8 finais “abertos” de filmes que até hoje muita gente não entende

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8 finais “abertos” de filmes que até hoje muita gente não entende

Por Gus Fiaux

Embora um desfecho satisfatório seja sempre bem-vindo em qualquer filme, muitas obras ganham uma qualidade especial ao se aproveitarem de finais abertos – ou seja, quando nem tudo é totalmente explicado ou resolvido em tela, deixando peças para que o público possa montar sua própria interpretação dos eventos.

Isso sempre rende bons materiais de discussão em rodinhas de conversa ou em podcasts de cinema, e há aqueles finais que, de tão emblemáticos, podem não ser compreendidos totalmente até hoje. Por isso, aqui reunimos 8 finais “abertos” de filmes que muita gente não entende!

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2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)

Provavelmente o longa mais simbólico da carreira de Stanley Kubrick, o clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço revolucionou a ficção científica, bem como o uso de efeitos visuais no cinema. Aqui, partimos desde a aurora da humanidade, que evoluiu graças ao contato com um monólito misterioso. Então, saltamos para milhões de anos no futuro.

A trama então segue alguns astronautas enviados em uma missão espacial a bordo da nave Discovery One, comandada pela uma inteligência artificial HAL 9000. O filme termina com um dos astronautas entrando em um tipo de vórtice e despertando em um quarto, onde se depara com o monólito e se transforma em um grande bebê cósmico.

O desfecho deixou muitas pessoas encabuladas na época de seu lançamento, e talvez exija um pouco mais de abstração do que estamos acostumados nas telas de cinema. Basicamente, Kubrick demonstra como, ao entrar em contato com o Monólito novamente, a humanidade está pronta para evoluir de novo e alcançar um novo estágio - representado pela Criança Cósmica.

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Blade Runner: O Caçador de Androides (1982)

Considerado por muitos como a obra-prima de Ridley Scott, o neonoir Blade Runner: O Caçador de Androides é inspirado em um livro adorado de Philip K. Dick e se passa em um universo futurista, no ano de 2019. No entanto, a humanidade não é a única espécie senciente do Planeta Terra, já que esse universo conta com a existência de androides disfarçados.

Por isso, acompanhamos a jornada do ex-policial Rick Deckard, que parte em uma missão para capturar e impedir alguns androides (ou, como o longa chama, "replicantes") que estão à solta tocando o terror. Ao fim, temos o épico embate filosófico entre o personagem e seu maior antagonista, Roy Batty, que faz seu lindo monólogo sobre memórias e lágrimas na chuva.

Um dos grandes mistérios levantados pelo longa, contudo, é a possibilidade de que o próprio Deckard também seja um Replicante. Várias pistas podem ser vistas espalhadas ao longo (das várias versões) do filme, e nem mesmo a sequência dirigida por Denis Villeneuve, o ótimo Blade Runner 2049, bate o martelo em definitivo sobre a verdadeira identidade de Deckard.

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Psicopata Americano (2000)

Baseado no polêmico livro homônimo de Bret Easton Ellis e dirigido pela canadense Mary Harron, o enervante - e hilário - Psicopata Americano é uma análise satírica e afiada da cultura yuppie e dos novos empresários surgidos nos Estados Unidos na década de 90. Então, seguimos a perspectiva de Patrick Bateman, um executivo narcisista e, é claro, psicótico.

Bateman deixa uma trilha de vítimas por onde passa, desde prostitutas a seus próprios colegas de trabalho, como Paul Allen (vivido por Jared Leto). Ao fim do filme, enquanto acompanhamos uma tensa sequência onde nosso serial killer engravatado acredita estar perto de ser capturado, logo vemos Paul Allen vivo e completamente seguro, sem nenhum arranhão.

Para muitos, esse é um indício de que todos os "crimes" de Patrick Bateman foram apenas fruto de sua mente doentia, e nunca chegaram a ocorrer de verdade. Porém, esse não é bem o caso. Na verdade, o filme brinca com uma forte possibilidade de que nem todos os assassinatos de Bateman são reais - mas alguns podem ser.

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Cidade dos Sonhos (2001)

Se você conhece o trabalho de David Lynch, já deve saber que o diretor é conhecido por brincar com o surrealismo e o absurdo em suas obras, desde os seus primeiros longas como Eraserhead até sua obra-prima definitiva, a série de TV Twin Peaks. Porém, um dos filmes mais hipnotizantes da carreira do cineasta é, sem dúvidas, Cidade dos Sonhos.

Estrelado por Naomi Watts e Laura Harring, o filme segue essa mesma abordagem psicodélica para contar a história de Diane Selwyn, uma atriz malsucedida na indústria que se apaixona pela talentosa Camilla Rhodes. O filme sugere que, enciumada por Camilla, Diane mandou matá-la e o que vemos em tela é parte da alucinação que ela teve após o crime.

