[Indie+ #5] Slender, Hotline Miami, Fez e mais: os jogos indies que completam 10 anos em 2022
[Indie+ #5] Slender, Hotline Miami, Fez e mais: os jogos indies que completam 10 anos em 2022
Relembramos a excelente leva de jogos independentes de 2012!
Os jogos indie se estabeleceram como uma força notável na indústria dos games. Hoje em dia já é comum encontrar obras feitas por estúdios pequenos, ou até por um único desenvolvedor, que entregam experiências melhores, mais profundas e mais divertidas que muito blockbuster por aí. Mas essa noção demorou alguns bons anos para se normalizar.
No começo da década passada, os jogos indies lentamente começavam a se tornar sensações após sucessos grandiosos, como Braid e Super Meat Boy, mas foi em 2012 que eles realmente alcançaram o estrelato, em um ano marcado por uma excelente leva de títulos independentes.
Hoje, dez anos depois, a Indie+ relembra alguns dos maiores sucessos dos jogos indie de 2012!
Slender: The Eight Pages
Lançado em: 26 de junho de 2012
Você provavelmente jogou esse, ou pelo menos assistiu alguém jogando e pulando de medo. Por mais que tenha sido Amnesia: The Dark Descent que iniciou a tendência do horror indie, foi Slender: The Eight Pages que alavancou de vez - além de ter popularizado a (enorme) onda de vídeos de reação no Youtube.
Inteiramente desenvolvido por Mark J. Hadley, o indie gratuito era bastante simples e curto. Em breves sessões, o jogador tinha como objetivo encontrar oito páginas com ilustrações macabras, espalhadas por uma floresta durante a noite. A cada nova página encontrada, uma presença maligna se tornava cada vez mais presente, te perseguindo pelo mato.
Seu formato de conto de horror, os sustos simples e eficientes, e o fato de ser um jogo gratuito e visualmente precário, criaram algo digno de um filme found footage, uma espécie de jogo maldito perdido na internet, que pedia para ser baixado e jogado. Assim surgiu um verdadeiro fenômeno sem nenhum tipo de marketing além da divulgação dos jogadores e dos Youtubers. Além disso, foi o game que colocou o Slender Man, um ser folclórico criado pela internet, na consciência popular de uma vez por todas.
Alguns anos depois, em 2015, o indie ganhou uma continuação/remake na forma de Slender: The Arrival, que expandiu a premissa do curta em um jogo completo, com o envolvimento de Eric Knudsen, o criador do Slender Man.
Minecraft para Xbox 360
Lançado em: 9 de maio de 2012
Hoje é até difícil lembrar que Minecraft foi jogo independente em algum ponto. O game de aventura é a definição de fenômeno cultural, algo que cresceu muito além da indústria para se tornar um símbolo conhecido por todos. O projeto surgiu em 2009 no PC, mas 2012 marcou o primeiro passo na direção de se tornar o que é hoje.
Há uma década atrás, Minecraft deu seu passo mais importante ao ganhar uma versão para Xbox 360. Quando o game saiu para PC, a plataforma ainda tinha a reputação de ser apenas para entusiastas fervorosos (era assim antes do boom dos MOBAs e dos shooters competitivos). Portanto, a chegada de um dos maiores sucessos do computador aos consoles permitiu que muito mais gente pudesse conhecer a excelência do tão falado game.
Minecraft foi um sucesso gigantesco no Xbox 360, o que serviu para aproximar o estúdio Mojang da Microsoft. Apenas dois anos depois de port, a empresa comprou o game por impressionantes US$2,5 bilhões, e mantém em constante atualização até os dias de hoje, com números gigantescos de jogadores em todas as plataformas.
Hotline Miami
Lançado em: 23 de outubro de 2012
Violência é um conceito mundano nos videogames. Algumas obras até tentam questionar o papel do jogador em atos sangrentos, mas poucas têm a eficiência brutal de Hotline Miami, um simulador de matança tão viciante e frenético que evidencia a sede de sangue dos jogadores sem precisar falar muito.
Desenvolvido pela dupla sueca Dennis Wedin e Jonatan Soderstrom, o game foi criado sem nenhuma pretensão de ser algo grandioso, construído a partir de um protótipo de um antigo jogo em flash. Wedin e Soderstrom colocaram toda a sua paixão por obras intensas e gráficas, por jogos desafiadores, e juntaram com a estética neo-noir e de retrowave que crescia na época, especialmente influenciados pelo filme Drive (2011), dirigido por Nicolas Winding Refn e estrelado por Ryan Gosling. Já para a trilha sonora, quase nada foi feito do zero, e a dupla apenas usou uma playlist de artistas que curtiam no Bandcamp e Soundcloud - pedindo autorização para eles, claro.
O resultado é um dos games mais viscerais e viciantes já feitos. Em Hotline Miami, ambientado na Flórida dos anos 80, o jogador assume o papel de um protagonista sem nome que começa a ser atormentado por visões e estranhas ligações, que o contratam para cometer massacres em determinados lugares da cidade.
