Mulher-Gato: Qual a melhor e a pior versão live-action da personagem? Confira o ranking
Mulher-Gato: Qual a melhor e a pior versão live-action da personagem? Confira o ranking
Qual é a melhor Mulher-Gato em live-action?
Ao longo dos anos, tivemos oito mulheres incríveis encarnando uma das personagens mais interessantes e complexas da DC Comics: a Mulher-Gato. Carregada de sensualidade, ela é uma figura bastante imprevisível que conquistou o coração do Batman e dos fãs.
Ganhando cada vez mais importância no mundo dos quadrinhos, animações e jogos, ela também brilhou em live-action, aparecendo em séries e filmes. Mas com a chegada de The Batman, que presenteia os fãs com uma nova Selina Kyle, fica o questionamento de qual versão da Mulher-Gato em live-action foi a melhor.
Para tentar sanar esta dúvida, preparei uma lista ranqueando as versões que a personagem já teve nas telonas e nas telinhas, da pior para a melhor. Bora lá?
Lee Meriwether (Batman: O Homem-Morcego)
Em 1966, as aventuras da série de TV do Batman protagonizadas por Adam West foram para as telonas, com o filme Batman: O Homem-Morcego sendo lançado apenas algumas semanas após a conclusão da primeira temporada do seriado. Contudo, ao invés de trazer Julie Newmar de volta ao papel de Mulher-Gato, a gatuna foi vivida por Lee Meriwether, que era bem parecida com a outra atriz.
Esta é uma produção que precisa ser avaliada levando em conta os padrões da época e da proposta da série do Batman, contudo, dá para dizer que no que diz respeito a Selina, a versão de Lee deixa a desejar -- o que não é necessariamente culpa da atriz, mas sim da maneira que mulheres eram escritas naquela década.
Em um filme cuja trama principal é reunir os vilões do Batman, Selina tem pouquíssimo destaque, sendo utilizada apenas para seduzir Bruce Wayne. Não há muito na personagem além disso, nem mesmo as aspirações mais vilanescas da versão de Newmar. Tudo isso é posto de lado para que ela seja uma femme fatale e tente manipular o herói. Com isso, uma vez que a Mulher-Gato é apagada da trama em detrimento dos outros antagonistas do filme, ela acaba ficando em último lugar.
Além disso, Lee não trouxe nada de especial ou novo para sua personagem, até porque sua missão era tentar ser o mais parecida possível com Julie. Com isso, o que temos é uma personagem muito aquém do que as outras posições desta lista.
Julie Newmar (Batman)
No começo de tudo, lá na série do Batman do anos 1966, Julie Newmar foi a primeira pessoa a encarnar a Mulher-Gato. Na época, ainda não havia muito interesse em produções de heróis e menos ainda no papel de Selina, com isso, a jovem atriz de Hollywood não enfrentou nenhuma concorrência em sua seleção.
Tudo isso mudaria após o sucesso da série e, principalmente, da performance de Newmar, que conquistou uma geração com sua sensualidade e beleza. Em Batman, Selina era a líder de um bando de bandidos, agindo com seus capangas com o objetivo de coletar todas tudo que fosse valioso e remetesse aos gatos.
Contudo, por mais que a série explorasse seu comprometimento com seus interesses criminosos -- algo bem incomum para os padrões da época --, esta Mulher-Gato era utilizada principalmente como interesse romântico para o Batman. Entre provocações e piadas, os dois viviam um jogo de gato e rato, que muitas vezes distraia a personagem dos seus objetivos maléficos.
Newmar entregou uma ótima performance, sendo lembrada até hoje por isso, ainda que seu papel fosse marcado pelos clichês da época. Apesar disso, ela foi essencial na popularização da personagem, dando inicio as grandes versões da anti-heroína que já vimos em live-action.
Halle Berry (Mulher-Gato)
Ah, a Mulher-Gato de Halle Berry… O que falar da Mulher-Gato de Halle Berry? Eu sei que muitos estavam esperando que ela ocupasse o último lugar deste ranking, mas a verdade é que ela não é tão ruim assim. Calma, também não estou dizendo que o filme é perfeito, mas é que esta versão da personagem é bem interessante.
