Não é sempre que a Netflix nos presenteia com bons sustos, mas 2022 nos trouxe um filme terrivelmente horripilante com Marcas da Maldição, um horror taiwanês dirigido por Kevin Ko. Na trama, seguimos um assustador found footage conforme a protagonista implora ao público para tomar bastante cuidado com a terrível Mãe-Buda.

Fazendo um belo uso do recurso de filmagem encontrada, o filme surpreende pela sua quebra de quarta parede e pela construção de imagens que vão nos marcar para sempre. É a prova de que existe terror além dos Estados Unidos e que certas maldições devem ser deixadas de lado, caso contrário perderemos a nossa sanidade.

Baseado no conto homônimo de Joe Hill, O Telefone Preto nos guia ao lado de uma criança sequestrada por um assassino perturbado. A vítima então recebe ajuda de outras crianças mortas para escapar de seu cativeiro, através de um telefone preto que aparentemente possui vida própria, tudo isso enquanto a cidade inteira se mobiliza para encontrar o serial killer.

Ainda que não seja tão assustador quanto o terror anterior do diretor, A Entidade, O Telefone Preto certamente ganha pelo carisma dos seus personagens e pela atuação monstruosa de Ethan Hawke. É um filme cheio de momentos tensos e que traz alguns bons sustos, ao mesmo tempo em que nos faz torcer pelo protagonista.

2022 foi o ano de retorno de várias franquias, e a que mais nos surpreendeu foi justamente a do Predador, que retornou com o ótimo Predador: A Caçada. Ambientado no Século XVIII, o filme segue uma guerreira nativo-americana, que precisa usar toda sua inteligência para enfrentar o alienígena caçador da raça Yautja.

Brilhantemente protagonizado por Amber Midthunder, o filme conta com momentos de tirar o fôlego e não economiza na ação, ao mesmo tempo em que tem muito a dizer sobre colonizadores e a resistência dos colonizados. É um ótimo recomeço para a franquia, especialmente após o péssimo O Predador, de 2018.

Poucos filmes causaram um rebuliço e uma controvérsia tão grande quanto Halloween Ends, o mais novo capítulo da franquia protagonizada pelo cruel Michael Myers. Em vez do clássico desfecho que todos esperavam, o filme nos apresenta a história de Corey Cunningham, um garoto que é transformado pelo ódio coletivo contra o Bicho-Papão.

Parte do que torna Halloween Ends tão bom é sua completa indiferença aos desejos dos fãs, seguindo uma rota própria e expandindo a mitologia por trás de Haddonfield. Ainda assim, é um filme que fecha bem a nova trilogia da franquia, oferecendo aos fãs de longa data o esperado conflito final entre a eterna final girl Laurie Strode e seu maior pesadelo.

2022 foi o ano em que David Cronenberg decidiu voltar para o gênero que o deixou famoso, dessa vez em uma história um pouco mais contida, mas que disseca os limites do body horror. Em Crimes do Futuro, somos apresentados a um grupo de artistas que usa seu próprio corpo como tela, ao mesmo tempo em que acompanhamos a evolução da raça humana.

Caminhando entre o belo e o grotesco, o filme não foge de lidar com vários questionamentos a respeito da arte, da política dos corpos e da criação de uma nova forma de vida. Embora seja bem menos gore do que muitos fãs esperavam, é um ótimo retorno à forma para Cronenberg e uma baita adição ao subgênero do horror corporal.

Desde que seu primeiro trailer saiu, Sorria atraiu a atenção do público não só pelos sorrisos macabros, mas pela promessa de um horror genuíno e muito assustador. No fim, o longa de estreia de Parker Finn cumpriu tudo isso, entregando algumas das imagens mais fortes do ano em um filme que debocha da moda do "pós-horror".

Na trama, uma terapeuta começa a ter visões assustadoras depois que uma de suas pacientes morre na sua frente, causando um efeito cascata que, aos poucos, se revela como uma trágica maldição. Cheio de bons sustos e ótimas ideias, o filme é glorioso em sua execução e ainda nos apresentou uma das entidades mais perturbadoras do cinema de horror contemporâneo.

Conhecido por já ter mergulhado em um horror nostálgico anteriormente, Ti West voltou com tudo para o gênero em 2022, fazendo sua singela homenagem aos primórdios do cinema slasher com X: A Marca da Morte, longa que deu início a uma nova trilogia protagonizada por Mia Goth, uma das queridinhas do horror atual.

Na trama, um grupo de amigos se reúne em uma fazenda para gravar um filme adulto, mas logo começam a ser perturbados pelos anfitriões do local, um casal de idosos com desejos sombrios. Vale destacar também a prequel do filme, Pearl, que ainda não foi lançado oficialmente nos cinemas do Brasil, mas já tem dado o que falar.

Se, por um lado, o slasher floresceu através de uma nova franquia, também tivemos o retorno de uma figura icônica com o novo Pânico, que serve como uma "legacy sequel" ao trazer a velha geração para passar a tocha à nova leva de protagonistas - e tudo sob a mira letal de Ghostface, que parece estar ainda mais sanguinário aqui.

Parte da graça da franquia sempre foi seu jogo com a metalinguagem, e aqui não é diferente - com direito a muitas piadas sobre o estado do cinema de horror atual e o comportamento tóxico dos fãs do gênero. O filme foi um sucesso tão grande que uma nova continuação já está sendo desenvolvida e deve chegar aos cinemas no começo de 2023.

No segundo lugar do nosso pódio está um dos filmes mais bizarros, absurdos e malucos lançados em 2022. Noites Brutais gerou um baita burburinho ao ser lançado lá fora e sua estreia no Brasil, embora bem atrasada, acabou fazendo com que ele recebesse uma atenção especial por aqui, mesmo sendo lançado direto para o Star+.

No longa de Zach Cregger, uma mulher aluga um AirBnB apenas para chegar ao local e descobrir que outra pessoa já está lá. Isso é apenas a ponta do iceberg em um filme que continuamente desarma seu público e prepara reviravoltas grotescas, com direito a uma personagem que será lembrada por um bom tempo como um grande ícone do horror contemporâneo.

Ao longo dos últimos anos, Jordan Peele se consolidou como o cineasta mais influente no campo do horror contemporâneo, não só pelos filmes que dirige, mas também por tudo que escreve e produz. Em 2022, ele retorna em grande estilo com Não! Não Olhe!, filme que comenta sobre sociedade do espetáculo enquanto apresenta uma história incrível de extraterrestres.

Na trama, os irmãos O.J. e Emerald se deparam com uma nuvem bem estranha sobrevoando o rancho onde moram, e descobrem que ela esconde um segredo terrível. Cheio de simbolismos e mistérios ocultos, o filme toma o merecido primeiro lugar da lista, provando como Peele ainda tem maravilhas para nos mostrar, mesmo após sucessos como Corra! e Nós.