarantino, ela interpreta Sadie, uma das discípulas de Charles Manson que é enviada para assassinar Sharon Tate na fatídica noite de 1969. O grupo, porém, acaba entrando na casa de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), e dá de cara com o seu guarda-costas, Cliff Booth (Brad Pitt), que enfrenta os três usando apenas uma lata de comida e um cachorro faminto.

Sadie é a garota que tem o rosto desfigurado pela lata, mas que eventualmente se levanta gritando loucamente com uma arma em mãos, quebra a porta da varanda e cai na piscina de Dalton, onde é queimada pelo ator usando um lança-chamas. Pânico dá um leve aceno a toda essa insanidade, quando Amber se levanta da cozinha com os mesmos gritos insanos, carregando uma faca.