Halle Berry é a única desta lista que pôde interpretar a Mulher-Gato em um filme solo, sem qualquer menção ao Batman. Infelizmente, ela também não encarnou Selina Kyle. É isso que muitas pessoas que criticam o filme esquecem: ainda que este seja um filme da DC Comics, ele não adapta a personagem dos quadrinhos, sendo uma versão única criada especificamente para o filme.
Halle vive Patience Phillips, uma artista que após ser assassinada é ressuscitada por um gato, recebendo os poderes de Bastet, a deusa egípcia dos gatos, e se tornando a Mulher-Gato. Assim, vemos a anti-heroína deixando sua personalidade tímida para trás e assumindo uma personalidade mais confiante e decidida, enquanto utiliza suas novas habilidades para roubar e conseguir vingança. Por mais que elementos dessa trama sejam parecidos com a história de Selina vivida por Michelle Pfeiffer, esta é uma personagem completamente nova.
Claro, há de se reconhecer que o filme erra a mão na maneira que exagera na sexualização da personagem -- é o traje mais revelador que a Mulher-Gato já teve em live-action -- e sua trama também não é lá muito original. Entretanto, o longa se permite explorar uma ideia bastante interessante de dar super-poderes para sua protagonista, transformando a gatuna em uma vigilante que é quase um avatar divino (apesar disso não ser tão explorado quanto poderia).
O problema é que, mesmo com algumas ideias interessantes, o filme acaba sendo um produto da sua época. Ou seja, para compensar problemas no roteiro, a sensualidade era exagerada, assim como um plano de fundo mais sobrenatural e mágico que estava em alta em outras produções.
Mesmo assim, Halle (que não merecia o hate desproporcional que recebeu) se entrega à Patience e realmente se diverte na performance exagerada e caricata. Sua Mulher-Gato tem alguns dos aspectos clássicos de Selina -- interesse no luxo, capacidade de roubo, o chicote e as garras, a sede por vingança… -- mas também ganha uma camada única através dos seus poderes.
Levando tudo isso em consideração, e o fato de que, até os dias de hoje, Mulher-Gato é o único filme solo de uma “super-heroína” negra que já tivemos, é preciso rever este clássico moderno com outros olhos.
Anne Hathaway (O Cavaleiro das Trevas Ressurge)
Você provavelmente deve estar se perguntando por qual motivo a Mulher-Gato de Anne Hathaway, que apareceu em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, ficou de fora do Top 3. Infelizmente, em um filme que tem tanta coisa acontecendo -- e seus próprios problemas no desenvolvimento de certos arcos -- Selina não brilha tanto quanto poderia.
Na trama, Selina está desesperada por uma segunda chance, chegando a se envolver com criminosos para conseguir tentar apagar seu próprio passado. Com isso, vemos principalmente suas características de ladra e a maneira que ela manipula as pessoas ao seu redor, algo que é feito em cenas maravilhosas como o primeiro encontro com Bruce e o tiroteio no bar.
Por mais que Christopher Nolan seja elogiado como um dos maiores cineastas quando se trata de filmes de herói, sua trilogia não dá muita atenção para as protagonistas femininas (já reparou como temos poucas mulheres com falas e desenvolvimento orgânico nos três filmes dele?). Há uma tentativa de corrigir isso com Selina, que possui uma narrativa complexa e é mais do que apenas um interesse amoroso para o Batman.
Contudo, a trama dela acaba se perdendo no meio do filme e seu principal problema se torna justamente o Morcego de Gotham. O relacionamento dos dois é desenvolvido de uma forma tão rápida -- e em meio a tanta coisa -- que isso acaba desfavorecendo Selina. Além disso, chega a ser difícil engolir a velocidade em que o relacionamento dos dois se desenvolve, o que também afeta negativamente na mudança que a anti-heroína sofre.
No fim, ainda é uma personagem boa, interpretada por uma excelente atriz, e que entrega uma versão diferente do que havíamos visto até aquele momento. Porém, infelizmente, ela se perde no meio de tantas tramas -- como Bane, Talia, o caos em Gotham e o retorno do Batman -- e vemos apenas a superfície de uma personagem que coleciona alguns bons momentos no filme.
