Família Dinossauro foi ao ar pela primeira vez em 26 de abril de 1991, contando com quatro temporadas e 63 episódios de pouco mais de 20 minutos cada, o programa teve sua trágica conclusão exibida em 19 de outubro de 1994.

A sitcom foi criada por Michael Jacobs, que também serviu de produtor, e Bob Young. Brian Henson atuou como produtor executivo. O design dos personagens foi criado por Kirk Tatcher, conhecido por seu trabalho com os Muppets, por escrever alguns episódios de A Mansão Foster para Amigos Imaginários e por dirigir o programa infantil Lazzy Town.

Em 1988 Jim Henson estabeleceu a ideia de criar uma sitcom com uma família de dinossauros, falecendo em 1990, um ano antes de ver seu trabalho ganhando vida. Alex Rockwell, vice presidente da organização Henson, afirmou em uma entrevista para o The New York Times, que as pessoas acreditavam que essa era uma ideia louca demais.

O interesse de Jim pelos dinossauros começou nos anos 1980, quando ele trabalhou junto de William Stout em um filme com dinossauros animatrônicos chamado The Natural History Project que seguiria os moldes de Dark Cristal contando uma história mais sombria com fantoches e marionetes bem detalhadas. Na época, a Disney pausou o desenvolvimento do projeto por conta de Em Busca do Vale Encantado a clássica animação sobre dinossauros da Universal. Alguns anos depois, o estúdio autorizou que The Natural History Project fosse finalizado, mas Jim já havia falecido.

O trabalho de Jim, algo no que ele focou até os últimos dias de sua vida, acabou sendo transformado em Família Dinossauro quando a Disney decidiu iniciar a produção da série nos anos 1990, inicialmente almejando lançar a sitcom na CBS, apenas para seguir com a série para a ABC, que acabou sendo adquirida pela Disney posteriormente.

(Imagem de alguns animatrônicos utilizados por Jim Hemson na série)

O sucesso indiscutível da série foi reconhecido logo em seu lançamento e, por esse motivo, Michael Jacobs não enfrentou interferências do estúdio no projeto. Mesmo assim, o seriado sofreu com sua audiência por constantemente ser modificado de horário na grade da ABC.

Somando a isso, Stuart Pankin, a voz original do Dino da Silva Sauro, afirmou que a série era a produção de 30 minutos mais cara da época, por conta dos custos das marionetes e animatrônicos.

“Eu ouvi dizer que era o programa televisivo de meia-hora mais caro, pelo menos na época, por causa da manutenção dos animatrônicos,” disse Pankin em uma entrevista para a Vulture. “No fim, não compensava mais [manter a série].”

Assim, juntando a queda na audiência e os gastos, a série foi cancelada. Ao invés de um final abrupto, no entanto, toda a quarta temporada foi planejada para finalizar a história. Na mesma entrevista, Michael Jacobs o co-criador do projeto, explicou que eles sempre pensaram na extinção para concluir a trama.

“Desde o primeiro momento em que conversamos sobre essa série, nós discutimos a ideia de que era a domesticação desses dinossauros que fez com que eles fossem extintos. A coisa que os humanos sabiam sobre os dinossauros era que, no fim, eles foram extintos, então nós sempre tivemos essa ideia em nossas mentes. A série seria finalizada ao completar sua metáfora e mostrar essa extinção,” disse.

Dino da Silva Sauro, o patriarca da família e grande protagonista da história, era um Megalossauro; Fran, a mãe e dona de casa, é uma Alosauro; Robbie, o filho mais velho do casal, é um Hipsilofodonte; Charlene, a filha do meio, é uma Protoceratops; Baby, o caçula estridente da família, é também um Megalossauro; Por fim, mas não menos importante, Ethyl, a mãe de Fran, que também faz parte da família em ocasiões especiais, é uma Edmontonia.

O elenco de coadjuvantes continua trazendo uma diversidade de dinossauros. Roy, o melhor amigo de Dino, é um Tiranossauro Rex, enquanto o chefe deles, o Bradley, é um Estiracossauro. Monica, a melhor amiga de Fran, é uma Brontossauro; Spike, o melhor amigo de Robbie, é um Polacanthus.

