Tudo bem que, dentre a enorme galeria de vilões do Batman, o Bane talvez não fosse a primeira escolha de muita gente, mas ainda assim o personagem merecia um pouco mais do que se tornar alívio cômico, não?

Ainda que se enquadre na proposta deliciosamente brega de Batman & Robin, essa versão do Bane fica no fim da lista por não ser nem fiel ao potencial do personagem, e nem tão absurda quanto os outros antagonistas dos filmes do diretor Joel Schumacher.

Assim como o Bane, o Duas-Caras entra na lista por ficar no meio do caminho. Não é um problema que Joel Schumacher tenha feito um universo brega, colorido e divertido, mas alguns personagens parecem não comprar a insanidade do mundo que habitam.

É o caso do vilão vivido pelo ótimo Tommy Lee Jones em Batman Eternamente. Não só o ator é inconsistente em criar um Duas-Caras sério ou caricato, como também deixa transparecer seu desgosto pelo colega Jim Carrey.

Sim, os filmes do Batman pelo diretor Christopher Nolan são ótimos, mas há sim várias decisões duvidosas tomadas ao longo da trilogia. Elas ficam ainda mais visíveis na conclusão, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, e ninguém simboliza melhor isso do que Talia Al-Ghul.

Vivida por Marion Cotillard, ela surge como uma aliada de Bruce Wayne chamada Mariana, mas só na reta final que é revelada como a filha de Ra’s Al Ghul, antagonista interpretado por Liam Neeson em Batman Begins. A reviravolta não é das mais eficientes, visto que o próprio Ra’s Al Ghul não foi um dos maiores vilões da trilogia (ainda mais na sombra do excelente Coringa), e a antagonista ainda acaba rebaixando o status de Bane para um mero capanga.

Tenha em mente que sempre que um vilão de algum dos filmes dirigidos por Joel Schumacher der as caras na lista, o motivo é o seu comprometimento com a galhofa. O Mr. Freeze se encaixa nisso, mas talvez seja o único que passa dos limites.

Interpretado pelo brucutu Arnold Schwarzenegger, o vilão ganha uma história de origem dramática - com a profundidade de uma piscina criogênica infantil -, mas conquista mesmo pelos seus planos absurdos e ótima caracterização, com visual quase como se o Sub-Zero vestisse a armadura do RoboCop. O humor vai funcionar para alguns, mas para os outros boa sorte: o Mr. Freeze é uma verdadeira metralhadora de piadinhas.

Matt Reeves não foi o primeiro: de tempos em tempos algum cineasta decide que o Batman precisa ganhar uma obra mais sombria que as antecessoras. Foi isso que Christopher Nolan fez em 2005, e o Espantalho merece um pouco de crédito pelo sucesso da abordagem usada em Batman Begins.

O vilão é a escolha perfeita para uma Gotham macabra, noturna e chuvosa. Interpretado por Cillian Murphy - outro dos queridinhos do Nolan -, o Espantalho é verdadeiramente horripilante com sua máscara tenebrosa e toxina do medo. No fim das contas, assim como todo o primeiro filme, ele acabou ofuscado pela grandeza da sequência, mas é válido notar que o Espantalho é o único dos vilões que deu as caras em toda a trilogia de Christopher Nolan!

Tom Hardy é um dos vários queridinhos de Christopher Nolan, dando as caras na maioria dos filmes do cineasta. Em 2012 ele enfrentou o enorme desafio de interpretar o primeiro vilão após Heath Ledger roubar a cena com seu Coringa. Mesmo com essa tarefa impossível, e muitas decisões duvidosas, o Bane ainda é a melhor parte de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

Assim como na HQ que o consagrou, Bane aparece na vida de Bruce Wayne com um único objetivo: quebrá-lo. O vilão é bastante carismático, algo surpreendente pela enorme máscara que cobre seu rosto, mas igualmente ameaçador - e curiosamente filosófico em suas várias frases de efeito memoráveis. Sua conclusão acaba ofuscada pela reviravolta de Talia Al-Ghul, mas cenas como a abertura do filme, ou a luta contra o Batman no esgoto continuam excelentes!

Obras como Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e Kidding servem para nos lembrar que Jim Carrey é um excelente ator dramático, mas não é à toa que ele ficou conhecido pela comédia. Em Batman Eternamente, ele levou suas expressões faciais bizarras e exageradas ao mundo da DC Comics quando interpretou o Charada.

Com (várias) roupas coloridas e chamativas, e um arsenal gigantesco de charadas das mais variadas complexidades, o vilão brilha na tela, e acerta perfeitamente na intenção de Joel Schumacher de conseguir trazer de volta o charme insano da série televisiva do Batman na década de 1960. Batman Eternamente pode ser amplamente conhecido como o pior filme do Homem-Morcego, mas há um consenso de que o Charada de Jim Carrey é a parte que se salva.

Filmes de herói não tem um pouco histórico de equilibrar vários vilões de uma vez, mas Batman faz um ótimo trabalho ao contextualizá-los em uma investigação policial. Assim, cada antagonista tem seu momento para brilhar - e o Pinguim é um dos que rouba a cena.

Quando Colin Farrell foi escalado ao papel, despertou alguns olhares curiosos, especialmente quando foi revelado que ele usaria uma roupa especial ao invés de mudar o próprio corpo. No fim das contas, isso lhe rendeu um visual que transita entre o horrendo e o caricato, e sua performance conquistou como um gangster violento mas que serve de alívio cômico sem se tornar bobo.

