10 estereótipos femininos que Hollywood precisa parar de usar
10 estereótipos femininos que Hollywood precisa parar de usar
Os estereótipos que Hollywood continua usando para representar mulheres no cinema
Desde que o cinema é cinema, estereótipos femininos seguem perpetuando falsas idealizações e representações sobre mulheres. Isso não acontece apenas na ficção, já que esses discursos equivocados também contribuem para a consolidação de visões machistas e preconceituosas na vida real – um fato que Hollywood ainda insiste em ignorar hoje em dia.
Em vista disso, nesta lista você vai conhecer 10 estereótipos femininos no cinema que, mesmo com as mudanças provocadas por movimentos feministas, Hollywood continua usando, mesmo que discretamente.
Manic Pixie Dream Girl, ou “Eu não sou como as outras garotas”
Perpetuado por personagens como Ramona Flowers em Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010) e a Summer de Zooey Deschanel em (500) Dias Com Ela (2009), o termo Manic Pixie Dream Girl foi cunhado pelo crítico de cinema Nathan Rabin a partir de uma análise da personagem de Kirsten Dunst em Tudo Acontece em Elizabethtown (2005).
Basicamente, a Manic Pixie Dream Girl é aquela personagem feminina que existe somente para ensinar lições de vida aos protagonistas masculinos. Envolvidas em uma aura de mistério que recebe pouco (ou quase nada) aprofundamento, essas figuras são a epítome do “eu não sou como as outras garotas”, já que apresentam interesses distintos daqueles erroneamente considerados como “femininos”, como músicas pop ou livros de romances (só para citar alguns).
Elas são “diferentes”, mais maduras e com um passado enigmático que capta a atenção do protagonista masculino, que geralmente é um homem introvertido que sonha com uma mulher idealizada – a “dream girl”, ou a garota dos seus sonhos que vai mover mundos para agradá-lo.
Para ilustrar, é só pensar na icônica cena do elevador de (500) Dias Com Ela, quando a Summer percebe que Tom (Joseph Gordon-Levitt) está ouvindo a banda The Smiths, e ele logo se apaixona por ela já que, na sua visão, escutar o grupo equivale a uma mulher que não é igual às outras.
A mulher na geladeira
Outro estereótipo que ainda marca presença em produções hollywoodianas é o “a mulher na geladeira”. Uma famosa “representante” dessa categoria é Gwen Stacy, das histórias do Homem-Aranha, assim como boa parte das personagens femininas dos filmes de Christopher Nolan.
Tradução do termo Woman in Refrigerator, cunhado por Gail Simone, a mulher na geladeira é aquela figura feminina que existe exclusivamente para dar uma motivação ao personagem masculino com quem ela se relaciona. Geralmente, é um dispositivo de enredo que coloca mulheres em uma posição de violência e crueldade, já que essas personagens morrem – ou sofrem algum tipo de atrocidade na trama – apenas para que os homens encontrem sua motivação
Como dito, a filmografia de Nolan está recheada de personagens femininas que ficam na “geladeira”, como seu famoso A Origem (2010), Tenet (2020) e o recente Oppenheimer (2023).
A ex-namorada louca
Um dos estereótipos femininos mais usados por Hollywood é o da ex-namorada louca. Muito presente em comédias românticas, por exemplo, o termo se refere a mulheres que costumavam namorar os protagonistas e que, após o término do relacionamento, tornaram-se loucas e obcecadas por ele.
Tratadas como vilãs e emocionalmente instáveis, as ex-namoradas problemáticas se transformam em um grande pesadelo na vida dos “mocinhos” quando esse tropo é utilizado, já que elas são representadas como agressivas e caóticas (algo que, na vida real, é o completo oposto). O estereótipo ajudou a perpetuar discursos equivocados sobre ex-namoradas, que seguem aparecendo na ficção vez ou outra.
Alguns exemplos populares deste tropo estão nos filmes Atração Fatal (1987) com a personagem de Glenn Close e Minha Super Ex-Namorada (2006), longa estrelado por Uma Thurman que é basicamente a própria definição do estereótipo.
A donzela em perigo
Muito usado em histórias de época e contos de fada, a donzela em perigo é um estereótipo feminino antigo em Hollywood. Seu uso consiste em colocar mulheres em posição de perigo apenas para que homens poderosos – ou montados em cavalos brancos – partam em uma grande missão para salvá-las.
Nesse tropo, as mulheres geralmente são tratadas como indefesas e incapazes de se salvarem do perigo sozinhas: a única maneira de sair viva da situação é se um homem vier ao seu resgate. Além disso, a donzela muitas vezes é usada como um “prêmio” para o protagonista, que após salvá-la “ganha” o direito de ser feliz para sempre com ela.
Basta olhar histórias como as da Branca de Neve, Rapunzel ou outras princesas conhecidas, por exemplo, para perceber como esse estereótipo está tão enraizado na ficção que, ao longo dos anos, passou a ser concebido como algo “normal”, embora seja extremamente danoso para a vivência de mulheres na vida real.
Outros exemplos de donzelas em perigo estão nas histórias de super-heróis, como as personagens Mary Jane ou Lois Lane.
