O subtítulo da nova série do Demolidor pode ter diferentes significados. Chamada de Daredevil: Born Again (Demolidor: Renascido em tradução livre), este foi o mesmo título utilizado para o quadrinho escrito por Frank Miller e com arte de David Mazzucchelli. No Brasil, essa saga do Homem sem Medo chegou sob o título de Demolidor: A Queda de Murdock.

Nela, seguimos um Matt Murdock destruído em todos os aspectos de sua vida após o Rei do Crime descobrir sua identidade secreta. O problema em ser uma adaptação direta do quadrinho é que a história já chegou ao público de forma resumida através da terceira temporada da série da Netflix.

Porém, utilizar o título do quadrinho pode ser apenas uma referência a como Miller revitalizou o personagem diversas vezes. De uma forma ou de outra, a Disney+ possui todo o material necessário para adaptar este arco. Com Charlie Cox e Vicent D’Onofrio como o Demolidor e o Rei do Crime, seria necessário para o estúdio apenas trazer Deborah Ann Woll e Elden Henson como Karen e Foggy Nelson. Adaptar um arco dessa magnitude seria um retorno triunfal para o personagem.

Algo que está intimamente ligado ao subtítulo desta nova série é a vida anterior de Murdock com a Netflix. Por isso, é possível que vejamos a origem do Demolidor mais uma vez e que questões sejam revisitadas.

Para os novos espectadores do Universo Cinematográfico da Marvel seria interessante, mas, ao mesmo tempo, uma perda. Primeiramente por desmotivar o público a ver ou rever a série da Netflix, que agora é domínio da Disney+.

Em segundo lugar, apagaria o contato que Murdock teve com personagens que tiveram boas adaptações, como Jessica Jones, Elektra e Luke Cage. Começar do zero é sempre a saída mais fácil, mas nesse caso, talvez seja a menos sensata.

A violência presente em Demolidor não era apenas estética, mas parte integrante da narrativa. Ver as marcas e machucados de Murdock e o que o herói era capaz de fazer com as pessoas ao seu redor dava corpo à concepção geral da série.

A migração para o universo da Disney+ também abre portas para menos momentos “adultos”, o que não significa que a série tome um rumo infantil. Mas suavizar questões para encaixar o personagem no “modelo Disney+” pode se tornar um problema.

Esse item está intimamente conectado com o anterior. Além da violência, Demolidor se destacou por uma identidade visual que reluzia ao redor de outras produções de herói da época. Supergirl, Flash e o Arrowverse entregavam entretenimento, mas decepcionavam em qualidade.

Demolidor reuniu gêneros distintos em apenas uma produção. Com tramas legais, perseguição policial e ação; a produção teve até momentos artísticos ao se inspirar em cenas de Oldboy, de Park Chan-wook, como também referenciando pinturas antigas em seus pôsteres.

A série da Disney+ terá 18 episódios, o que corresponde a uma temporada e meia da produção da Netflix. Mesmo com pontos altos, Demolidor tinha uma narrativa lenta, sempre criando "barriga" no meio da temporada.

Com tantos episódios, podemos esperar rever algumas cenas, mas e em relação a personagens? Elektra, por exemplo, é uma grande influência para o personagem, seja na série, quadrinhos ou até no filme protagonizado por Ben Affleck. Começar do zero significaria precisar trazer a grega de volta.

Wilson Fisk, o Rei do Crime foi um dos pontos centrais para a existência da série do Gavião Arqueiro. A introdução de Kate Bishop, Eco e a volta de Yelena Belova se tornaram apenas efeitos colaterais para o esperado retorno de Vincent D’Onofrio ao papel.

Mas, caso sigam a continuidade da série original, terão um problema em explicar o retorno de Fisk. No final da terceira temporada, o vilão concorda em retornar à prisão. Sua participação em Gavião Arqueiro não o coloca apenas como um homem rico e com contatos, mas alguém que domina uma extensa facção criminosa.

Seria possível que a nova série do Homem sem Medo seja para contar sobre essa lacuna entre o fim da terceira temporada e o “reboot”? Essa é uma pergunta que só será respondida com o resultado final da série.

Talvez a maior preocupação deste reboot seja o puro saudosismo das séries da Netflix. Mesmo que Defensores, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e O Justiceiro fizessem parte de uma bolha em relação ao resto do universo da Marvel, as séries eram consumidas como um material oficial.

Isso fez com que interpretações como a de Krysten Ritter e Mike Colter se tornassem a personificação desses heróis. A aceitação do público foi tão positiva que o visual dos mesmos repercutiu nos quadrinhos publicados posteriormente.

Mesmo que nem tudo tenha sido flores na parceria Marvel e Netflix — Punho de Ferro que o diga —, ainda existem pontos que poderiam ser revitalizados na nova série. E, trazer essas personalidades de volta significa responder novas perguntas: Onde estavam? Os eventos passados em Defensores são canônicos?

Uma questão com múltiplas variáveis é o estalo do Thanos. Caso Murdock tenha sido uma das vítimas, seu desaparecimento pode ser a força motriz da série, colocando o personagem na desconfortável posição de redescobrir quem é em um mundo completamente mudado.

Porém, o contrário também adicionaria uma trama interessante. Ao colocá-lo como uma das pessoas que ficou para “trás”, Demolidor se destacaria como um dos heróis que se manteve em serviço após a queda dos Vingadores.

Infelizmente, o estalo do Thanos não foi abordado de forma satisfatória no MCU, o que significa que não sabemos se novos heróis surgiram nesse meio tempo.

Sem menção a níveis de criminalidade e afins, caso o Demolidor tenha sobrevivido, teríamos um olhar diferente sobre o ocorrido em Guerra Infinita. Um que não se resumisse ao luto enfrentado por Viúva Negra e Gavião Arqueiro, por exemplo.

Se o passado do Demolidor é um mistério do MCU, seu futuro é ainda mais nebuloso. A aparição de Matt Murdock em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa foi uma das surpresas preparadas pela Marvel Studios, mas também se trata de algo que levanta muitas perguntas.

Entre elas, como o Demolidor entrou em contato com o caso de Peter Parker? A identidade do herói veio a público, mas para Murdock ser contratado seria necessário mais do que um simples interesse do advogado.

Seja qual for o motivo, é possível que algo similar seja pincelado na série da Mulher-Hulk, que chega ao streaming no dia 18 de agosto. Nela, Jennifer Walters, a personagem titular, estará defendendo heróis nas cortes judiciais, mas qual será o papel de Murdock nesse universo?