O diretor Sam Raimi consegue trazer bastante originalidade para o universo cinematográfico da Marvel com sua direção inspirada, Raimi sabe que o filme é baseado em uma história em quadrinhos e faz escolhas excelentes que podem fazer com que muitos achem o longa brega ou muito “anos 2000”, mas é exatamente isso que faz com que Multiverso da Loucura funcione.

Raimi, inclusive, pega momentos que seriam chatos e de revirar os olhos nas mãos de um diretor menos competente - como toda a explicação sobre o que é possessão onírica - e transforma em algo diferente, divertido e belíssimo de se ver. O diretor define o tom e consegue fazer o que muitos tiveram dificuldade: transformar um longa da Marvel em um filme totalmente seu, mesmo com o roteiro sendo bem abaixo de seu padrão.

Além disso, não é qualquer um que pode dizer que conseguiu fazer um filme de terror na Marvel.

Se por um lado a direção de Sam Raimi se destaca por ser inspirada e original, o roteiro de Michael Waldron se encontra no espectro oposto dessas qualidades: vazio e com vários problemas. O roteirista já havia mostrado que não era um dos melhores em Loki e aqui prova que não consegue lidar com uma história tão grandiosa.

Seja com personagens esquecidos que aparecem apenas quando necessário ou para fazer algumas piadas, como o Wong; motivações ruins, decisões questionáveis e bobas feitas pelos protagonistas acompanhados de uma quantidade exagerada de cenas expositivas desnecessárias, Waldron tenta abocanhar mais do que consegue lidar.

Elizabeth Olsen está ótima e bastante exagerada como uma vilã, dentro da história do filme, a personagem funciona muito bem como uma inimiga poderosíssima que nem o Doutor Estranho consegue deter. Cheia de carisma, Wanda Maximoff é uma das personagens mais amadas do MCU e aqui ganha uma reviravolta bastante interessante.

Sob influência do Darkhold, Wanda se torna praticamente um monstro de filme de terror, rivalizando com Jason e Freddy Krueger. Mesmo assim, por causa de todo o carisma de Olsen e da heroína no MCU, isso funciona bem e torna a personagem bastante relacionável.

Ainda que em Multiverso da Loucura Wanda como vilã funcione, quando comparamos a jornada da personagem em WandaVision, a impressão que passa é que apenas a cena pós-créditos foi levada em consideração.

A jornada de Wanda Maximoff se tornando a Feiticeira Escarlate e lidando com as perdas de sua vida é descartada pelo roteiro para que ela seja aceita mais facilmente como vilã - e mesmo estando sendo corrompida pelo Darkhold, suas motivações não parecem tão críveis para quem assistiu à minissérie.

Mesmo bem diferente de sua versão nos quadrinhos, Xochitl Gomez encanta o público como America Chavez. A personagem é um dos pontos altos do filme principalmente pelo carisma da atriz que dá vida à jovem heroína.

Com uma trama bem simples e que se encaixa em vários clichês do gênero (não de uma forma ruim), a jornada dela é bem divertida de se acompanhar e ao final do filme é impossível não torcer para ela, até mais do que a própria Feiticeira Escarlate ou o Doutor Estranho.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, como o filme sugere, mostraria um grande multiverso cheio de loucuras, não é mesmo? Os fãs estavam esperando - e foi prometido por todos os envolvidos no longa - diversas terras alternativas diferentes e especiais… Porém não é isso o que vemos no filme.

Tirando uma cena em em que America e Strange viajam rapidamente por várias realidades, além da (renomeada) Terra-616, temos apenas duas outras realidades com destaque: a Terra-838 e o lar do Doutor Estranho Sinistro. Para um filme sobre o multiverso, faltou realidades alternativas ai…

Muitos espectadores podem ter ficado irritados com a participação dos Illuminati em No Multiverso da Loucura, afinal, eles surgem como um grupo extremamente poderoso, apenas para serem assassinados de forma sangrenta pela Feiticeira Escarlate. E é exatamente por isso que eles funcionam.

Primeiro que a equipe nas HQs sempre foi sinônimo de altivez e eles jamais imaginariam que Wanda Maximoff fosse uma ameaça real; segundo que eles estavam ali apenas para serem uma participação especial (sem ser necessariamente uma prévia do futuro) divertida e surpreendente - e tem algo mais surpreendente que todos eles morrerem violentamente minutos após sua introdução?

O filme é sobre o Doutor Estranho e sua luta contra a Feiticeira Escarlate para proteger America Chavez; como a Marvel não poderia replicar os eventos de A Queda e fazer com que Wanda realmente matasse vários Vingadores, colocar uma equipe com diversos nomes grandes e amados apenas para massacrá-los é exatamente o que a sequência pedia.