Graças a um lançamento completamente digital, Zack Snyder teve total liberdade para experimentar novas técnicas na construção de sua Liga da Justiça. O filme é um prato cheio para quem quer uma experiência verdadeiramente única.

Além de alcançar mais de 4 horas de duração, a fotografia do filme traz uma proporção diferenciada de 1.33:1.

É um jeito diferente de trabalhar com widescreen — toda ação se concentra no centro da tela e ganhamos mais espaço vertical que faz toda diferença nas cenas de batalhas. Outra novidade técnica é a divisão em capítulos, que garante uma história mais fácil de compreender.

Sejam alienígenas, deusas imortais ou um tremendo bilionário, os super-heróis da DC Comics tem uma perfeição inalcançável que dificulta muito para o público se identificar com suas histórias — ainda mais nos cinemas. Sabendo disso, Liga da Justiça de Zack Snyder aproveita o tempo extra para desenvolver com cuidado seus personagens em um nível pessoal como nenhuma outra produção da DC jamais conseguiu.

O maior exemplo está no arco do Ciborgue — vivido brilhantemente por Ray Fisher. Sua relação com seus pais é crucial para entender suas motivações e as decisões que ele vai tomar na batalha final. Mesmo que Darkseid seja inevitável, é impossível não torcer para esses heróis que nós acabamos aprendendo a amar.

Muita coisa aconteceu desde o lançamento de Batman vs Superman: A Origem da Justiça. O jeito que entendemos personagens como a Mulher-Maravilha e o Aquaman é diferente, mas Zack Snyder soube como incorporar essas evoluções de modo bastante natural.

Um exemplo bem claro é como a Diana guia o Ciborgue em seu processo de luto. Mulher-Maravilha 1984 mostra os perigos do apego de Diana à memória de Steve Trevor e ela sabe como o luto pode consumir alguém. Perceber esses momentos ao longo do filme é muito gratificante para os fãs da DC nos cinemas.

O Superman de Henry Cavill finalmente estreia um novo visual no filme de Zack Snyder. Desde as gravações que ouvimos falar da existência de um traje mais sombrio do herói — inspirado em arcos mais sérios dos quadrinhos. Foi difícil controlar a curiosidade, mas o resultado final ficou impecável.

A roupa clássica tem o seu legado, mas é impossível discordar que o novo traje escuro é absurdamente mais imponente — perfeito para a nova versão do herói que não leva mais desaforo para casa. Ele demora para aparecer, mas quando ele chega… Ninguém segura o Homem de Aço!

Darkseid é um dos vilões mais intimidadores de todo Universo DC e a Liga da Justiça de Zack Snyder constrói a sua história de maneira incrível. Foram necessários três exércitos em sincronia para derrotá-lo no passado. Para conter uma nova invasão, o Batman vai precisar correr para montar uma liga de heróis.

O mais interessante é observar a relação de medo entre o Lobo da Estepe e Darkseid se desenrolando. Ao longo do filme vemos o Lobo da Estepe dando um belo trabalho para diferentes membros da Liga da Justiça. Então vê-lo tremer diante de Darkseid só reforça o quanto o cara é cruel. É de arrepiar!

Tem quem ame e quem odeie, mas Ben Affleck definitivamente interpretou uma das versões mais marcantes de Bruce Wayne no cinema. O ator será substituído por Robert Pattinson em The Batman, a próxima trama solo do morcegão, então vê-lo dominar as telas em Liga da Justiça de Zack Snyder tem um amargo sabor de despedida.

Felizmente, Ben Affleck entrega uma de suas melhores performances como a grande força motriz que unifica os maiores defensores da Terra. Os fãs poderão aproveitar muitas horas com o Battfleck, antes do seu adeus final em The Flash, previsto para 2022.

Sendo bem franco, pouquíssimas pessoas ficaram impressionadas com a participação de Jared Leto como o Coringa de Esquadrão Suicida. O personagem não era particularmente engraçado ou louco, duas das características mais marcantes do vilão, mas a edição do filme também não deu muitas oportunidades para conhecermos essa versão.

Isso foi corrigido na Liga da Justiça de Zack Snyder. O Coringa é uma peça importante em um possível futuro apocalíptico vivenciado pelo Batman. O novo Coringa é absolutamente instável e tem uma presença de cena impactante, finalmente fazendo jus a todo talento escondido por Leto. Isso que eu chamo de redenção!

A completa liberdade criativa que Snyder conseguiu para esse projeto permitiu cenas ainda mais violentas, dignas de uma classificação para maiores de idade. Você sente o impacto de cada golpe, ainda mais com os jatos de sangue e membros decepados.

As batalhas estão bem longas, trazendo verdadeiras cenas de guerra sem nenhum pudor. O mais interessante é ver alguns personagens usando seus poderes de maneira brutal. A Mera, por exemplo, chega a drenar o sangue de um inimigo em uma cena. É um jeito diferente de ver super-heróis em ação, algo que condiz melhor com criaturas tão poderosas.

Além dos heróis mais conhecidos pelo grande público, a Liga da Justiça de Zack Snyder traz algumas surpresas para os fãs mais ávidos de quadrinhos. A primeira delas é a participação tímida do Caçador de Marte, J’onn J’onzz. E ele pode ter relação com o misterioso aviso de Flash para salvar Lois Lane, mas só vendo para entender.

Outro herói que passa despercebido é o Eléktron. Nesse universo, ele é o cientista Ryan Choi que ajuda o pai do Ciborgue em suas pesquisas com tecnologia alienígena. Parece que ele seria mais relevante no futuro da DC. Será que veremos mais desse herói?

Para os fãs do diretor, essa é uma grande oportunidade de entender o que se passa na cabeça dele. A Liga da Justiça é um projeto muito pessoal para Snyder, uma oportunidade de representar o processo de luto que vem enfrentando desde 2017 — quando sua filha morreu, vítima de suicídio.

O ocorrido abalou o diretor, que precisou abandonar a produção do longa na época. Mas agora ele retorna para pôr um fim nesse ciclo e transpor para o público pela jornada dos nossos heróis como foi o seu processo de superação. Todos os personagens enfrentam luto em algum nível, mas isso é mais evidente na história do Ciborgue — que segundo o diretor é o coração do filme.