Embora muitos fãs ainda esperneiem, Daenerys Targaryen nesse episódio mostrou a que veio. Após dizimar uma cidade cheia de inocentes, a Mãe dos Dragões finalmente celebrou com seus exércitos a vitória em Porto Real, mostrando mais uma vez o quão pouco valor tem dado a vidas humanas, especialmente inimigas.

O discurso que ela dá para seus aliados é sintomático disso. Apesar dela falar de liberdade, sua mente está na guerra e em todas as (possíveis) ameaças ao seu trono. No meio disso, floresce a chama da Daenerys tirana, que já havia sido construída há algumas temporadas. E isso força os guerreiros restantes a tomarem uma decisão.

A prisão de Tyrion Lannister compõe um dos pontos altos do episódio. É incrível ver como o anão se torna um refém por defender a vida de inocentes, enquanto Daenerys se prova cada vez mais dissimulada, como sua família. Entretanto, o destaque vai para o momento em que ele é visitado por Jon Snow em sua cela.

A conversa dos dois é fundamental, conforme Tyrion tenta convencer um Jon ainda incrédulo do perigo que a Mãe dos Dragões representa no trono, especialmente para a Casa Stark. Além disso, Tyrion enumera todos os momentos anteriores em que Daenerys mostrou seu lado tirânico - por mais que muitos ainda queiram não enxergar isso.

Por mais que Daenerys Targaryen tenha se tornado, no fim, a maior vilã de Game of Thrones, sua morte é muito aquém do que esperávamos. É incrível notar como o romance com Jon Snow a deixou boba e fraca, sendo incapaz de perceber a óbvia traição que o beijo precede. É um momento bem banal, que não faz jus ao legado da Quebradora de Correntes.

E se a morte, por si só, já é ruim, as consequências são ainda piores. É absurdo imaginar que os Dothraki e os Imaculados, fieis seguidores de Daenerys, não mataram Jon Snow após sua traição. E para coroar essa cena absurda, ainda temos Drogon se portando de forma quase humana, e carregando sua "mãe" para longe.

Ainda assim, algo se salva dessa cena - e trata-se do momento em que Drogon destrói o Trono de Ferro com suas chamas, representando o fim definitivo da Guerra dos Tronos e do poder centralizado de Westeros. É uma cena simples, mas que possui uma simbologia muito importante para a construção da série até aqui.

No fim das contas, a maior criação da Mãe dos Dragões - que prometeu quebrar as correntes e acabar com a tirania, mas acabou se provando a mais tirana de todas - realizou a tarefa que Daenerys se propôs a fazer. Ainda assim, nos questionamos por que Drogon não acabou com Jon Snow quando teve a chance. Seriam os dragões mais racionais que os humanos?

Embora momentos auto-referenciais e que quebram a quarta parede às vezes sejam interessantes, não podemos negar que esse aqui foi um belo dum estrume. Entendemos a "homenagem" que queria ser feita com George R.R. Martin e a obra que baseou a série, mas a cena só se provou brega e definitivamente constrangedora.

Não havia motivo para apresentar a versão de Westeros de As Crônicas de Gelo e Fogo, e é pior ainda pensar que Tyrion Lannister, uma das maiores peças desse conflito, tenha sido omitido da trama. Eles miraram no que O Senhor dos Anéis e O Hobbit fizeram, mas falharam miseravelmente.

Embora seja realmente questionável a participação de Tyrion Lannister nessa cena - afinal de contas, como um prisioneiro dos Dothraki e dos Imaculados poderia ser levado a uma assembleia e, ainda por cima, decidir os rumos de Westeros? -, mas não podemos deixar de citar o momento em que ele é coroado a Mão do Rei.

Isso condiz certamente com o arco do personagem e mostra como sua vida passou por uma grande transformação, desde que o vimos pela primeira vez nas ruas geladas de Winterfell. Além disso, não deixa de ser uma pena perpétua, afinal pesado é o dever daquele que precisa aconselhar o Rei dos Sete Seis Reinos

Sem dúvidas, a pior decisão do episódio foi fazer de Bran Stark o novo rei de Westeros. Isso quebra completamente com o que o próprio personagem já estabeleceu - que não tem interesse no Trono e nem no poder que ele carrega. É uma decisão estapafúrdia e que faria mais sentido se alguém simplesmente sorteasse o seu nome.

E a desculpa de Tyrion Lannister para elegê-lo como rei é igualmente desestruturada. "O Rei das Histórias" é algo completamente sem noção. E considerando o quanto Bran já se provou um personagem insosso, que só se preocupa com os deveres do Corvo de Três Olhos, vemos aqui a pior escolha possível para o Trono de Ferro.

Entretanto, os outros Stark foram bem agraciados com um fim decente. Jon Snow, apesar do receio de alguns fãs que fosse se tornar o novo rei de Westeros, acabou sendo mandado para a Muralha por ter assassinado Daenerys Targaryen, para pagar a dívida com os exércitos da mulher e impedir uma guerra.

É um final agridoce, mas que combina com a trama estabelecida para o bastardo ao longo da série. Agora, despido de sua família e de sua nova identidade - Aegon Targaryen, ele encontra um novo lar além da Muralha, onde se reencontra com seus antigos aliados, como Tormund. Agora, ele tem sua chance de recomeço.

Arya Stark sempre foi uma aventureira. Ela nunca se viu como uma dama, usada como moeda de troca na união de duas casas. Em vez disso, ela sempre foi curiosa, rebelde e atrevida. E é por isso que seu final é um dos encerramentos mais condizentes para a história da série, conforme ela parte para desbravar o que há a oeste de Westeros.

Após várias temporadas em que ela se prova uma assassina fria e calculista, é interessante ver essa nova "mudança de ares", de forma que ela possa finalmente ter uma vida diferente - embora não mais tranquila. Além disso, parece o mote perfeito para um spin-off, dentre os vários que estão sendo desenvolvidos pela HBO.

Por mais que Game of Thrones tivesse dado destaque a uma grande variedade de personagens, no fundo, a série sempre explorou os Stark e o Norte como seus verdadeiros protagonistas. Basta ver todos os grandes eventos que aconteceram em Winterfell - a Batalha dos Bastardos, a Longa Noite... até mesmo eventos fora do Norte eram protagonizados pelos Stark

Por conta disso, ficamos mais do que felizes em ver Sansa Stark declarando a independência do Norte, que deixa de ser um dos Sete Reinos de Westeros. É um fim digno para esse povo que sofreu tanto nessas oito temporadas, e que finalmente possui uma líder em comum. A coroação de Sansa Stark é definitivamente um dos maiores destaques do episódio.