Ainda que no Brasil a excelente tradução da sitcom tenha entregado trocadilhos e piadas maravilhosas, a produção original carregava alguns detalhes mais críticos. O sobrenome da maioria dos personagens (Phillips, Sinclair, Hess e Richfield) eram baseados em empresas de combustíveis.

A empresa de combustíveis e exploração de petróleo Sinclair, sobrenome original dos da Silva Sauro, ficou conhecida por utilizar dinossauros como mascote e parte intrínseca do seu logo por muitos anos.

Ainda que muitas pessoas acreditem que a discussão de temas políticos e socialmente relevantes é algo recente, começando em meados dos anos 2010, isso está longe de ser verdade. Família Dinossauro é um dos exemplos disso, trazendo mensagens de extrema importância sobre os mais variados assuntos.

O programa do começo dos anos 1990 já discutia sobre problemas como machismo, direitos das mulheres, objetificação feminina, luta de classes, exploração nociva do meio-ambiente, racismo, uso de drogas, direitos dos povos nativos, assédio sexual, direitos da população LGBT, censura, problemas envolvendo direitos civis e, principalmente, questões ligadas ao meio-ambiente. Ainda que nem todos esses temas fossem trabalhados de forma clara, as alusões e metáforas que eram empregadas de forma satírica sempre transmitiam uma mensagem de respeito e inclusão, além de conscientização.

Segundo Michael Jacobs a ABC requisitava que esses temas fossem abordados e não se importava com a proposta mais “militante” do programa. “Depois do sucesso inicial da série, eles basicamente nos deixaram em paz, especialmente depois que o Baby se tornou um sucesso. Contanto que o Baby batesse na cabeça do seu pai com uma panela, a gente poderia usar isso para esconder qualquer coisa [política],” revelou o co-criador na mesma entrevista à Vulture.

Outra crítica bem recorrente na série era contra a própria televisão. Ao longo dos episódios Dino aparece assistindo TV em praticamente todo o tempo livre que possui, o que rende diversas piadas de que a televisão deixa as pessoas mais preguiçosas e burras.

Em Família Dinossauro, encontramos diversas referências aos programas e filmes da época, assim como críticas ao consumo desenfreado estimulado pela televisão.

Um dos episódios mostra uma sátira do dinossauro Barney em um programa infantil, com Dino e Fran reclamando que o personagem era irritante e não ensinava nada de útil para as crianças.

Assim como alguns outros programas dos anos 1990, o final de A Família Dinossauro é bem agridoce. Por causa da ganância na exploração dos recursos naturais em nome do capitalismo, há um desequilíbrio ambiental que resulta em uma Era do Gelo que, eventualmente, mata todos os personagens que conhecemos e amamos da série.

O último episódio mostra a família Silva Sauro se reunindo para assistir a migração anual dos besouros locais, mas as criaturas nunca aparecem por conta da destruição e pavimentação dos pântanos, feita pela empresa na qual Dino trabalha. “Meu parceiro de escrita Bob Young e eu decidimos que o fim dos dinossauros deveria vir da criatura mais inferior possível,” explicou Jacobs em entrevista para a Vulture. “Nós sentimos que a metáfora do episódio era de que nós, os humanos, podemos não ver o que vai nos destruir se não formos vigilantes.”

É o que acontece na série, Dino foi encarregado de lidar com o pântano, usando um veneno para acabar com as plantas que atrapalhavam as fábricas na qual ele trabalhava. O uso do herbicida sai fora do controle e, rapidamente, todas as plantas do planeta são destruídas. Dino não se importa com isso, acreditando que na próxima chuva tudo voltaria ao normal, por isso ele lança bombas em um vulcão na esperança de que isso formassem nuvens e trouxesse a chuva. O plano, mais uma vez, sai pela culatra e há uma grande nevasca.

Com o frio, toda a população compra o máximo de aquecedores, chocolates e cobertores, o que aumenta absurdamente os lucros da empresa. No fim, Dino se dá conta do que ele fez e pede perdão para sua família, reconhecendo que ele tratou a natureza como um recurso inesgotável. Tentando consolar Baby, ele diz que todo mundo vai ficar bem uma vez que os dinossauros estiveram na Terra por mais de 150 milhões de anos. Enquanto sua família se junta para tentar escapar do frio, a última cena mostra a casa da família coberta por neve.

