O início do filme já foi um acerto completo, que ditou exatamente o que viria à seguir. Depois da introdução do Abutre e da abertura lindona da Marvel, “De Volta ao Lar” começa mesmo com um daily vlog hilário do Peter mostrando a trajetória dele até os eventos de Guerra Civil.

Além do bom humor e de mostrar o personagem extremamente relacionável - afinal, se nós estivéssemos na mesma situação, nossa reação seria a mesma - essa sequência explora o núcleo do que é o Homem-Aranha dos quadrinhos.

É um espelho cheio de comicidade para o espectador, que te faz criar empatia imediata pelo Peter. Impossível ficar sem dar um sorrisinho em toda essa parte - até os momentos que o trailer já tinha entregado.

Falando sobre o “núcleo” do ser Homem-Aranha, o que faz “De Volta ao Lar” tão bom é que o filme resgata, respeita e atualiza tudo de mais fundamental do herói. Uma das cenas que mais exemplifica isso é quando o Aranha encontra os traficantes de armas - os “Shockers - com o Aaron Davis, do Donald Glover.

Além de mostrar o quão atrapalhado o Aranha é, quando o celular toca e estraga seu esconderijo, a primeira reação do Peter, quando os bandidos levantam as armas, é tirar a atenção do outro rapaz e direcionar os ataques para ele.

Como o próprio Aaron fala depois, isso é muito corajoso e é uma característica do teioso nos quadrinhos essa ideia de se colocar na linha de frente.

Sobre a sequência da balsa: seria melhor se o trailer não tivesse mostrado? Com TODA certeza. Sem os "spoilers" dos trailers a cena dele tentando salvar um barco daquele tamanho, quase se rasgando ao meio, teria sido muito mais épica.

Porém, mesmo não tão mágica assim, esse foi um dos melhores momentos do filme. De novo, é o Aranha atrapalhado, maluco de tudo, tentando parar uma coisa que ele nem sabe direito o que é, mas que tem certeza que é algo ruim. E quando não dá certo, tenta consertar tudo mesmo que custe seu próprio corpo - igual na época do Sam Raimi e o trem, ótima referência, aliás.

Isso ainda leva para um dos momentos mais maduros do Homem de Ferro em todos os filmes do UCM. De novo: teria sido melhor sem ver no trailer? Sim. Mas a cena, com o Tony nervoso, tirando o uniforme do Peter, foi sensacional.

Essa só não perdeu a magia também porque vimos pouco no trailer. As cenas no monumento em Washington, além de serem ótimos momentos de ação, mostram o quão pequeno o Peter é diante de todas essas coisas que ele enfrenta - literalmente. Dá uma agonia até ver ele escalando aquela coisa imensa, correndo, para salvar o pessoal.

Isso sem contar o embate entre ele e o helicóptero e a coragem do rapaz de fazer aquele salto muito louco e ainda conseguir parar o elevador depois. Tudo fecha com a melhor referência, com o Aranha de cabeça pra baixo e a Karen falando para ele se declarar para a Liz e possivelmente repetir aquele beijo clássico. 10/10.

“De Volta ao Lar” acerta mais quando faz menos, quando é simples. Um dos melhores momentos do filme vem quando o Aranha tem que perseguir os vilões no subúrbio e, bom, lá não tem prédios para ele balançar, né?

Só o Aranha - e possivelmente o Deadpool - fazem coisas desse tipo, de correr por uma vizinhança, tropeçando em tudo, para perseguir uma van. O Peter é até arrastado pelos cantos, tem que atravessar cercas, assusta o pessoalzinho de boas, tentando parar os bandidos.

É por isso que podemos dizer com todas as palavras que essa é a melhor adaptação do herói. Isso ainda com uma referência a “Curtindo a Vida Adoidado” descaradíssima.

Outra cena que sofreu o problema trailer: os momentos finais, no avião. De novo: se não estivessem na divulgação, seria tudo MUITO MAIS épico.

O Aranha literalmente manobrou um avião do lado de fora, enquanto lutava contra o Abutre. Quer coisa mais legal e mais quadrinhos que isso?

Precisamos falar também sobre pequenos momentos. Por exemplo, a cena em que o Ned descobre que o Peter é o Homem-Aranha é hilária.

A cara do rapaz enquanto o Peter tenta explicar, arrancando o uniforme, e depois as perguntas sobre como os poderes do protagonista funcionam: tudo genial e relacionável. O Ned é uma das melhores coisas do filme, na real.

Claro, o confronto final com o Abutre TEM que entrar no topo da lista. O vilão já é um dos melhores - senão o melhor - da Marvel nos cinemas e a sequência final, depois que o avião caiu, entre ele e o Peter é de arrepiar.

Os dois estão desgraçados, os dois não aguentam mais, mas eles continuam, persistem, lutam e, no fim, o filme vai lá de novo e resgata a essência do Homem-Aranha: o herói fica desesperado porque seu rival pode morrer. Ele vai e salva o Abutre. Isso é épico demais.

Ainda bem que não entregaram isso no trailer. Diretamente de “Espetacular Homem-Aranha 3”, vimos uma das cenas mais clássicas do Aranha ser adaptada para o cinema de forma magistral.

O Peter na pilha de escombros, quase desistindo, é diferente nos quadrinhos, quando ele lembra da Tia May e do Tio Ben, não do Tony, para se inspirar. Porém, o efeito é o mesmo. Quem conhece a HQ se arrepiou e quem não conhece foi na onda também.

Mas a nossa medalha de ouro vai para o grande plot twist de “De Volta ao Lar”. Quem aí não deu uma suspirada tensa quando o Peter bate na porta da Liz para levá-la ao baile e quem atende é o Abutre?

TODA a sequência, desde que a porta abre, até o momento da conversa final do carro, é completamente carregada, desconfortável e incrível.

Michael Keaton e Tom Holland estão de parabéns só por esse momento, quando o Peter não consegue esconder sua identidade e o Adrian descobre tudo só com uma conversinha e não poupa esforços para tentar acabar com a ameaça depois.

Quem disse que um gancho no final do filme não é bacana?

Tudo estava bem, estávamos todos calmos, já estávamos pensando na cena pós-créditos e então… a May vê o Peter no uniforme do Aranha e solta um “WTF”! E agora, o que vai rolar na vida do teioso?

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