Por muito tempo a maior adaptação do Batman foi uma série de TV da década de 60, estrelada por Adam West. Em 1989, o diretor Tim Burton decidiu criar uma obra mais sombria para o Homem-Morcego, e o resultado é um dos maiores filmes do herói. Para ficar a altura da ótima performance de Michael Keaton, foi preciso uma escolha de peso para o Coringa, o vilão clássico do Cavaleiro das Trevas.

Jack Nicholson foi a escolha ideal para o Rei Palhaço do Crime, especialmente nove anos após demonstrar seu potencial para loucura em O Iluminado. Assim como Jim Carrey, o ator sequer precisou criar uma versão do personagem: seus traços característicos de atuação, como a fala ameaçadora e as expressões neuróticas, casaram perfeitamente com o papel.

O Charada de Jim Carrey funciona bem no universo colorido de Joel Schumacher, mas ele com certeza ficaria deslocado no mundo sombrio de Matt Reeves. Para isso, foi preciso repensar o personagem, e o cineasta foi fundo em criar um verdadeiro maníaco.

Interpretado pelo excelente Paul Dano, o Charada de Batman (2022) opera das sombras, e suas titulares charadas servem mais como enigmas macabros do que piadinhas. Com um gosto por tortura e justiça, ele soa quase como uma versão de Jigsaw, o mestre por trás das armadilhas de Jogos Mortais, e testa todos os limites do Homem-Morcego de Robert Pattinson.

Ao longo dessa lista, algo ficou claro: o Coringa de Heath Ledger foi responsável por dominar a atenção em toda a trilogia de Christopher Nolan. Assim, é ainda mais digno de aplausos o fato de que o Duas-Caras de Aaron Eckhart tenha conseguido não se deixar ofuscar tanto pelo colega de vilania.

O advogado e político Harvey Dent é, na verdade, a parte central de *Batman: O Cavaleiro das Trevas, já que simboliza muito bem a filosofia perturbada do Rei Palhaço do Crime por ser um homem bom que se deixa corromper pela raiva e violência.

Outra coisa que a lista deixa claro é o fato de que os dois filmes de Joel Schumacher são os mais repudiados pelos fãs de Batman - muito disso injustamente, claro. Mas mesmos os mais céticos admitem que há um enorme acerto: a Hera Venenosa de Batman & Robin.

Interpretada por Uma Thurman (Kill Bill), o filme marcou a primeira vez que a personagem foi interpretada em live-action, e essa versão que transita entre perversa e sensual definiu a imagem da Hera Venenosa pelas décadas seguintes. Ajuda também que a atriz se divertiu bastante no set, e mesmo com o longa considerado um dos piores filmes do Batman, Thurman continua bastante grata por ter ajudado a moldar a história do Homem-Morcego nas telonas.

Tim Burton se tornou um cineasta tão renomado pelo seu estilo forte e marcante, e isso não mudou quando ele assumiu os filmes do Batman. Não há vilão que melhor defina o gosto do diretor pelo macabro do que o Pinguim de Danny DeVito.

Em Batman: O Retorno, essa versão de Oswald Cobblepot não só se inspira na bizarrice do personagem nas HQs, como também vai além para criar um ser realmente grotesco. DeVito, cujo humor é sempre certeiro, interpreta o Pinguim como um mafioso perturbado, com instintos animalescos. Com visual saído direto de um clássico do expressionismo alemão, é um vilão tão deliciosamente estranho que até chocou os pais na época que o filme chegou nos cinemas - o que sempre é um ótimo indicativo de um trabalho bem feito.

Você talvez tenha notado as ausências da Mulher-Gato de Anne Hathaway e Zoe Kravitz nessa lista. São excelentes atrizes, que entregaram ótimas performances em seus respectivos filmes, mas ambas foram escritas para transitar entre o posto de anti-heroína e aliada do Batman. Não é o caso da Mulher-Gato de Batman: O Retorno, que é uma vilã assumida.

Imortalizada por Michelle Pfeiffer, essa versão de Selina Kyle conta uma história de origem bizarra - sendo ressuscitada da morte por gatos de rua -, um visual icônico e uma excelente dose de maldade e sensualidade para confundir a cabeça do Homem-Morcego.

Há espaço para discussão, claro, mas é muito difícil imaginar outro vilão para ocupar o topo da lista que não seja o Coringa de Heath Ledger. É uma atuação tão forte de insanidade sombria que remodelou para sempre a imagem do antagonista, e criou um padrão altíssimo a ser superado. Desde 2008, sempre que um novo ator assume o papel do Coringa, ele é comparado com Ledger - e desde então nenhum conseguiu superar o falecido intérprete.

Há uma aura de mistério ao redor desse Coringa. O público não vê sua origem, apenas ouve várias versões conflitantes ditas pelo próprio. O vilão também não é histérico, e comete todo tipo de atrocidades com bastante calma e paciência. Com o objetivo de fazer o Batman ceder à loucura, ele toca o terror em Gotham City.

É por causa do antagonista que Batman: O Cavaleiro das Trevas é tido por muitos como o melhor filme do herói até hoje. O recente Batman ameaçou esse status, e assumiu o trono para grande parte dos fãs. Como forma de conciliar ambas as preferências, há uma outra perspectiva: O Cavaleiro das Trevas pode não ser o melhor filme do Batman, mas sim o melhor filme do Coringa.