"Nós queríamos fazer esse episódio ser educativo para o público,” disse Jacobs. “Se o seriado teve algum objetivo era que os jovens entendesse que a extinção é uma possibilidade, para que eles pudessem lembrar seus pais de que, caso eles não cuidassem do planeta por eles mesmos, eles deveriam fazer isso por seus filhos.”

Ainda que a mensagem de extinção seja uma boa metáfora para conscientização, a ABC não gostou dessa ideia. Jacobs revelou que Ted Harbert, o presidente da ABC na época, ligou para ele uma manhã para reclamar da proposta:

”Ele disse: ‘De onde veio essa ideia de que você pode destruir todo o elenco no último episódio?!’ E eu respondi: ‘Bem, Ted, não é o elenco que estamos tentando destruir, é o mundo inteiro. E minha fonte pra isso é a própria história!’ Ele pensou nisso por uns 30 segundos, ficando em silêncio no telefone, e disse apenas ‘Ok.’”

Jacobs reforçou que a ideia de extinção sempre está presente quando falamos de dinossauros e que a equipe do show decidiu utilizar isso. O resultado foi chocante, mas não houve muitos comentários enfurecidos do público.

“Todo mundo ficou chocado no começo, mas eu acho que era mais sobre a série estar acabando. Houve muita tristeza por causa disso,” recorda Jacobs. Após receber diversas cartas dos fãs, ficou claro que a mensagem havia sido captada. “Eles entenderam o final criativo que apresentamos, e eles ficaram tristes com a previsão que apresentamos na história. Se o seriado estivesse indo ao ar hoje, isso teria quebrado a internet.”

Ainda em 1993, antes da última temporada de Família Dinossauro ser exibida, Michael Jacobs criou um piloto de uma outra série de comédia dos tempos antigos. Chamada de Fist Family and The Ooof Show, o programa seria focado nos homens das cavernas lidando com praticamente os mesmos temas do programa de dinossauros. A ideia era ser uma espécie de spin-off/continuação, mas dessa vez com mamíferos ao invés das criaturas que vemos no programa clássico.

A equipe de produção incluía nomes de Família Dinossauro, como os roteiristas Tim Doyle e Bob Young, e atores que fizeram parte do outro programa. Ao invés de ser uma produção da Disney ou da ABC, o produto estava sendo visado para a Fox. A série não foi pra frente e não teve seu piloto aprovado ainda assim, supostamente o vídeo acima é de uma cena deste piloto cancelado.

Família Dinossauro estreou no Brasil em 1992, passando no Xou da Xuxa, pela Rede Globo. A sitcom fez muito sucesso, o que estimulou a emissora a colocar o programa em outros horários, como no domingo entre Domingão do Faustão e Fantástico.

Em 1993, a série atingiu um novo patamar de sucesso, dessa vez dentro do programa infantil TV Colosso, conquistando inúmeros produtos licenciados no país -- como camisetas, bonés, chaveiros e até mesmo album de figurinhas e um LP. Uma revista em quadrinhos, que nos Estados Unidos só teve duas edições, chegou a ser publicada no país, ganhando outras 18 edições criadas de forma original pela Editora Abril.

Com diversas reprises, a série foi tirada da programação em 1995, mas retornou em 1997 em Angel Mix, o programa da Angélica.

A partir dos anos 2000, a sitcom passou para a SBT, onde foi colocado em diversos horários da programação.

Em 2007, Família Dinossauro foi para a Rede Bandeirantes, conquistando uma marca de audiência surpreendente para o horário que era exibido na emissora. Após rodar por praticamente todos os horários do canal de televisão, por volta da dos anos 2010, Família Dinossauro ficou um bom tempo sem ser exibido.

Em 2014, o Canal Viva adquiriu os direitos de exibição da série e incluiu a sitcom em sua programação.

A partir do dia 13 de agosto, Família Dinossauro estará disponível no Disney+. A plataforma de streaming anunciou a chegada da adorada família, garantindo que todas as temporadas estarão em seu catálogo.

Então marque na sua agenda e prepare sua maratona dessa sitcom maravilhosa!