[CRÍTICA] Venom – Mais parasita do que simbionte!
[CRÍTICA] Venom – Mais parasita do que simbionte!
Primeiro capítulo do universo compartilhado da Sony chegou aos cinemas!
Venom é uma aposta no mínimo curiosa da Sony para o mercado de super-heróis. O filme, que não foi inteiramente acolhido pelos fãs, chega aos cinemas nesta quinta-feira, mas nós já conferimos a produção e deixamos aqui a crítica ao longa de ação protagonizado por Tom Hardy na pele do jornalista que fica possuído por um simbionte alienígena!
Créditos: Sony
Ficha Técnica
Título: Venom
Ano: 2018
Data de lançamento: 5 de outubro (Brasil)
Direção: Ruben Fleischer
Classificação: 14 anos
Duração: 112 minutos
Sinopse: Quando Eddie Brock adquire os poderes de um simbionte, ele terá que liberar o seu alter-ego, o Venom, para que possa salvar sua própria vida.
Venom - Mais parasita do que simbionte!
Mesmo quando nos afastamos de nosso lado fã e puritano, há algumas verdades que são necessárias para estabelecer uma história baseada em personagens de quadrinhos. E uma delas é: não há Venom sem o Homem-Aranha. Dito isso, o filme inaugural do "universo cinematográfico" da Sony é um belo desastre.
O longa tenta estabelecer a história do simbionte alienígena e sua ligação com Eddie Brock, um jornalista famoso. Tudo começa quando ele vai entrevistar Carlton Drake, o cientista megalomaníaco que criou a Fundação Vida. Ao descobrir um furo, Eddie acaba, através de diversas situações, sendo infectado por uma gosma negra, que o transforma em um anti-herói.
Venom é um desastre anunciado desde seu início. Todo ano tem o Quarteto Fantástico que merece, e creio que o longa do simbionte seja o de 2018. A premissa básica se solidifica no foco dado a Eddie e sua relação com o alienígena que o "habita" - ambos interpretados por Tom Hardy. Mas é difícil encontrar uma base quando até a atuação é comprometida.
Vítima de um roteiro boçal, com diálogos expositivos sofríveis e piadas de puro mal-gosto, o ator acaba entregando uma performance afetada e inconsistente. Se, no início, Brock é um cara charmoso, esperto e astuto, quando o simbionte toma conta de seu corpo, ele se torna bobo e burro, tentando compensar tudo com caretas e um humor físico questionável.
E não pensem que ele é o único. Todo o elenco do filme, composto por nomes sensacionais como Michelle Williams e Riz Ahmed, está fora de lugar. Jenny Slate, que interpreta uma cientista que se alia a Brock, pode ser uma comediante famosíssima, mas aqui ela está em um papel ridiculamente sério, que nem sequer a aproveita.
De longe, talvez, o personagem mais problemático seja Carlton Drake, vivido por Ahmed. O filme faz questão de expor o vilão ao clichê dos monólogos megalomaníacos, e ele faz diversos ao longo do filme - incluindo um de natureza bíblica, logo no começo, que não faz o menor sentido. E quando ele vira o Tumulto, as coisas ficam ainda piores.
"Mas e quanto ao Venom?", você se pergunta. Não há como negar que o personagem está bem melhor representado aqui do que, por exemplo, em Homem-Aranha 3. Mas isso não é nenhum grande mérito. Para um anti-herói violento e sério, temos aqui uma versão gosmenta do Deadpool, que tenta se apropriar de um "humor negro" que é tudo, menos engraçado.
Para piorar, os efeitos usados para compor o personagem são gritantemente mal-acabados. Se, em uma cena, conseguimos perceber até a textura no corpo viscoso do simbionte, na sequência seguinte já temos a sensação de que estamos diante de um boneco de papelão. Nesse sentido, é triste perceber o desperdício de uma figura tão amada das HQs.
A direção ficou por conta de Ruben Fleischer, responsável pelo aclamado Zumbilândia. Contudo, analisando esse filme, parece que estamos diante de dois cineastas completamente diferentes. O Fleischer de 2008 trazia uma agilidade e um humor escatológico em seu filme de zumbis, mas sabia fazer isso com tremenda elegância.
Em Venom, a sensação que fica é a de que ninguém ao menos tentou fazer algo bom. A começar pela própria narrativa do filme, que pula de situação em situação tão rápido quanto o próprio Venom pula de um prédio para outro. Tudo isso é complementado por uma montagem ruim, que não sabe construir ritmo e tensão.
Ao todo, parece que estamos vendo vários filmes diferentes. Há o princípio de um filme de super-heróis, que nunca é plenamente alcançado devido à natureza anti-heroica do personagem. Há o esforço para criar terror, mas o longa não se permite ir muito além disso, enquanto também há um romance mequetrefe, seja na relação entre Eddie e Anne (Williams) ou entre o jornalista e o próprio simbionte - sim, por incrível que pareça.
Há também uma péssima construção no que diz respeito à própria jornada do personagem, que parece derivada de vários filmes - que inclusive fizeram isso de uma forma melhor. Por exemplo, há um apelo melodramático similar à da trilogia do Homem-Aranha de Sam Raimi, enquanto a trama envolvendo a Fundação Vida lembra O Espetacular Homem-Aranha.
As cenas de ação podem até ajudar um pouco, mas não muito. A fotografia é escura e bagunçada, privilegiando planos mais fechados. Como resultado, temos até algumas batalhas legais onde Eddie libera o poder do simbionte - mas a batalha final entre Venom e Tumulto é pura pornografia de CGI.
Por outro lado, há detalhes interessantes, como a forma que o próprio Venom se manifesta a partir de Eddie Brock, ou então as diferentes "armas" criadas pelo simbionte. Além disso, o som do filme também é bem construído, por mais que os efeitos sonoros e a trilha incidental sejam prejudicados por músicas que tomam mais espaço do que deveriam.
No fim, vemos até um paralelo se formando. Ao longo da trama, Venom se recusa ser chamado de "parasita", sempre preferindo o título de simbionte. Ao tentar construir um "universo compartilhado do Homem-Aranha sem o Homem-Aranha", a Sony assume o mesmíssimo posto, tentando dizer que é um simbionte, e não um parasita.
Acontece que, na era em que o Universo Cinematográfico da Marvel domina e os Mundos da DC tentam provar melhorias, essa nova investida do estúdio não passa de uma armação para conseguir lucro em cima dos personagens que ainda podem utilizar nos cinemas. E não há nada de errado nisso - desde que o resultado fosse um filme minimamente bom, o que não acontece aqui.
Venom é, até o momento, o pior filme de super-heróis do ano. E mesmo que lançassem outro Esquadrão Suicida ou Quarteto Fantástico, seria difícil superá-lo. É um filme chato, inconsistente, mal-finalizado e que expõe toda a ganância da Sony de fazer seu próprio universo compartilhado apenas para entrar na concorrência.
Contendo a pior atuação da carreira de Tom Hardy e efeitos risíveis, Venom pode até ter sido a chance dos fãs testemunharem um anti-herói mais "fiel" do que o apresentado em Homem-Aranha 3. Mas infelizmente, não foi dessa vez. Com sorte, em uma nova versão, ele talvez contracene com o Amigão da Vizinhança de Tom Holland nos cinemas.
NOTA: 1/5