Antes de dissecarmos Lobisomem na Noite, é preciso voltar alguns meses atrás, na semana de lançamento do primeiro episódio de Cavaleiro da Lua. Nele, um QR Code foi disponibilizado que direciona o usuário para Werewolf by Night #32. Essa edição marca a estreia do herói no universo Marvel, mas também o encontro desses dois curiosos personagens: o Cavaleiro e o Lobisomem.

Enquanto nos quadrinhos o Lobisomem deu as caras antes do Cavaleiro, no Universo Cinematográfico da Marvel foi o oposto. Porém, podemos esperar que o futuro das produções da Marvel Studios coloque esses dois em um mesmo projeto.

O primeiro personagem a dar as caras é Jack Russell, interpretado por Gael García Bernal, ator conhecido por filmes como Tempo e Ensaio sobre a Cegueira. Seu personagem é quem dá título ao filme, o“lobisomem na noite”.

Criado por Roy Thomas, Gerry Conway e Mike Ploog, Jack foi apresentado em Marvel Spotlight #2, de 1972. Inspirados em criar um personagem voltado ao gênero de horror, o nome verdadeiro do personagem é Jacob Russoff, um homem que nasceu com a maldição da licantropia.

O Lobisomem não é tão utilizado nos quadrinhos, porém, marcou presença em equipes como a dos Filhos da Meia-Noite, Legião dos Monstros e chegou a trabalhar ao lado do Homem de Ferro e da Mulher-Aranha.

A estética que simula um filme de terror dos anos 30 é o que mais chama atenção em Lobisomem na Noite. Mas, existe algo que ainda remete, tanto ao filme A Lista de Schindler (1993) quanto a Pleasantville: A Vida em Preto e Branco (1998) e Wandavision. Isto é, a cor vermelha da Pedra de Sangue.

Esse efeito, de dar cor a um objeto de destaque, ficou popular após A Lista de Schindler, um filme em preto e branco, dar cor ao casaco vermelho de uma criança para efeito de dramaticidade.

Já em Pleasantville, acontece algo similar. Dois irmãos são puxados para uma sitcom em preto e branco dos anos 50. A presença deles muda, gradualmente, o lugar, dando cor aos personagens e ambientação.

Em Wandavision, antes de Wanda dar cor ao seu mundo preto e branco, ela encontra um helicóptero de brinquedo colorido.

Em Lobisomem na Noite, conhecemos Ulysses Bloodstone, um caçador de monstros. Não muito diferente dos quadrinhos, Ulysses ganhou seu sobrenome por conta de uma pedra escarlate que tinha em seu peito, a Pedra de Sangue, que nos quadrinhos é chamada de Gema de Sangue.

O personagem deu as caras pela primeira vez em Marvel Presents #1, em 1975 e foi criado por Len Wein, Marv Wolfman e John Warner. A pedra que Ulysses carrega no peito é um fragmento de um meteorito que lhe concede imortalidade, além de outras habilidades, em 8250 A.C.

Ao longo dos anos como caçador, Ulysses enfrentou o Nosferatu e seu clã de vampiros, Molóides ou O Povo Toupeira e, até mesmo, Fin Fang Foom.

Como dito anteriormente, a Pedra de Sangue (ou Bloodstone) é chamada de Gema de Sangue (ou Bloodgem) nos quadrinhos. Por ser o fragmento de um meteorito, a pedra de Ulysses não é a única que existe no universo Marvel.

A gema foi enviada pela entidade Exo-Mind, que tinha o plano de conquistar a Terra. Junto dela, estava um dos braços direitos de Exo-Mind, Ulluxy’l Kwan Tae Syn. É enquanto Ulluxy’l procura um hospedeiro para o mineral que ele encontra Ulysses.

Os dois se enfrentam e, na batalha, o meteorito é estilhaçado, matando toda a tribo de Ulysses. Um dos fragmentos se junta ao peito de Ulysses, lhe concedendo imortalidade, além de poderes psíquicos, força, velocidade e mais.

Um dos destaques do especial é Elsa Bloodstone, filha de Ulysses, uma caçadora que foi renegada pelo pai e madrasta. A personagem é, relativamente, recente, chegando aos quadrinhos apenas em 2001. Apresentada em Bloodstone #1, Elsa acaba servindo como a Buffy, a Caça-Vampiros do universo Marvel.

E, assim como no fim de Lobisomem na Noite, a caçadora herdou a Pedra de Sangue do pai após sua morte. Ligada ao núcleo sobrenatural da editora, Elsa já enfrentou o Drácula e Nosferatu, assim como a Feiticeira Escarlate e até o mutante Blob.

Alguns podem ter reparado a presença de uma marca curiosa no canto superior da tela em determinadas cenas. Não se trata de uma referência escondida ao universo Marvel, mas sim à história do cinema.

A exibição de filmes nos anos 30 consistiam em diferentes rolos de filme para uma mesma produção. O que significa que o projetista precisava preparar um rolo enquanto o outro ainda estava rodando.

Essas marcas escuras são o “sinal” para o projetista dar início ao processo de troca. De acordo com o Videocide, cada rolo de filme reproduzia cerca de 14 até 20 minutos de filme. O projetista, então, fazia marcações com a ponta do cigarro para saber o momento exato para dar prosseguimento ao rolo seguinte.

Outro personagem curioso no especial é Ted, o Homem-Coisa. Seu nome nada monstruoso é pelo fato de, antes, o Homem-Coisa ter sido um bioquímico chamado Theodore Sallis. O cientista ganhou esse aspecto após injetar um soro experimental em si mesmo e ser jogado em um pântano.

Com um corpo formado por lodo e plantas, Ted se tornou o guardião do Nexo de Todas as Realidades, um portal interdimensional que dá acesso a vários lugares do Multiverso.

A descrição do personagem pode ser similar ao Homem do Pântano da DC, porém, o Homem-Coisa foi lançado meses antes. Criado por Stan Lee, Roy Thomas, Gerry Conway e Gray Morrow, Homem-Coisa chegou aos quadrinhos em maio de 1971, em Savage Tales #1, enquanto o Homem do Pântano fez sua primeira aparição em julho do mesmo ano.

Durante a abertura do especial, vemos rapidamente uma espécie de “bestiário” e um pouco da história de Ulysses e da Pedra de Sangue. Nas ilustrações, podemos ver um vampiro, possivelmente o Nosferatu, o Pé-Grande e um Wendigo.

Nas ilustrações, ainda temos a reunião de um grupo de caçadores. No centro, está Ulysses e, em sua frente, a Pedra de Sangue, simbolizando a lua cheia. A cena se completa com outros quatro cavaleiros com diferentes armas, um deles empunhando uma espada.

Dada a origem lendária de Ulysses e da pedra, é possível que este seja o Cavaleiro Negro, uma identidade que passa de geração a geração. No MCU, Kit Harrington interpreta Dane Whitman, uma das encarnações do herói.

O final de Lobisomem na Noite coloca Elsa em posse da Pedra de Sangue, como também dá cor ao mundo ao seu redor. Ao som de Somewhere Over the Rainbow, a cena é uma referência ao clássico de 1939, O Mágico de Oz.

A produção de Victor Fleming foi um destaque por transacionar entre imagens em preto e branco e coloridas. Além de um verdadeiro avanço tecnológico para a época, a mudança retratava a trajetória de Dorothy do mundo real para Oz e vice-versa.