Cada fase pede reflexos rápidos enquanto se transita por corredores repletos de inimigos, criando combos ao ritmo que a música eletrônica pulsa em seus ouvidos. Basta um tiro ou golpe para morrer e precisar recomeçar tudo do zero, mas nem isso é capaz de quebrar a imersão. O game bate no jogador, e apanha de volta. Quando pergunta “Você gosta de ferir outras pessoas?”, a resposta é um enfático: “Sim”.
O enorme sucesso de Hotline Miami foi o responsável por colocar a sua publicadora, a Devolver Digital, como uma das principais forças no mundo indie, indicado uma vindoura profissionalização da cena. O game recebeu uma continuação logo em 2014 com Hotline Miami 2: Wrong Number, que teve recepção divisiva ao ser muito mais complicado e extenso que o original - mas, novamente, com uma trilha sonora de matar.
Journey
Lançado em: 13 de março de 2012
2012 foi o ano que o indie começou a se profissionalizar - e até mesmo desafiar o conceito de indie, algo que é muito discutido até hoje. Se Hotline Miami ter uma empresa publicadora já levantava dúvidas na definição mais purista da coisa, imagina então um jogo independente financiado pela Sony?
É possível questionar a definição, mas não a excelência de Journey. A obra da thatgamecompany marcou o fim de uma trilogia feita em parceria com o PlayStation, e ainda que os antecessores (Flow e Flower) sejam ótimos, o terceiro game está em outro nível de qualidade.
Em Journey, o jogador assume o papel de um andarilho com uma simples missão: chegar ao topo de uma montanha. Para isso, porém, é preciso atravessar um impiedoso deserto, cruzar perigosas cavernas e lidar com monstros gigantes. Mas o combate não é uma opção. Não se trata de um RPG e nem nada do tipo, apenas uma aventura bastante arriscada, bela e divertida.
Muito no game é memorável, como os cenários lindíssimos ou a tocante trilha sonora do violinista Austin Wintory, mas o sistema que define a experiência é o modo cooperativo. Como a jornada é difícil, é melhor encará-la com companhia, só que Journey não permite convidar amigos e nem buscar partidas na internet. Pessoas aleatórias entram e saem do seu jogo, com suas jornadas individuais se cruzando com a sua. A única forma de interagir com elas é um botão que sinaliza uma única expressão de alegria - cujo contexto usado pode dar novos significados, claro. É só quando a jornada acaba que se descobre os nomes dos jogadores com quem você interagiu ao longo da experiência.
Journey não só é um marco do crescimento dos jogos independentes, como também foi vital para um momento em que os games estavam querendo se provar capazes de despertar emoções genuínas nos jogadores. Essa experiência se mantém poderosa até os dias de hoje!
Oniken
Lançado em: 21 de junho de 2012
Em 2022, a cena indie brasileira passa por uma era de ouro, com grandes obras sendo produzidas em todo canto do país. Há 10 anos, o cenário era muito diferente, e videogame desenvolvido no Brasil era visto como algo possível, mas ainda um pouco distante. 2012 marcou o ano que alguns dos melhores estúdios nacionais começaram a surgir, e a JoyMasher é facilmente um dos melhores exemplos.
O casal Thais Weiller e Danilo Dias não brincam em serviço, e seu primeiro game já mostrava isso. Oniken é uma homenagem aos jogos de ação do Nintendinho, e também aos clássicos de ação do cinema oitentista. Pense como uma versão modernizada de Ninja Gaiden, com fases frenéticas e uma dificuldade de fazer ranger os dentes!
A quantidade de vezes que você vai morrer tentando zerar o game é o que mais chama a atenção, claro, mas Oniken também se destaca pela excelente pixel art, pelo design grotesco e original dos inimigos, pela trilha sonora, e pelos controles precisos. Pode ter sido um dos primeiros indies brasileiros, mas não deve em nada aos gringos - na verdade, poderia muito bem se passar por um clássico oitentista que muita gente sequer ia duvidar.
Nos anos seguintes, a força do estúdio apenas cresceu com Odallus: The Dark Call, o melhor tributo à CastleVania já feito, e também com Blazing Chromes, que é basicamente a modernização de Contra precisava. Quando se trata de criar experiências retrô originais e que vão muito além da nostalgia, a JoyMasher é o melhor estúdio para a missão.
Knights of Pen & Paper
Lançado em: 30 de outubro de 2012
Outro estúdio brasileiro que se destacou em 2012 foi a Behold Game Studios. Naquela época, os desenvolvedores de Brasília olhavam para o crescimento absurdo dos smartphones, e viram a oportunidade de levar o seu amor por jogos de portátil e RPGs de mesa para a plataforma em ascensão.
Knights of Pen & Paper soa como algo saído direto do GameBoy, em game conduzido como uma sessão de RPG de mesa. O mestre narra uma aventura típica, em que um grupo começa na taverna, aceita missões e se vê envolvido em algo muito maior do que imaginavam. Ao ritmo que a trama é narrada, os cenários mudam, personagens aparecem em tela, e as batalhas acontecem em combates de turno.
