Depois de toda a desgraça que foram as últimas temporadas de Game of Thrones, é fácil esquecer que a série era um dos maiores sucessos da HBO, com personagens muito bem desenvolvidos e uma trama instigante repleta de intrigas políticas e fantasia. Ao longo de seus anos iniciais, a série baseada nos livros de George R.R. Martin era um verdadeiro fenômeno.

Por isso, ela merece ser revisitada pelos fãs, sobretudo pela forma como as tramas eram interligadas de uma maneira magistral, desenvolvendo figuras tão impressionantes quanto Daenerys Targaryen, Sansa Stark, Jon Snow e Cersei Lannister. Mas aqui fica uma recomendação amiga: é melhor parar de assistir na quarta temporada para evitar novas frustrações e ranços.

Lançada em 2019, Watchmen foi um dos lançamentos mais ousados da história da HBO, por pegar todo o conceito inserido na graphic novel de sucesso da DC Comics e trazer para os tempos atuais, dando aos fãs uma continuação modernizada e que discute temas importantes como toda a luta racial nos EUA e o papel da polícia de manutenção do establishment.

A série foi criada por Damon Lindelof (que também fez The Leftovers, outra série imperdível no catálogo do streaming) e faz várias referências aos quadrinhos ao mesmo tempo em que segue sua própria linguagem e conta com discussões muito abrangentes e complexas. É uma baita série para quem gosta de ver essa subversão dos super-heróis.

Em 2020, a HBO foi além com Lovecraft Country, série baseada no livro homônimo de Matt Ruff e que visita os Estados Unidos na década de 50, sob o julgo de Jim Crow e uma tensão racial crescente. Aqui, revisitamos o poder que as histórias fictícias têm sobre nossa própria história real, tudo ao mesmo tempo em que embarcamos em várias esferas do medo cósmico.

A série é uma verdadeira carta de amor à literatura pulp, com cada episódio tomando o formato de um "conto" separado que ajuda a criar uma narrativa maior e mais complexa. É uma bela série de terror que infelizmente não terá uma segunda temporada - mas que ainda assim, marcou por trazer temas tão brutais e importantes para o horror de um modo muito consciente e original.

A HBO foi uma das emissoras pioneiras quando o assunto é trabalhar temas mais adultos e densos em séries de TV, sem medo da censura - ditando os parâmetros que se tornariam a norma nos dias atuais. E um bom exemplo disso é Família Soprano, uma produção de sucesso que foi amplamente aclamada e premiada ao longo de suas seis temporadas.

A história segue Tony Soprano, um mafioso italiano tentando viver seu dia-a-dia em Nova Jersey. Aqui, vemos uma dissecação profunda sobre esse personagem, que precisa conciliar sua vida familiar com o título de chefe do crime - e tudo que isso carrega. É um marco na história da televisão e que vai ganhar um filme prequel em breve, The Many Saints of Newark.

Se você gosta de thrillers policiais, uma boa pedida é True Detective, uma série antológica que teve três temporadas, cada uma delas com arcos fechados e protagonistas diferentes. Nas três, seguimos detetives tentando lidar com crimes hediondos enquanto o peso de seus trabalhos recai sobre suas vidas privadas.

Embora a série tenha decaído um pouco ao longo do tempo, sua primeira temporada continua sendo assombrosamente espetacular, com uma trama grandiosa e personagens cativantes. E mesmo que não sejam tão boas quanto a primeira, as duas temporadas seguintes ainda possuem vários aspectos interessantes, principalmente no elenco.

Lançada em 2003, Carnivàle poderia ter passado batido por muitos, mas os fãs fizeram dela um verdadeiro sucesso cult - tanto que ainda há quem peça por uma nova temporada, mesmo que a série tenha sido cancelada há quase vinte anos. Ambientada durante a Grande Depressão, a série segue uma trupe de circo itinerante em uma América desolada.

Com seus próprios elementos sobrenaturais e uma nítida inspiração em Twin Peaks, a série é basicamente sobre a eterna luta do bem contra o mal - mas de uma forma muito diferente do que estamos acostumados. Infelizmente, a série foi encerrada em sua segunda temporada sem ter um final definitivo, mas é uma jornada pela qual vale a pena se enveredar.

Outra série que foi cancelada antes do tempo, mas que ainda assim é um verdadeiro espetáculo é Roma, um drama histórico ambientado no Século I a.C. em Roma, bem na transição da República para o Império. Na série, seguimos a vida de dois personagens, Lucius Vorenus e Titus Pullo, cujas vidas são interligadas por acontecimentos históricos.

O plano original era fazer uma série com cinco temporadas, mas devido aos grandes custos de produção, ela foi cancelada após a segunda. De qualquer forma, é uma das obras mais interessantes da HBO, tendo sido lançada de 2005 a 2007, famosa por seus cenários deslumbrantes e por um trabalho formidável de reconstrução de época.

E já que estamos falando de dramas históricos, não podemos mesmo nos esquecer de Chernobyl, uma minissérie de 2019 que conta com apenas 5 episódios e detalha todo o desastre das usinas nucleares de Chernobyl em 1986, bem como todas as tentativas de contenção que vieram após a tragédia colossal. É uma série pesada, densa e cheia de momentos inquietantes.

Contudo, o que torna Chernobyl um verdadeiro tesouro da HBO é não apenas o trabalho de reconstrução de época como também a qualidade da narrativa, com cinco episódios que progridem o enredo em tensão e fúria. Destaque também para o elenco, recheado com nomes de peso como Jared Harris, Stellan Skarsgård, Emily Watson e Paul Ritter.

Michaela Coel já havia se provado um verdadeiro gênio da comédia, mas seu trabalho em I May Destroy You mostra como a atriz, roteirista, produtora e diretora é versátil em todos os campos. A série de drama segue a vida de uma escritora que precisa reconstruir sua vida após um estupro. Aliando seu humor ácido à crítica precisa, ela constrói um drama monstruoso.

É uma série que discute muito a respeito da banalização da violência e como sobreviventes de abuso sexual carregam as marcas, ao mesmo tempo em que não querem - e não devem - ser limitados a isso. Para quem já conhecia o trabalho de Coel em Chewing Gum, fica o convite para assistir uma ótima produção e de brinde levar um soco no estômago.

Encerrando nossa lista com o drama teen mais bem-sucedido da atualidade, Euphoria é uma série que discute a vivência de jovens adolescentes e adultos imersos em uma cultura de drogas e super-exposição. Porém, em vez de fazer disso um conto moralista, a obra de Sam Levinson nos faz refletir sobre como acabamos reforçando essa cultura.

Abrilhantada pelas atuações absurdas de Hunter Schafer e Zendaya, a série já teve sua segunda temporada confirmada e nos fornece um olhar bem único sobre essa efervescência da juventude, ao mesmo tempo em que abre a margem para diversas discussões muito necessárias - tudo isso embalado em uma fotografia magistral e uma trilha sonora deliciosa.