Eartha Kitt (Batman)
Antes de falar sobre a Mulher-Gato de Eartha Kitt é preciso falar sobre alguns fatores importantes. Apesar do racismo continuar sendo um problema mundial, na década de 1960 a situação era ainda mais complexa: a segregação racial estava começando a ser derrubada aos poucos, em um processo absurdamente lento. Para contextualizar, apenas em 1964 e 1966 é que a constituição estadunidense garantiu, respectivamente, os direitos civis e o direito ao voto sem discriminação racial. Então como Eartha acabou sendo uma das grandes personagens da imensamente popular série do Batman de 1966?
Ganhando destaque em Hollywood e em sua carreira musical, Eartha Kitt foi escolhida para viver a Mulher-Gato após a saída de Julie Newmar do papel, em 1967. Na época, a decisão foi vista como algo extremamente polêmico, especialmente por conta da mudança de etnia da personagem.
O racismo da época também afetou no desenvolvimento da personagem. Naquela década, a população racista achava absurdo um relacionamento interracial, motivo pelo qual qualquer interesse amoroso entre Batman e Selina -- que já existia na série -- foi completamente descartado. No lugar, a produção investiu mais nas características criminosas da Mulher-Gato, que se tornou uma ladra mais qualificada e com planos mais grandiosos de vilania (o que, de novo, era resultado dos estereótipos racistas da época).
Ainda que haja muito a ser problematizado e questionado, a Mulher-Gato de Eartha Kitt é simplesmente um ícone, que inclusive é muito elogiada nos dias de hoje. Afinal, foi ela a grande responsável por deixar a anti-heroína mais interessante e moldar diversos dos trejeitos icônicos da personagem -- como sua personalidade felina, o ronronar durante suas frases e a atitude mais imprevisível. A atriz trouxe um humor e vida que, até então, ela não possuía, se tornando incomparável com qualquer Mulher-Gato que veio antes e depois dela.
No fim, Eartha Kitt trouxe complexidade para Selina, que até aquele momento servia apenas para seduzir Bruce Wayne (sendo este um dos motivos pelo qual a personagem foi criada nos quadrinhos, inclusive), mostrando mais da personagem para além do romance. Além disso, ela também abriu as portas para que a personagem não fosse representada apenas como uma mulher branca, o que, consequentemente, acabou aparecendo na Selina de todas as mídias.
Camren Bicondova (Gotham)
Sim, a série Gotham teve inúmeros problemas no enredo das suas temporadas, mas é inegável que tivemos bons personagens e escolhas interessantes nos rumos que as histórias tomaram. Em meio disso, surgiu uma Selina Kyle adolescente, interpretada por Camren Bicondova, que conseguiu explorar muito bem todo o rico potencial da sua personagem.
Começando como uma ladra em situação de rua, a Selina de Gotham passou por maus bocados, tendo que lidar com a máfia, policias corruptos e todo o caos que imperava na cidade, muitas vezes trabalhando para ou junto dos grandes vilões. Mas em meio a isso, surgiu uma grande conexão com o jovem Bruce, que ainda estava tentando entender sua própria identidade após se tornar um órfão, o que resultou em momentos de heroísmo e sequências de ação que mostravam o melhor da gatuna.
E ao colocar Selina nesta encruzilhada entre dois mundos, o do heroísmo e o da vilania, é que tivemos uma personagem complexa muito interessante de se acompanhar. Construída desde o começo como uma anti-heróina que, por conta das condições de sua vida, aprendeu que para sobreviver é preciso lutar com unhas e dentes. Além de servir como uma personagem própria, ela também se tornou um ótimo contraponto para a desigualdade social, mostrando seu mundo sombrio e violento -- ou seja, como Gotham realmente é -- para Bruce, imerso em toda a riqueza e “nobreza” dos Wayne.
Apesar da pouca idade, Camren Bicondova entrega uma uma atuação que vai se aprimorando com o tempo -- uma vantagem e tanto do formato em que essa história estava sendo contada -- e consegue continuar cativando o público com a complexidade da Mulher-Gato, mesmo quando a própria série não sabia muito bem o que fazer com a personagem.
Michelle Pfeiffer (Batman: O Retorno)
Eu sei, no coração de muita gente, a Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer é simplesmente a personificação da personagem. Mas então por qual motivo ela não ficou em primeiro lugar?
