[Crítica] Três Anúncios Para Um Crime – Nem tudo termina como gostaríamos!
[Crítica] Três Anúncios Para Um Crime – Nem tudo termina como gostaríamos!
Continuamos nossas críticas dos filmes indicados ao Oscar!
Dessa vez, falamos sobre Três Anúncios Para um Crime em nossa crítica SEM SPOILERS! Confira o que achamos.
Imagens: Divulgação
Ficha Técnica
Título: Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
Ano: 2017
Lançamento: 15 de Fevereiro de 2018 (Brasil)
Direção: Martin McDonagh
Classificação: 16 anos
Duração: 115 minutos
Sinopse: Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada.
A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby, responsável pela investigação.
Sabe aqueles filmes em que nada acontece, mas ainda assim você não consegue desgrudar os olhos da tela? Pois é isso que acontece em Três Anúncios para um Crime.
A premissa da produção é simples - mas não deixa de ser interessante por si só - uma mãe busca justiça pelo assassinato de sua filha. Para isso, ela decide alugar três outdoors ao lado de uma velha estrada na cidade de Ebbing.
Sua intenção é instigar a polícia local, que não progrediu muito na caçada ao culpado pelo crime. Mas isso gera uma verdadeira comoção na cidade, que fica ao lado do Delegado Willoughby, responsável pela investigação e que sofre com um câncer.
E aí... De que lado você vai ficar?
A protagonista, Mildred Hayes, é interpretada por Frances McDormand e está longe de ser a mocinha da história.
Amargurada pela morte de sua filha, Mildred passou a se isolar do convívio social e se tornou uma figura quase que temida pela pequena cidade de Ebbing.
A performance de Frances é, facilmente, uma das melhores de sua carreira. E olha que estou considerando seu papel como Marge em Fargo, trabalho que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz.
Mildred percebe que a incompetência da polícia acabará transformando seu maior trauma em uma memória distante e incômoda. Assim, ela mesma põe o dedo na ferida ao expor o crime.
A presença de Frances em cena é assustadora. Ela é uma figura imponente que transmite seriedade e carrega em cada ruga de seu rosto o sofrimento contra o qual Mildred vem lutando.
Mas basta uma mudança no olhar para que ela se transforme em uma mãe cuidadosa e transpareça um sentimento de generosidade. Não será surpresa se a atriz levar mais uma estatueta para casa.
É interessante notar como o filme não se esforça em deixar claro o ano exato em que a trama acontece.
Certamente, um movimento proposital do diretor e roteiristaMartin McDonagh, já que essa é uma história que poderia se passar em qualquer lugar e em qualquer época.
A direção de arte, bem como a escolha da trilha sonora, também merecem destaque. Nada de extraordinário, mas tudo é executado de maneira primorosa.
O modo como a câmera acompanha os personagens nas cenas de ação e como um plano é mostrado em exaustão durante um momento de tensão, para aumentar a expectativa do espectador, são pontos sutis, mas que possuem um efeito incrível na experiência de assistir a um filme.
Outro que entrega uma performance inacreditável é Woody Harrelson, na pele do Delegado Willoughby.
O personagem é um dos mais afetados pela atitude de Mildred, mas ainda assim é um dos poucos que permanecem ao lado da protagonista em sua luta por justiça.
Logicamente, o Delegado não gosta nada da atitude de Hayes, que expõe a negligência policial diante de situações que exigiriam um trabalho de investigação mais competente.
Ainda mais pelo fato de Willoughby estar enfrentando um câncer terminal e o ato de Mildred jogar pelo ralo seu plano de aproveitar seus últimos meses de vida em meio à calmaria.
Mesmo assim, ele é um bom policial e sabe que precisa pelo menos tentar concluir o caso para partir em paz.
Mas em meio a tantas grandes atuações, Sam Rockwell ainda consegue se destacar.
O ator dá vida ao Oficial Dixon, um policial desajustado que acredita estar acima dos outros por "defender a lei".
Dixon aproveita-se de sua posição para torturar os outros, cometer atos racistas, homofóbicos e intimidar os moradores de Ebbing.
O personagem é o típico "americano burro do interior".
Ele não é uma má pessoa - por mais que seja difícil acreditar - mas as condições ao seu redor o moldaram e o fizeram agir de tal maneira.
Além de possuir fortes personagens principais, Três Anúncios para um Crime também conta com um elenco de apoio fantástico.
John Hawkes interpreta Charlie, o ex-marido abusivo de Mildred que passa a exibir sua namorada de 19 anos como um troféu.
Peter Dinklage é James. O anão da cidade que nutre uma paixão platônica pela protagonista.
Caleb Landry Jones vive Red Welby, gerente da agência de publicidade de Ebbing e responsável pela manutenção dos anúncios de Mildred.
Por mais que suas histórias possam parecer simples e uma frase baste para descrever seus papeis dentro da trama, a evolução que todos os personagens passam durante o filme é um deleite para os olhos.
Essa, aliás, pode ser a principal lição de Três Anúncios para um Crime: EVOLUÇÃO!
Nenhum personagem é raso e está ali simplesmente para cumprir sua função e sair de cena.
Todos evoluem de alguma maneira ao serem desafiados pelos anúncios de Mildred.
Desde o Delegado responsável pela investigação, até o anão da cidade. Cada um é confrontado de uma maneira para aprender a lidar com suas frustrações, com seus medos e com sua raiva.
Mas nem sempre sabemos a melhor maneira de lidar com isso... Na verdade, não há uma maneira correta. Cada um aprende e evolui à sua maneira.
Mildred precisa extravasar seu ódio para evoluir, ao passo em que Dixon aprende a deixar a raiva de lado para se tornar uma pessoa melhor.
No final, você pode não ter chegado no objetivo que gostaria, mas chegou onde poderia chegar e até onde sua evolução conseguiu te levar.
Por mais que os anúncios e o crime sejam a motivação para a trama, não é sobre isso que se trata o filme.
Três Anúncios para um Crime lida com questões psicológicas do ser-humano. Cutuca a ferida de um tema que, por mais que seja tratado há muito tempo, continua sempre em pauta e nos mostra que o final feliz não existe para todo mundo.
O modo como a história é conduzida pode frustrar alguns, mas a beleza do filme está em mostrar a vida como ela é.
As vezes ela pode ser emocionante como em um filme de ação. Outras, pode ser monótona e parecer sem propósito. Mas cabe a cada um encontrar o seu propósito ou simplesmente seguir em frente e encontrar um novo motivo para viver.
Três Anúncios para um Crime é denso, pesado e perturbador, mas, ao mesmo tempo, consegue ser divertido e emocionante.
É um filme que pode te levar a extremos de riso e choro e te fazer questionar e mastigar o que acabou de assistir durante muito tempo.
Certamente, é uma das produções mais concisas e bem amarradas das indicações ao Oscar.
Prepare-se para se surpreender do início ao fim... Por mais que, no final da história, nada tenha acontecido e a vida continue normalmente em Ebbing, Missouri.
Nota: 5/5