Durante boa parte do longa, Diane "vira" Betty e Camilla "vira" Rita, e as duas têm um relacionamento que se desabrocha aos poucos, simbolizando a obsessão de Diane que levou ao crime. Ainda que seja um filme complexo, é a tentativa de fazer leituras superficiais e literais do enredo que faz com que muitos, até hoje, não entendam a interpretação surrealista do longa.

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Na Natureza Selvagem (2007)

Entre todos os filmes da lista, Na Natureza Selvagem de Sean Penn é o que tem o final menos aberto. Inspirado no livro de mesmo nome de Jon Krakauer, o longa desenvolve a história de Christopher McCandless - ou, como passa a ser conhecido, Alexander Supertramp -, homem que viajou dos Estados Unidos ao Alasca a pé e morreu solitário.

O filme estrelado por Emile Hirsch mostra como McCandless se cansou da vidinha que levava e decidiu se aventurar por conta própria, em busca de uma solidão inalcançável. O filme então encerra mostrando como ele abriu mão de uma verdadeira felicidade em busca de um sonho impossível, e isso o levou a um fim trágico.

Na Natureza Selvagem causa debates até hoje por conta da interpretação de seu público. Alguns veem a história de McCandless/Supertramp como uma espécie de inspiração, algo que a própria narrativa dialoga contra, ao bater tanto na tecla da importância de conexões humanas para que a felicidade possa ser, acima de tudo, compartilhada.

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A Origem (2010)

Lançado em 2010, A Origem foi um dos filmes de maior sucesso para o seu diretor, Christopher Nolan. Estrelado por um elenco de peso, o longa logo nos leva em uma jornada por um mundo em que os sonhos de qualquer pessoa podem ser "invadidos" graças a uma tecnologia especial. E para saber se o que estão vivendo é sonho ou realidade, nossos protagonistas criam um método.

Ao longo do filme, Dom Cobb (interpretado por Leonardo DiCaprio) é visto usando um pião para discernir o que é realidade e o que não é. Se ele se vê em um sonho, o pião não para de rodar, mas se trata-se da realidade, ele logo para após algumas voltas. O filme, no entanto, acaba com Cobb indo à sua casa e reencontrando sua família.

O personagem chega a girar o pião, mas não sabemos o que aconteceu com ele, já que a tela é subitamente apagada para dar lugar aos créditos. Embora muitos fãs discutam as possibilidades até hoje, o próprio Christopher Nolan preferiu deixar as interpretações em aberto, sem dar uma resposta exata ao mistério do encerramento.

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O Homem Duplicado (2013)

Inspirado em um livro homônimo de José Saramago, o thriller de 2013 O Homem Duplicado, estrelado por Jake Gyllenhaal, acompanha a vida de um professor universitário que se surpreende ao descobrir um clone seu andando por aí, e as vidas de ambas essas versões vão, aos poucos, se mesclando em uma coisa só.

Porém, o longa de Denis Villeneuve (sim, o mesmo diretor de Duna) é repleto de simbologia e elementos surrealistas, de modo que a interpretação literal soa um pouco incompleta. Isso fica mais evidente ao final, quando um dos personagens vividos por Gyllenhaal vai atrás de sua esposa que, do nada, se transforma em uma aranha gigantesca.

Aranhas são símbolos recorrentes na construção visual do filme, e há vários motivos para isso, como a relação simbólica entre aracnídeos e maternidade estudada na psicanálise. Claro, Villeneuve não espera que seu público saiba desses detalhes meticulosos, mas o filme busca uma reação mais visceral e imediata - algo que uma interpretação literal pode prejudicar.

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Nós (2019)

Escrito e dirigido por Jordan Peele, o excelente Nós aborda o terror de uma forma muito mais explícita que seu longa anterior, Corra!. Aqui, há uma família passando as férias no litoral dos Estados Unidos, quando logo se veem visitados por "clones do mal" deles mesmos, que pretendem matá-los e tomar seus lugares.

O filme então tem dois pontos importantes em seu desfecho que são motivo de discussão até hoje: a origem dos doppelgängers e o final, em que todos os "clones" seguram as mãos. A primeira é fácil: eles são clones genéticos que foram criados pelo governo norte-americano para controlar a população da "superfície", mas logo foram abandonados e deixados para viver no subsolo.

A segunda é um pouco mais complexa e faz referência ao movimento Hands Across America, uma campanha beneficente criada em 1986 que envolvia a criação de um cordão humano ligando as costas leste e oeste dos EUA. Como Addy, a protagonista, foi "substituída" por seu clone genético, Red, e passou anos vivendo no subsolo, ela levou essa ideia para os doppelgängers criarem uma espécie de revolução.