Gladiador é um filme sobre vingança e glória, acompanhando a jornada de Maximus, após a violenta traição de Cómodo, conquistando fama e influência em suas batalhas e através de suas decisões na arena. Na vida real, no entanto, a vida dos gladiadores não era bem assim: os famosos guerreiros do Coliseu eram visto quase como escória por grande parte da população, servindo apenas como entretenimento sangrento.

Porém, ainda que enalteça a jornada de Maximus, o filme se esforça para deixar claro como a trajetória do protagonista é uma exceção à regra, mostrando em segundo plano a vida desolada da maioria dos guerreiros.

Enquanto o status dos guerreiros foi embelezado para o protagonista, o símbolo de liberdade dos ex-gladiadores no filme é histórico.

Aprendemos com a história de Proximus que, quando um gladiador sobreviveu tempo o suficiente para se “aposentar” ou conquistou sua soltura de outra forma, ele recebe uma espada de madeira como seu símbolo de liberdade.

Gladiador se utiliza de vários nomes históricos para tecer sua história, sejam governantes ou guerreiros. Porém, o protagonista, Maximus, não é uma figura do mundo real.

O herói do filme foi moldado através de histórias romanas, mas é um personagem fictício, um avatar da lenda moderna e romântica do gladiador.

Não se engane: Maximus Decimus Meridius pode até ser fictício, mas ele foi criado com base em fatos históricos. Por exemplo, a ideia de que o Senado romano poderia indicar um governante interino, vindo das forças militares, durante períodos de extrema necessidade é factual.

Inclusive, há a história de que, em certo ponto, o Senado apontou o general Lucius Quinctius Cincinnatus como líder interino para lidar com uma ameaça poderosa. Cincinnatus teria lidado com o problema rapidamente – 15 dias, diz a lenda – e, ao fim, renunciou ao posto e voltou para sua vida normal. Isso é, claramente, uma inspiração para a recusa de Maximus a assumir o trono no longa, parte das várias peças que compõem o personagem.

Do outro lado, tanto o Imperador Marco Aurélio, quanto seu filho, Cómodo, são figuras históricas famosas. Marco Aurélio é considerado o último do quinteto de grandes imperadores romanos, registrado como um ótimo governante, reinando entre os anos 161 e 180 dC. Já Cómodo, o vilão do longa, possui uma história ainda mais desvairada no mundo real, uma mancha no império, assumindo o poder após a morte de seu pai.

Aliás, a morte dessas duas figuras foi dramatizada no filme por mais entretenimento, porque a versão real dessas histórias não é tão interessante. Enquanto o filme cria sua narrativa de traição e vingança entre Maximus, Marco Aurélio e Cómodo, a história conta que Marco Aurélio morreu de causas naturais, não assassinado, e Cómodo foi morto por seu parceiro de treino, que foi pago pelo assassinato do Imperador.

Essa é um tanto complexa; uma das marcas mais icônicas de Gladiador não é totalmente fiel à história. Estamos falando dos momentos onde, durante as batalhas, o longa coloca a decisão das batalhas nas mãos do Imperador, Cómodo, que levanta ou abaixa o polegar para indicar o final da luta: clemência ou morte.

Ainda que a decisão do editor muneris (o “árbitro” da luta, que também pode ser um Senador ou outro tipo político) e o símbolo sejam históricos, a ideia do polegar baixado simbolizar morte é uma dramatização de Gladiador. Na verdade, é uma inspiração na pintura “Pollice Verso”, de Jean-Léon Gérôme, que mostra o público pedindo a morte de um gladiador caído usando o polegar baixado.

Historicamente, o editor e o público usavam, sim, gestos para indicar sua vontade durante uma batalha de gladiadores. No entanto, não é apenas polegar para cima ou para baixo, mas símbolos com o indicador e dedo médio, gestos com a cabeça e o uso de lenços. E ainda que existam debates sobre o assunto, é considerado que o polegar para cima significava, na verdade, morte ao perdedor.

No fim, o que Gladiador fez foi simplificar a situação para um melhor entendimento, mas ainda mantendo a raiz histórica.

Por fim, Gladiador 2 chega com mais uma infinidade de referências históricas e dramatizações sensacionais do mundo romano. Tudo começa pelo novo protagonista, Lucius Verus que, dessa vez, é uma figura histórica real, mas há um porém: é registrado que Lucius Verus II morreu quando criança, muito antes da época em que o filme se passa.

Lucius é um personagem do primeiro Gladiador, filho de Lucilla e sobrinho de Cómodo. No entanto, ele já é pseudo fictício no filme original, quando o Lucius da vida real, assim como muitos dos filhos de Lucilla, morreu jovem. Caso estivesse vivo, ele entraria na linha de sucessão ao trono, o que bate com a história desenvolvida nos dois longas.

Assim, o Lucius de Paul Mescal funciona de uma forma muito similar com o Maximus de Russel Crowe; ele é feito de várias peças, reais e fictícias, para representar o espírito gladiador como um todo.

Os portões do Coliseu serão reabertos! Gladiador 2 chega aos cinemas brasileiros em 14 de novembro. Saiba como garantir seu ingresso neste link.