O Patinho Feio
Nomeado a partir do famoso conto de O Patinho Feio, o tropo em questão pode até parecer inofensivo à primeira vista, mas é um dos mais problemáticos quando estamos falando sobre a pressão que mulheres sofrem em relação à aparência física em uma sociedade com padrões inalcançáveis de beleza.
Um exemplo bastante popular do estereótipo do patinho feio está em O Diário da Princesa (2001), filme estrelado por Anne Hathaway em que a personagem interpretada pela atriz passa por uma transformação “radical”, deixando de ser uma “garota esquisita e feia” para se transformar em uma jovem extremamente bonita e atraente.
Esse processo de “embelezamento” marca presença constante na ficção, principalmente em filmes adolescentes ou comédias românticas que reduzem mulheres à sua aparência física. No final das contas, o tropo acaba passando a mensagem de que ser diferente do que o padrão de beleza estabelece não é uma opção se uma mulher quiser ser bem-sucedida em sua jornada.
A Rainha do Gelo
Mais um estereótipo que Hollywood não se cansa de usar (mas deveria) é o da Rainha do Gelo. Comumente usado em comédias românticas – apesar de também aparecer bastante em uma grande variedade de gêneros -- o tropo é usado em personagens femininas que possuem uma tendência a priorizar o trabalho ao invés de relacionamentos amorosos, por exemplo.
No geral, essas personagens são apresentadas como frias e até mesmo com um tom maléfico, quase como se não fossem capazes de ter uma carreira bem-sucedida e serem felizes no amor também. Nesse estereótipo, as mulheres são vistas como extremamente calculistas e obcecadas por trabalho, o que significa que – leia-se em tom de ironia – somente um homem com um coração bom seria capaz de quebrar essa muralha de gelo em seus corações
Um exemplo bastante recente desse estereótipo está na franquia Jurassic Park, nos filmes de Jurassic World. A personagem de atriz Bryce Dallas Howard é a própria definição da “Rainha de Gelo”, e os filmes reforçam essa ideia o tempo todo.
A namorada/esposa de troféu
Outro estereótipo feminino bastante utilizado por Hollywood é a namorada de troféu. Como o próprio nome já diz, esse tropo objetifica mulheres ao tratá-las como um prêmio a ser exibido pelo homem. Geralmente, são mulheres atraentes – e em sua grande maioria jovens – que possuem pouca (ou praticamente nada) profundidade na narrativa, já que elas existem apenas para serem exibidas como um troféu.
O tropo pode sofrer variações, sendo conhecido também como esposa de troféu. O significado, porém, permanece o mesmo, pois a mulher existe como um símbolo de status para o homem e, muitas vezes, serve como uma “substituta” para antiga esposa justamente por ser “mais nova e atraente”.
A ladra de homens
Mais um estereótipo feminino usado por Hollywood que segue afetando a maneira como mulheres são percebidas na vida real é o famoso “ladra de homens”, principalmente quando envolve duas ou mais amigas. Um filme que ajudou a impulsionar esse tropo, por exemplo, foi a comédia romântica O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997), um grande queridinho do gênero.
Nesse estereótipo, a rivalidade feminina é uma força motivadora da trama, já que tudo é possível para conquistar o coração de um homem, até mesmo acabar com uma amizade. Aqui, mulheres são vistas como “obstáculos” para se chegar até a grande vitória: ser feliz para sempre com o homem amado.
A hiperssexualização de latinas e asiáticas
Com movimentos sociais balançando Hollywood, é certo que alguns estereótipos femininos foram caindo em desuso ao longo dos anos. No entanto, a hiperssexualização de latinas e asiáticas é algo que, mesmo camuflado, ainda dá as caras em narrativas cinematográficas.
No caso das latinas, a representação hollywoodiana geralmente coloca essas mulheres em posições estereotipadas no que diz respeito à sensualidade. Além disso, elas são retratadas como mulheres explosivas e teimosas, muitas vezes com um passado bastante conturbado e difícil.
Já as mulheres asiáticas também enfrentam algo similar. Desde que Hollywood é Hollywood, as asiáticas passam por um cruel processo de hiperssexualização na frente das câmeras, onde elas são transformadas em “objetos exóticos” que existem apenas para satisfazer o desejo masculino. Infelizmente, ainda é comum ver mulheres asiáticas sendo representadas como frágeis e vulneráveis, além de toda a fetichização envolvida na questão.
A obcecada pelo “final feliz” (que sempre tem relação com um homem)
Outro estereótipo hollywoodiano bastante danoso para a experiência feminina na vida real é a ideia de que uma mulher largaria absolutamente tudo para ficar com o homem dos seus sonhos. O gênero da comédia romântica está recheado de representações do tipo, onde mulheres são tão obcecadas por um final feliz de contos de fadas que elas são capazes de mover montanhas para conseguir isso.
É óbvio que, Hollywood sendo Hollywood, esse final feliz sempre tem algum homem envolvido. A ideia que fica é de que a única coisa que uma mulher precisa para estar “completa” é ter um cara para chamar de seu, como se sua carreira, amigos ou sonhos não fossem dignos do seu amor ou atenção. Um exemplo de personagem desse tropo é a Nancy de Encantada (2007).