O jogo conquista não só pelo visual excelente e pelas batalhas divertidas, mas também é repleto de carisma, bom humor e referências. É leve o bastante para rodar nos celulares da época, mas viciante o suficiente para justificar drenar toda a sua bateria. Mais tarde, o game foi relançado para PC.
Knights of Pen & Paper ajudou a colocar a Behold no mapa, e o estúdio alcançaria o estrelado no mundo todo apenas alguns anos depois, com o excelente Chroma Squad (2015), inspirado nos clássicos programas de super sentai.
Thomas Was Alone
Lançado em: 30 de junho de 2012
Há 10 anos, os videogames ainda tinham como objetivo se provar como uma mídia poderosa, que nada deve ao cinema em termos de despertar emoções no jogador e contar histórias tocantes. Os desenvolvedores independentes, longe das amarras do jogos blockbuster, levaram a missão a sério, em uma leva de jogos não-violentos. O britânico Mike Bithell se desafiou ainda mais ao tentar emocionar em uma trama protagonizada apenas por formas geométricas.
Thomas Was Alone é um jogo de plataforma até que simples. Em cada fase, é preciso controlar formas geométricas e encaixá-las em determinados lugares para prosseguir. Mas o que surpreende é uma excelente narração, que dá sentimentos aos “personagens”. É difícil imaginar sem jogar, o que só torna mais surpreendente o quanto carisma e personalidade o roteiro consegue aplicar em formas geométricas. Pode sim ser igualmente surpreendente e humilhante se ver chorando por um quadrado colorido, acredite.
O game foi incansavelmente relançado para todas as plataformas, mas continua altamente emotivo e divertido até hoje. De lá para cá, Mike Bithell se tornou um verdadeiro mentor indie, tendo lançado jogos como Volume e John Wick Hex, ao mesmo tempo que aconselhou e colaborou em projetos de outros desenvolvedores pequenos.
Fez
Lançado em: 13 de abril de 2012
Desde Braid e Super Meat Boy, todo ano há um game indie que se torna um grande sucesso, páreo para os blockbusters. Em 2012, esse jogo foi Fez. O carismático game de plataforma 2D acerta em praticamente tudo: seu perfeita pixel art, a trilha sonora memorável, os cenários de encher os olhos, o uso inteligente de perspectiva 2D e 3D, a jogabilidade satisfatória. É bom pontuar que a era da nostalgia estava apenas começando em 2012, portanto ainda era algo verdadeiramente inédito um jogo que conseguisse replicar com precisão a jogabilidade, os visuais e a sensação de descobrimento dos plataformas 2D clássicos que fizeram muita gente se apaixonar pelos videogames. Fez entregou tudo isso, e definiu uma tendência dentro dos indie games que se seguiu por anos.
Claro, ajudou também que seu criador, Phil Fish, era uma figura bastante excêntrica. Com pegada de autor de cinema, o desenvolvedor norte-americano era um clássico hipster, daqueles que falam de sofrer pela própria arte. Seu processo foi imortalizado no documentário Indie Game: The Movie (2012), que narrou toda a jornada de Fish, Jonathan Blow (Braid) e dos caras da Team Meat (Super Meat Boy) lidando com o sucesso dessa primeira geração de indies que se tornaram hits.
Fish até chegou a anunciar a continuação, Fez II, em 2013, mas o desenvolvedor foi constantemente criticado por declarações questionáveis (ou objetivamente burras) nos anos seguintes que simplesmente se cansou do auê da internet, e largou a indústria de jogos como um todo.
Menções honrosas
Muitos jogos ficaram de fora da nossa lista, e alguns merecem menção honrosa. Se Journey e Minecraft já desafiam a noção de indie, The Walking Dead da Telltale Games é ainda mais complicado de categorizar, por trabalhar com uma franquia tão grande assim, mas que ainda foi super importante para o movimento de “Jogos como arte”. Dear Esther, o pai dos “simuladores de caminhada”, recebeu muito hate em 2012 mas gradualmente mostrou seu valor artístico para virar um clássico cult.
Já no outro espectro da coisa toda, Super Hexagon entregou perfeição arcade em um jogo simples de jogar, complexo de dominar e com uma trilha sonora memorável. No mesmo ano também surgiu o mod de Arma 2 que mudaria tudo: DayZ, cuja intensa jogabilidade e interações únicas online ajudaram a pavimentar o caminho para o que viria a ser o gênero de Battle Royale.
Sequer citamos as viciantes partidas de FTL: Faster Than Light, game de exploração especial que nos fez perder horas de vida; ou então o divertido Out There Somewhere, primeiro game do estúdio brasileiro MiniBoss, cujos desenvolvedores Pedro Medeiros e Amora B. foram trabalhar no exterior como parte fundamental dos excelentes Towerfall: Ascension e Celeste.
2012 foi um ano incrível para jogos - não só para os indies, como também para a indústria como um todo. Aproveite esse breve momento de nostalgia e deixe nos comentários abaixo quais foram seus indies favoritos daquele ano!