[CRÍTICA] Velvet Buzzsaw – Nem toda arte é perigosa!

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[CRÍTICA] Velvet Buzzsaw – Nem toda arte é perigosa!

Por Lucas Rafael

Em Velvet Buzzsaw, a Netflix lança um thriller artístico repleto de nomes de peso no elenco. A trama se passa no meio artístico de Los Angeles, analisando a relação de obras de arte com o comércio e a crítica, até que uma nova coleção surge, assinada por um artista recém-falecido. Ao que parece, os quadros estão mal-assombrados.

Será que o Velvet Buzzsaw merece sua atenção?

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Ficha Técnica

Título: Velvet Buzzsaw

Ano: 2019

Data de lançamento: 01 de fevereiro (Brasil)

Direção: Dan Gilroy

Duração: 113 minutos

Sinopse: Pessoas envolvidas no comércio de artes passam a ser assombradas pelos quadros de um falecido pintor que estão tentado explorar por lucro.

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A arte o capitalismo não andam de mãos dadas.

É estranho escrever uma crítica sobre algo que condena a crítica de coisas com valor subjetivo, como a arte.

Velvet Buzzsaw, novo longa do diretor Dan Gilroy, busca tecer um comentário sobre a relação da arte com o comércio e a crítica. É um viés interessante que pedia por uma abordagem mais mordaz ou incisiva, visto que o desenrolar de eventos aqui é estéril demais para evocar qualquer tipo de reação.

O elenco conta com nomes como Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Toni Collette, Daveed Diggs e John Malkovich. Todos se encontram muito bem aqui, e as performances são de longe um dos fatores mais positivos de Velvet Buzzsaw.

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Resumindo Velvet Buzzsaw

Imagine que você, graças a uma série de circunstâncias, tem um amigo artista inteirado na cena de Los Angeles. Ele te chama pra tomar umas no barzinho aí da sua cidade. Digamos que ele voltou ao Brasil.

Ele discursa sobre ser dedicado ao seu trabalho, o que pretende com ele e de qual lugar da sua alma ele extrai sua inspiração. Como aquilo é importante para ele. Como sua arte é algo algo caloroso, espiritual e catártico.

Então ele fala sobre como é difícil ganhar a vida com aquilo. Como os museus tratam uma obra de arte como um pedaço de carne; como sua obra está à mercê de críticos que vão avaliá-la pelo seu prisma pessoal de critérios sem nunca terem produzido algo de sua própria autoria. Como o sistema que se encarrega da avaliação e comércio de sua obra é frio, calculista e oportunista.

Ele vai falar que está revoltado com a coisa toda. Que essa gente do comércio artístico é arrogante e só pensa no lucro e no ego. Que ele queria punir todos eles, dos críticos aos donos de galeria e todos que tratam sua arte como um produto etiquetado.

Ele vai embora do bar e deixa a conta pra você pagar. Velvet Buzzsaw é basicamente isso estendido pela duração de 113 minutos. Mas você não vai estar tomando umas no barzinho da sua cidade. No final, quem tem que pagar a conta da Netflix ainda é você, no entanto.

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Velvet Buzzsaw flerta com humor negro em alguns momentos, mas ele nunca chega a ser audacioso ao ponto de ser mordaz. Novamente, o longa tenta abarcar uma pluralidade de gêneros no decorrer da trama. Porém, eles nunca atingem muito bem o espectador. Para fins de comparação, é tipo ver a tinta secar. Ela está tentando secar de várias formas diferentes, mas ainda só está tentando secar. É chatinho.

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Velvet Buzzsaw é um filme deveras contido para um longa sobre arte, de todas as coisas. Ele é filmado pelo mestre Robert Elswit, que conta com longas como Sangue Negro, Magnólia e O Abutre (este do mesmo diretor de Velvet Buzzsaw) no currículo. Ainda assim, é um filme bastante plácido e contido em sua misé-en-scene (mãe, usei um termo francês!).

Talvez Dan Gilroy esteja querendo dizer algo com esse estilo visual estéril. Talvez seja para refletir a frieza do comércio artístico ou a natureza insípida do estilo de vida daqueles envolvidos neste comércio. Ainda assim, não deixa de ser uma composição cênica insossa de se absorver por 113 minutos. Existem filmes piores com visuais mais distintos.

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A trama segue o crítico de arte Morf (Jake Gyllenhaal) e toda uma galeria de personagens com alguma relação ligada à arte, seja comercial, como a personagem Rhodora (Rene Russo) ou artística, como o personagem Piers Morgan (John Malkovich).

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Estes personagens eventualmente encontram a coleção do falecido Vetril Dease, que deixa ordens expressas para a queima de seus trabalhos após sua morte. Eles tentam comercializar estas obras, até que elas se revelam amaldiçoadas. É aqui que Velvet Buzzsaw tenta abraçar o gênero terror e, de novo, não consegue bem acertar na aterrissagem.

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Velvet Buzzsaw vira, em momentos, uma espécie de Premonição artística, com mortes ligadas às obras. O clima de suspense não surpreende, as mortes em si não são visualmente interessantes ou cataclísmicas, seja pelo fator cômico ou exagerado como em Premonição. Ela só estão lá. Dá pra perceber a intenção de fazer algo diferente ali, mas não evoca nenhuma resposta do espectador.

A metalinguagem de que as obras de arte estão se rebelando contra seus opressores comerciais é óbvia demais para evocar um sentimento genuíno de admiração pela mensagem.

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Velvet Buzzsaw tenta ser irônico, mas a verdadeira ironia é um filme com esse discurso específico aparecer no catálogo da Netflix, de todos os lugares. Mas, enfim.

A Netflix é uma galeria de arte nas quais estão expostas diversas peças para seu consumo.

A Netflix é um restaurante com diversos pratos no menu.

Não importa a analogia, algumas obras vão extrair reações diferentes das outras, alguns pratos são melhores que os outros. Mas gosto por arte é subjetivo, assim como o paladar.

Para mim, Velvet Buzzsaw foi alguém tentando fazer algo meio gourmet com carne suína. Eu não gosto muito de carne suína, mas tem quem goste. Alongando um pouco mais a analogia culinária, faltou muito sal em Velvet Busszaw. Uma pimentinha não iria mal. É algo ousado, porém sem gosto.

É a fonte de Duchamp versão cinematográfica, despida de seu caráter dadaísta e iconoclasta.

É algo que não sabe a melhor maneira de externalizar sua mensagem, e na tentativa, acaba-a pregando de uma maneira tediosa.

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Nota

Velvet Buzzsaw é um filme que poderia ousar mais devido ao caráter revoltado de seu discurso central sobre capitalismo versus arte. Ao invés disso, é um longa contido, que não sabe trabalhar muito bem sua mensagem de uma maneira interessante, utilizando-se de uma ironia pífia embalada por cenas que buscam evocar terror, mas não conseguem. O elenco é muito, muito bom, no entanto.

Velvet Buzzsaw tenta afirmar que "Toda a Arte é Perigosa", mas algumas são só meio chatinhas mesmo.

A nota final para Velvet Busszaw é 2,5 de 5. Ele faz você se sentir pior por ter de reduzir obras subjetivas a um mero número, no entanto. Mas crítica cinematográfica é um exercício sujo por natureza. Eu provavelmente nunca vou fazer um filme e você não deveria confiar em mim. Mas aqui estamos, para o bem ou para o mal.