Logo na cerimônia de abertura tivemos uma grata surpresa no meio de algumas decepções. Este costuma ser o momento das referências mais diretas e extravagantes, mas devido ao momento complicado em que vivemos, a apresentação foi muito mais contida do que o normal. É uma pena, mas não poderia ser diferente.

Mas para o alento dos gamers de plantão, a entrada oficial das delegações internacionais aconteceu com uma trilha sonora cheia de nostalgia. Foram as músicas mais populares dos videogames que embalaram a entrada dos atletas, com direito a trilhas de Dragon Quest, Final Fantasy, Kingdom Hearts, Monster Hunter, Chrono Trigger, Tales of, PES e outras.

Avatar: A Lenda de Aang não é bem um anime, mas está no coração de otakus ao redor do mundo. E foi um desses fãs mais devotos que resolveu fazer uma homenagem bastante inusitada ao protagonista da série. O windsurfista Kiran Badloe competiu nas Olimpíadas com um corte de cabelo diretamente inspirado na seta de Aang, o famoso Avatar.

Parece que canalizar o mestre do ar deu muito certo. Em um esporte tão dependente do vento, Kiran deslizou pela competição como um verdadeiro dobrador e conseguiu conquistar a medalha de ouro. Em seu Instagram pessoal, ele confirmou sua homenagem e agradeceu ao personagem pela inspiração. Medalha para a Nação Avatar!

Jogadores de Pokémon sabem o quão precioso pode ser um Pokémon Lendário. Alguns mais fujões — como Raikou, Entei e sua laia — evocam um sentimento de conquista nos jogos principais. Os Lendários Shinys, de coloração rara, despertam um alívio quando finalmente aquietam na pokébola em Pokémon Go. Para Noah Lyles, este é o sentimento de conseguir uma medalha olímpica.

Medalhista de bronze nos 400 metros do atletismo, foi com essa analogia que o americano descreveu a sua vitória no Twitter. E esta não foi sua única referência a cultura pop japonesa: ao ganhar, o atleta comemorou envolto na bandeira estadunidense imitando um kamehameha, golpe lendário de Dragon Ball.

E dá para alguém falar de animes de qualidade sem mencionar o estúdio Ghibli? Bem… Até pode, só não deve. Por isso não poderia faltar uma colaboração entre ex-artistas do estúdio e o Comitê Olímpico. Para espalhar o espírito olímpico, os animadores foram contratados para preparar um curta especial para o evento.

Chamado de “Tomorrow’s Leaves”, a história dura cerca de 8 minutos e narra uma competição entre crianças em uma ilha mágica, onde espíritos da natureza coexistem com humanos. A trama mostra uma corrida para salvar o lugar das mudanças climáticas, uma mensagem bem importante neste momento crítico em que a ONU declara que está tarde demais para impedir o cataclismo causado pelo aquecimento global.

Se tem um esporte onde esperamos música de anime são as apresentações de ginástica. Este ano não foi diferente — com o time de Ginástica Artística do Uzbequistão performando sua rotina ao som de Sailor Moon — mas os animes invadiram diversas outras modalidades. Especialmente nas partidas em que o Japão competia.

Começou com o Arco e Flecha, que pudemos ouvir uma música de Shingeki no Kyojin que combinava bastante com o momento, na partida entre EUA e Indonésia. Mas depois saiu do controle: tivemos Slam Dunk no basquete, muito Haikyu!! no vôlei, Ghost in the Shell no judô, Tokyo Revengers na ginástica artística, Naruto no hipismo… Quando Blue Bird começou a tocar, eu quase não acreditei!

Falando em Naruto... Esperava apresentadores de programas jornalísticos sérios fantasiados de personagens de Naruto durante a cobertura do evento? Só em um lugar do mundo seria louco pelo anime o suficiente para fazer isso: claro que o próprio Brasil.

Durante a transmissão oficial de uma das competições, um apresentador entrou com um cosplay completo de Jiraya, o padrinho do Naruto. Em outro momento, foi uma dupla de repórteres que surpreendeu o público: eles apareceram transformados em Naruto e Sakura, na fase Shippuden. Isso a Globo mostra!

Um risco de fazer as Olimpíadas no Japão é que você nunca sabe quando vai se deparar com um mecha gigante estacionado casualmente por aí. Foi o que aconteceu durante a competição de triatlo! Espectadores mais atentos perceberam que os atletas estavam sendo acompanhados pelo olhar atento do Gundam.

O robô gigante pôde ser visto no fundo de um trecho da prova de ciclismo. Logo depois ele ficou ainda mais em evidência durante o segmento de escalada, bem no fundo da cena dando aquela força aos atletas. Quem não ia adorar ter um mecha dando apoio moral?

Você sabia que One Piece é um verdadeiro fenômeno mundial, quebrando recordes de vendas até os dias de hoje? Pode ser difícil de visualizar, mas depois das Olimpíadas vai ser impossível esquecer. Diversos atletas aproveitaram o clima nipônico para fazer poses inspiradas nos personagens de Eiichiro Oda.

No Salto a Distância, o medalhista de ouro grego Miltiadis Tentoglou entrou com a pose “Gear Second”, inspirada no Luffy. Payton Ottherdal, americano medalhista de ouro no arremesso, homenageou o carpinteiro Franky com a pose “Super”. Outro medalhista de ouro, o italiano Massimo Stano, fez a “Third Gear”. O gesto não passou batido pela equipe do mangá que preparou artes para celebrar as conquistas dos atletas em suas respectivas línguas. Mas que pé quente do bando dos Chapéus de Palha, hein?

Foi tudo muito bom. Tudo muito bem. Os atletas brasileiros saíram com muitas medalhas em esportes inéditos. Marcamos história como primeiros medalhistas do skate e do surfe, mas as Olimpíadas guardavam uma última referência para qualquer otaku que ainda acompanha os animes surtar!

Na cerimônia de encerramento, aconteceu uma performance orquestrada instrumental incrível da abertura de Kimetsu no Yaiba, o querido Demon Slayer. A música se chama Gurenge e teve direito até a uma coreografia animal. Paris, a próxima cidade a sediar as Olimpíadas em 2024, vai precisar suar para superar isso. Haja croissant, mon amour!

Mas pera, não esquecemos ninguém? O convidado especial que surpreendeu a todos no encerramento das Olimpíadas do Rio, em 2016, Super Mario não deu as caras na cerimônia de sua própria nação. Tudo consequência da pandemia de covid-19 que forçou o adiamento das Olimpíadas e a insistência em realizar o evento na iminência de uma nova onda do vírus.

Originalmente, Mario estaria presente na abertura de forma digital. Provavelmente um holograma que não é incomum em shows por lá. Mas a Nintendo desistiu da proposta, muito provavelmente temendo os protestos que aconteceram contra a realização do evento. Akira também faria parte da abertura, o que é mais perturbador porque o filme previu as Olimpíadas no país e que haveria protestos. Isso lá em 1988! Surreal.