8 filmes que são sobre política e muita gente não percebe

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8 filmes que são sobre política e muita gente não percebe

Por Leo Gravena

Denominada como a “arte ou ciência de governar”, a política é um elemento presente no nosso cotidiano e nas nossas vivências, e não apenas em ano de eleição. Nos últimos anos, criou-se um movimento sobre como a “arte deveria deixar de trazer política nos filmes, séries e nas outras expressões”, o que simplesmente é impossível, já que a arte – assim como a vida – existe em um contexto político. 

Tantas obras que gostamos da nossa infância e juventude carregam consigo uma grande amplitude de temas e discussões políticas, que vão desde a luta contra o fascismo e a tirania até a conquista de direitos por populações marginalizadas. E é pensando nisso que reunimos aqui 8 filmes que falam diretamente sobre política – mas muita gente não percebe!

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Star Wars (1977-Presente)

Uma das franquias mais prolíficas da cultura pop, Star Wars sempre carregou uma forte atmosfera política em sua história, desde que Uma Nova Esperança chegou aos cinemas em 1977. O filme, em si, mostra com perfeição a luta de uma aliança rebelde contra um império tirano, fascista e que suprime as liberdades da população que governa.

Em entrevistas posteriores ao lançamento do filme, o próprio George Lucas admite que muito de sua ideia partiu da mentalidade coletiva pós-Guerra do Vietnã, e que os rebeldes, de certa forma, representam os vietcongues lutando contra a invasão e a carnificina proposta pelos Estados Unidos entre as décadas de 50 e 70.

Claro que esses temas ficam muito mais evidentes na Trilogia Prequel, que é composta por A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith. Porém, todas as demais obras da série trazem metáforas e analogias que refletem a situação política mundial - então não, Star Wars não “virou política” por ter transformado uma mulher em protagonista em sua trilogia mais recente - ela sempre foi.

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Matrix (1999)

Passando para um exemplo polêmico, podemos citar Matrix e suas continuações, a saga criada pelas Irmãs Wachowski que se tornou um verdadeiro pináculo da moda, do entretenimento e da cultura mundial. Na superfície, os filmes mostram um grupo de pessoas que precisam se rebelar contra “o sistema” que aliena a população.

Além do viés mais óbvio, a franquia ainda traça críticas contra o avanço desenfreado da tecnologia e como a vida das pessoas foi impactada por isso, no melhor estilo cyberpunk que a saga ajudou a popularizar. Leituras mais recentes indicam que o filme também fala sobre corpos transgêneros - algo que foi endossado pelas Wachowski, duas mulheres trans.

Infelizmente, Matrix acabou sendo cooptado pela extrema-direita como parte de um discurso que exclui e aniquila minorias e pensamentos progressistas - tanto que a noção das pílulas azul e vermelha acabou gerando gírias como “bluepilled” e “redpilled”, que são usados em fóruns ou então pelos incels - uso que as criadoras abominam e renegam.

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Superman: O Filme (1978)

No campo dos super-heróis, não é diferente, e é impossível encontrar um herói que tenha vertentes mais políticas que o Superman. Criado por dois artistas judeus, o Homem de Aço acabou se tornando uma figura que representa “a verdade, a justiça e o jeito americano”, frase que inclusive foi reformulada recentemente para refletir povos do mundo inteiro - tanto que agora ele luta “pela verdade, pela justiça e por um mundo melhor”.

Superman: O Filme, de 1978, reflete muitos desses elementos ao colocar o herói para enfrentar Lex Luthor, um bilionário que pretende usar armas nucleares para detonar a Falha de San Andreas e criar um novo país que seria comandado por ele. Aqui, vemos um herói se revoltando contra interesses de mercado pela defesa de seu povo.

E não pense que apenas o filme original lida com esses questionamentos. Homem de Aço, de 2013, mostra o herói lutando contra membros de sua própria raça, que planejam o genocídio da espécie humana - o que ressalta ainda mais a metáfora de Clark Kent como um refugiado imigrante, que se torna um símbolo de luta para as pessoas que o acolheram na Terra.

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X-Men 2 (2003)

Quem conhece a fundo os quadrinhos dos X-Men sabe que a mensagem por trás de suas histórias sempre teve um fundo político muito poderoso, ao mostrar a luta de minorias contra o fanatismo e a intolerância. Porém, X-Men 2 leva isso a outro estágio ao tratar de grupos militares em busca do extermínio de uma espécie.

Claro que as comparações são bem nítidas desde o começo, com Magneto sendo um sobrevivente do Holocausto. Os outros filmes da saga também exploram esses pontos de maneira bem incisiva, ao mostrar políticos e senadores norte-americanos passando projetos de lei que criminalizam e estigmatizam os mutantes apenas por serem quem são.

