Talvez a maior surpresa é a maneira como o roteiro retrata Superman — não como uma divindade inalcançável vinda do espaço, mas como alguém que se importa demais com as pessoas, que usa seus poderes para ajudar sempre que possível e que coloca a vida humana acima de qualquer missão. Uma mudança bem-vinda depois de alguns anos com um herói cético, sombrio e quase sanguinário nas telas do cinema.

O herói acerta na simplicidade. Entre as cenas mais elogiadas dos primeiros episódios está o momento em que o Superman, após bagunçar a cidade depois de enfrentar um vilão, gasta alguns minutos para colocar tudo no lugar, da melhor forma possível. Nesta versão, ele representa de fato a esperança de Metrópolis e alguém em quem o povo pode confiar.

Muita gente tem dificuldade de se conectar com o Superman por não se ver representado nos problemas de um alienígena com poderes basicamente ilimitados. Consciência de classe, não é mesmo? Felizmente, a série sabe que existe um jeito mais efetivo de criar uma identificação com o herói: focar em sua vida humana e suas relações sociais, tão complicadas quanto as de qualquer outro mero mortal.

Afinal, a animação não se chama “Minhas Aventuras com o Superman” à toa — a grande estrela não é o herói de capa, mas sim como a vida de seus amigos fica mais mágica depois de conhecê-lo. A trama dá um grande destaque para Lois Lane, descendente de coreanos nesta encarnação, e Jimmy Olsen, que é negro como na série Supergirl.

A dinâmica do trio de protagonistas funciona muito bem, mas acima de tudo a personalidade de cada um é absurdamente cativante. Impossível não se apaixonar pelos três! Clark Kent, o garoto introvertido da roça, é um grande bobão inocente sob uma montanha de músculos.

Lois Lane é a empolgação em pessoa. Imprevisível, decidida, dedicada e imparável — ela é uma verdadeira força da natureza que faz as coisas acontecerem. Sua curiosidade é a chave para sempre continuar avançando a história. E por fim, Jimmy Olsen lembra bastante o Arqueiro da nova versão de She-Ra. Ele é adorável, faz tudo por seus amigos, tem uma fixação peculiar por criptídeos e lendas urbanas e tem uma lealdade inabalável.

A conexão entre Clark e Lois é quase instantânea e rende vários momentos fofinhos. A paixão entre os dois floresce de uma forma muito natural, em momentos fofos entre missões e reportagens. Prepare-se para cenas de romance e uma tensão sexual absurda entre o casal mais querido da DC Comics.

My Adventures with Superman mergulha fundo na rotina de uma redação jornalística. Clark e Jimmy acabaram de ser contratados como estagiários do Planeta Diário e seguem sempre as ideias mirabolantes de Lois, sua veterana, para seguir matérias perigosas quando deveriam estar pegando café ou pesquisando as notícias mais tediosas possíveis.

Ver o trio na base da cadeia corporativa é uma mudança muito bem-vinda, porque se afasta daquela ideia glorificada de jornalistas. É perrengue atrás de perrengue, veteranos querendo roubar seus créditos, chefes que não acreditam no seu potencial… E juntos eles superam cada obstáculo enquanto esbarram nos mais perigosos vilões. O verdadeiro desafio é derrotar esses super criminosos sem perder o emprego para pagar o aluguel no fim do mês.

Falando nos super criminosos, todos sofrem uma repaginada para lá de criativa, deixando de lado uma origem super mirabolante para algo muito mais fácil de acontecer no mundo real. A intenção do roteirista é encaixar todos em um único enredo misterioso que está se encaminhando para um final bombástico.

Curto-Circuito, Exterminador, Parasita, Amanda Waller… Todos são amarrados cuidadosamente em uma única trama que está interligada com a enigmática origem do Superman. Há um ódio pelo que o herói representa ligado com um passado que nem ele conhece e analisar cada nova pista do que pode estar acontecendo é muito empolgante.

E de bônus, a nova interpretação de Cérebro e Monsieur Mallah é simplesmente perfeita. O casal deixa de lado a sua vilania para abraçar uma história mais ambígua relacionada a Cadmus que desencadeia uma série de revelações e mudanças na série.

A primeira temporada de My Adventures With Superman tem apenas dez episódios. Pouco, eu sei, mas isso garante que os roteiristas não percam um segundo sequer enrolando. Sempre que uma nova trama surge, ela é prontamente desenvolvida em um ou dois episódios e resolvida, para abrir espaço para ideias novas. Nenhum mistério fica muito tempo sem solução e assim o público fica sempre envolvido, imerso na trama.

Para fechar, mas não menos importante, Minhas Aventuras com o Superman é cheio de referências a animes. O próprio estilo da animação é claramente uma daquelas tentativas americanizadas de simular desenhos japoneses, o que não é nem um pouco um problema. Só deixa os personagens mais expressivos e a ação mais impressionante.

Entre os easter eggs, existem conexões nada sutis à Sailor Moon, Dragon Ball, Gurren Lagan e até mesmo aos jogos de Kingdom Hearts.