[CRÍTICA] Verdade ou Desafio – Há jogos mais divertidos…
[CRÍTICA] Verdade ou Desafio – Há jogos mais divertidos…
Novo filme de terror da Blumhouse assusta apenas por ser ruim mesmo…
Após o sucesso arrasador de Um Lugar Silencioso, mais um filme de terror brota nos cinemas para tentar arrancar sustos e arrepios do público. Dessa vez, trata-se de Verdade ou Desafio, longa vindo dos mesmos produtores de filmes como Corra!, Fragmentado e A Morte te dá Parabéns.
Porém, o mais novo longa da Blumhouse consegue mostrar a que veio e aproveitar, em totalidade, sua divertida premissa? Infelizmente não parece ser o caso aqui…
Créditos: Universal Pictures
Ficha Técnica
Título: Verdade ou Desafio (Truth or Dare)
Ano: 2018
Data de lançamento: 3 de maio (Brasil)
Direção: Jeff Wadlow
Classificação: 14 anos
Duração: 100 minutos
Sinopse: Um inofensivo jogo de Verdade ou Desafio entre amigos acaba se tornando mortal quando alguém - ou algo - começa a punir aqueles que mentem ou que se recusam a cumprir os desafios.
Verdade ou Desafio - Há jogos mais divertidos...
Eu sinto um profundo arrependimento e pesar ao ver ideias boas (ou ao menos criativas) sendo trazidas ao cinema com execuções ruins ou que não aproveitam seu potencial. Com isso em mente, Verdade ou Desafio é um dos filmes mais decepcionantes do ano, mesmo que você sequer tenha ouvido falar dele.
O novo longa de terror da Blumhouse aposta em tornar macabro o clássico jogo adolescente que carrega no título. Aqui, após uma partida aparentemente inofensiva, os envolvidos são vítimas de alguma ação macabra que pode levar à sua morte. E o potencial estava todo no caminho para gerar um filme divertido e propositalmente engraçado. Mas ele arranca risada pelos motivos errados.
Antes de mais nada, é preciso dizer que eu nunca - com mais ênfase, nunca - vi personagens tão burros assim em toda a minha vida. Geralmente, filmes adolescentes já são feitos para que você deseje a morte de todo mundo, mas nesse caso é ainda pior, porque os envolvidos já são adultos e já estão em anos avançados da universidade.
E ainda assim, nenhum deles sequer tem um pingo de inteligência.
O tempo inteiro, os protagonistas estão tomando decisões patéticas e completamente irracionais, como se ninguém tivesse um mínimo de noção sobre os perigos que vivem ao seu redor. Mesmo no início, isso é fácil de se notar - afinal de contas, quem seguiria um desconhecido até uma igreja abandonada?
E se o problema ao menos fosse dos personagens unicamente, ainda dava para se guiar pelo carisma dos intérpretes. Mas temos aqui uma reunião excruciante de atores e atrizes ruins. Muitos não saem do estereótipo exercitado por seus personagens, mas nem sequer conseguem dar nada além disso. Sam Lerner e Nolan Gerard Funk, nesse sentido, dão aula de como serem péssimos.
Até mesmo quem tem talento - Lucy Hale como protagonista ou Violett Beane, a Jessie Quick de The Flash - é prejudicado por um roteiro que não cresce e vai a canto nenhum. Eu revirei os olhos toda vez que elas tinham uma briga "irreconciliável" e a personagem de Beane ia embora extremamente revoltada.
Ainda assim, este é apenas um dos problemas, quando analisamos que o filme dá zero crédito emocional aos seus protagonistas. Há um personagem em especial que tem uma grande revelação que precisa ser feita ao seu pai, de acordo com as regras do jogo. E isso é feito fora das câmeras, de forma que sequer nos importamos com o impacto que isso causaria em sua vida.
Por outro lado, devo dizer que gostei, ainda que não seja lá grandes coisas, do desenvolvimento de Olivia Barron (Hale). A personagem começa de um jeito e é questionada com dilemas morais intensos, e sofre uma transformação que põe em cheque sua visão original sobre o mundo. O resultado é que a resolução do filme é bem interessante, mesmo não salvando um miolo cheio de bosta.
Talvez, o maior problema aqui seja justamente a ideia de fazer um filme de terror com classificação indicativa PG-13 (algo que circula entre o +12 e o +14 aqui no Brasil). O resultado é que, mesmo com mortes inventivas e grotescas, o longa sequer aproveita isso, já que as cenas são cortadas instantes antes do público ver o sangue jorrar.
Mesmo assim, não é desculpa. A própria Blumhouse trouxe, no ano passado, o divertidíssimo A Morte te dá Parabéns, que apesar de ter a mesma classificação indicativa, apela para um horror mesclado com o humor auto-consciente, gerando uma trama que assusta e diverte sem precisar mostrar nada gráfico demais. Faltou um pouco de auto-crítica e leveza para a equipe liderada por Jeff Wadlow.
Falando em Wadlow, o trabalho de direção é falho, para dizer o mínimo. Ficamos tão imersos em uma quantidade brutal de clichês que sequer conseguimos sentir que algo novo foi tentado aqui. Temos inúmeros e exaustivos jumpscares, especialmente quando alguém está atrás de algum dos personagens.
Nesse sentido, a edição e montagem e a fotografia não funcionam. Há muitas cenas que intercalam tensão com momentos mais "tranquilos", e em vez de criar suspense, essas sequências acabam drenando qualquer emoção do longa, tornando o filme simplesmente chato e arrastado.
Além disso, os efeitos visuais são de fazer qualquer um cair no chão gargalhando. O principal aqui está na hora que os personagens ao redor de quem está sendo desafiado mudam seus rostos para fazer a fatídica pergunta do Verdade ou Desafio. A expressão, que era para ser assustadora, parece um filtro mal-feito de Snapchat, e quando percebemos, já estamos involuntariamente rindo.
Outro fator que me incomoda profundamente é a necessidade de construir justificativas e fazer a trama se tornar cada vez mais megalomaníaca. O que começa como um simples jogo logo envolve um convento abandonado, freiras e um demônio chamado Calax (ou Calux). Dava para economizar temas para pelo menos mais 3 filmes distintos aí.
No final, o filme não impressiona, mas acaba sendo tão ruim que, em alguns momentos, diverte - quando não está sendo chato de doer. Desde que vi o primeiro trailer, senti uma similaridade com o excelente Corrente do Mal, e esperava algo nessa vibe. Mas além de não ter nada a ver com o outro, que é infinitamente superior, Verdade ou Desafio não aproveita a loucura de sua premissa original.
Se você ainda tiver interesse em ver algum filme de terror nos cinemas ao longo das próximas semanas, sugiro que vá atrás das últimas sessões disponíveis de Um Lugar Silencioso, ou simplesmente espere pelo próximo lançamento. Se, ainda assim fizer muita questão de conferir este longa, não precisa se apressar para vê-lo no cinema.
No final, a sensação que fica é a do desgosto. O filme de fato possui uma premissa muito interessante, mas como todo horror fracassado nos últimos anos, ele peca justamente por se levar a sério demais. Se ao menos acertasse na intenção trash, seria bem mais divertido e agradável, e poderia ser lembrado por seus méritos.
Mesmo com uma solução bem interessante e um desenvolvimento peculiar para sua protagonista - que aliás, é a única pessoa com carisma de todo o filme -, Verdade ou Desafio é inchado, confuso e, acima de tudo, chato. Prepare-se para conhecer os personagens mais detestáveis que você verá nos cinemas, mas saiba de uma coisa: de divertido, esse jogo não tem nada.
NOTA: 1,5/5