Mas voltando ao segundo filme, fica a recomendação: leiam também a HQ que deu a base para a história, Deus Ama, o Homem Mata, já que nela, William Stryker é um pastor que prega que os mutantes são “enviados do diabo”, uma crítica bem óbvia ao fanatismo religioso e à perseguição de grupos marginalizados.

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Nós (2019)

O terror é um dos gêneros que melhor trata de metáforas políticas e sociais, justamente por explorar os medos de diferentes grupos. Em 2019, após ter parado o mundo com seu primeiro longa-metragem Corra!, o roteirista e diretor Jordan Peele voltou com uma nova obra-prima, Nós, que tem críticas muito mais sutis e elaboradas.

Se Corra! já trata do racismo estrutural com grande afinco, Nós mostra literalmente um grupo de pessoas vivendo no subsolo e servindo aos interesses da população que mora na superfície. Um dia, eles se rebelam e começam a substituir suas contrapartes “superiores”, de modo que terminamos sem saber quem é algoz e quem é vítima.

As metáforas do filme são ainda mais intensificadas quando pensamos que o diretor usa um evento da vida real, o movimento Hands Across America, quando milhões de pessoas deram as mãos através dos Estados Unidos em uma campanha de arrecadação para ajudar os pobres e necessitados. Está longe de ser apenas um filme sobre assassinos misteriosos.

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O Massacre da Serra Elétrica (1974)

Porém, se voltarmos no tempo, ainda temos outro filme muito querido que também traz uma série de questões políticas em sua narrativa. O Massacre da Serra Elétrica, de 1974, foi dirigido por Tobe Hooper e deu as bases para o cinema slasher, apresentando um assassino icônico na forma de Leatherface.

Além das bizarras inspirações em histórias reais, o filme também bebe dos conflitos ideológicos entre a população americana após a Guerra do Vietnã, com as vítimas representando os jovens hippies e de bem com a vida, enquanto a família de Leatherface - caipiras do sul americano - são metáforas para os horrores da guerra.

O próprio Leatherface é um exemplo perfeito disso, já que seu rosto mutilado nunca é explicado - ao menos não no filme original -, o que abre margem para a interpretação de que ele seria um veterano da guerra, abandonado ao deus dará pelas instituições que deveriam acolhê-lo. Além disso, a ideia de que todos são canibais parte de outro princípio: a fome e a miséria, que nunca são combatidas como deveriam.

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Uma Aventura LEGO (2014)

Entrando no campo das animações, podemos ver que até os desenhos que tanto amamos têm um fundo político. Um bom exemplo disso é Uma Aventura LEGO, de 2014, que vai muito além de ser apenas um festival de propriedades intelectuais em cenários coloridos e cheios de vida.

Na verdade, o filme nos narra a história de Emmett Brickowski, um homem comum e ordinário que acaba sendo confundido com o “Escolhido” e precisa lutar contra um sistema alienador - isso é tão óbvio que até a música mais famosa do filme, Everything is Awesome, toca o tempo inteiro para reforçar uma ideia de normalidade e controle das massas.

Claro que, no fim, tudo não passa de um momento divertido entre uma criança e seu pai, que estão brincando com vários LEGOs. No entanto, o filme traz essas camadas sem nenhuma sutileza - e a continuação, lançada em 2019, ainda mostra alguns elementos de luta de classes e colonização, através da figura da Rainha Tuduki Eukiser'Ser.

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O Corcunda de Notre-Dame (1996)

Por fim, resta dizer que não é de hoje que os filmes da Disney tratam de temas políticos. Pinóquio já mostra às crianças temas como exploração infantil. O Caldeirão Mágico, como tantos outros, trata da luta contra um governo tirano. 101 Dálmatas fala de maus-tratos animais. Mas nenhum traz alegorias tão óbvias quanto O Corcunda de Notre-Dame, de 1996.

Na trama, o corcunda Quasímodo é tratado como lixo pela sociedade e vive escondido na Catedral de Notre-Dame, onde é hostilizado pelo clérigo local, o Juiz Claude Frollo. Sua melhor amiga, Esmeralda, é uma cigana que é tratada como bruxa pelo padre, e em dado ponto declara uma revolução contra a tirania.

Além de tocar em pontos como intolerância e preconceito, o filme ainda trata da teocracia - ou seja, o governo a partir da religião - como algo cruel e impiedoso, que exclui todas as fés que não sejam a dominante. Um momento que deve ser eternizado se dá quando Claude exige silêncio e Esmeralda rebate, gritando “Justiça!