Antes de mais nada preciso dizer que eu amo essa versão da personagem. Afinal é impossível não ser cativado por toda a loucura desta versão da Selina, que chega com uma roupa espalhafatosa, trejeitos exagerados e uma história surpreendentemente sombria. Como não ficar encantado pelas cenas dela com o chicote, suas frases de efeito ou sua relação intensa com o Morcego? Ela é simplesmente icônica.
Ela fica ainda melhor quando levamos em conta a época em que o filme foi lançado, lá na década de 1990, em que personagens femininas não eram trabalhadas de forma tão complexa como é o caso desta Mulher-Gato, que não é nem vilã ou heroína, mas as duas coisas ao mesmo tempo. O grande problema é que, assim como o Pinguim, Batman: O Retorno erra a mão ao criar vilões caricatos demais. Apesar de serem incríveis e divertidos, eles acabam sendo reduzidos a poucos traços de personalidade e características marcantes, o que significa que, no fim, não vemos todo potencial deles.
Assim, ao longo de todo o filme, o que vemos é basicamente a trágica história de uma Selina Kyle que enlouqueceu após o trauma que sofreu -- uma versão clássica da história da personagem nos quadrinhos --, criando uma nova personalidade para lidar com o acontecido e a maneira que era tratada antes da sua reinvenção. Por mais que isso seja incrível para a época, a personagem tem pouco espaço para mostrar outras características marcantes da Mulher-Gato, sendo reduzida a sua insanidade.
De qualquer forma, a performance de Pfeiffer é simplesmente memorável. Mergulhando fundo nesta loucura e nesta Gotham maravilhosamente criada por Tim Burton, a atriz consegue equilibrar a sensualidade de Selina com toda a violência e tragédia que a acompanha, brilhando especialmente nos momentos em que deixa a emoção transbordar e vemos mais da vulnerabilidade que a Mulher-Gato esconde.
Zoë Kravitz (The Batman)
Apesar de ainda não atuar com o nome de Mulher-Gato, a Selina Kyle de Zoë Kravitz já chega em The Batman trazendo toda a essência de uma das melhores personagens da DC Comics. Extremamente cativante, carismática e sedutora, a anti-heroína chega cheia de camadas e apresenta uma personalidade forte e marcante.
Além disso, Selina possui suas próprias motivações e uma relação com Gotham que é muito única -- e bem diferente da que Bruce tem com a cidade. Na prática, isso significa que Matt Reeves e sua equipe conseguiram transportar alguns dos melhores aspectos da Mulher-Gato dos quadrinhos para as telas, fugindo da ideia de que ela é apenas uma mulher enlouquecida com fixação em gatos, uma ladra sem escrúpulos ou parte do romance com o Batman.
Ao mostrar sua relação com o lado “obscuro” de Gotham e com aqueles que são rejeitados da sociedade, Selina se torna a personagem capaz de abalar o mundo de Bruce, questionando seus privilégios, algo que sua contraparte nos quadrinhos também faz. Sem ser heroína ou vilã, ela faz seu caminho buscando por justiça em seus próprios termos, sem medo das consequências.
Por mais que haja (MUITA) química entre Selina e Batman, a personagem não é reduzida a um mero par romântico e também não muda magicamente dos seus ideais e objetivos por conta da sua atração pelo herói. Além disso, mesmo transbordando sensualidade, ela não é sexualizada em nenhum momento. Com isso, ela trabalha ao lado de Bruce como uma igual, o que abre espaço para um desenvolvimento muito mais orgânico da complexa relação entre os dois.
E Zoë consegue dominar a personagem com maestria, entregando tudo que esta nova versão pedia. Tanto as sequências de ação como nos muitos momentos com Bruce, Kravitz simplesmente rouba a cena, mostrando como ela é uma atriz excelente capaz de encarnar a anti-heroína mais querida de Gotham.
Ainda há muito espaço para Selina crescer na ladra ardilosa que amamos, mas todas as bases da sua complexa personalidade já foram muito bem firmadas. O que quer que venha por aí, já temos a Mulher-Gato mais interessante e única de todo o histórico de adaptações da personagem para o live-action.