[CRÍTICA] Rocketman – Adeus à estrada de tijolos amarelos!

Capa da Publicação

[CRÍTICA] Rocketman – Adeus à estrada de tijolos amarelos!

Por Gus Fiaux

Se, no ano passado, Freddie Mercury ganhou as telas no polêmico Bohemian Rhapsody, 2019 é o ano de Elton John. Em cartaz nos cinemas está Rocketman, a biografia que conta um pouco dos anos iniciais da carreira de um dos maiores ícones da música mundial.

Contudo, será que o longa consegue fazer justiça a uma pessoa tão complexa e importante quanto Elton em sua trajetória pelos palcos e charts mundiais? Nós já conferimos o filme, e aqui você pode ler nossa crítica!

Créditos: Paramount Pictures

Imagem de capa do item

Ficha Técnica

Título: Rocketman

Direção: Dexter Fletcher

Roteiro: Lee Hall

Ano: 2019

Data de lançamento: 30 de maio (Brasil)

Duração: 121 minutos

Sinopse: Um musical fantasioso sobre a vida fantástica do início da carreira de Elton John.

Imagem de capa do item

Rocketman - Adeus à estrada de tijolos amarelos!

Sir Elton Hercules John é um dos maiores nomes da música mundial. Mesmo que você não seja um admirador de seu trabalho, certamente já se pegou cantarolando uma de suas músicas. Sua contribuição para a cultura pop é inabalável, e agora ele sai dos palcos e invade as telas de cinema em Rocketman.

A biografia é dirigida por Dexter Fletcher (que assumiu as filmagens de Bohemian Rhapsody quando Bryan Singer deixou o projeto) e conta com Taron Egerton interpretando o cantor. No filme, acompanhamos os primeiros anos da carreira de Elton John - bem como sua relação com sua família e o compositor Bernie Taupin, seu colaborador frequente.

Imagem de capa do item

A essa altura do campeonato, é quase impossível não tecer comparações com Bohemian Rhapsody, já que ambos os filmes compartilham de tramas similares, estéticas parecidas e até mesmo a direção de Fletcher. No entanto, tentarei me ater às comparações apenas quando inevitável, para não cair em uma "briga de filmes" banal.

Sendo assim, é preciso dizer que Rocketman faz um trabalho muito mais coeso e coerente no que diz respeito à sua narrativa. O filme opta por embarcar no estilo de um musical clássico - isto é, quando as músicas são cantadas livremente e servem para representar as emoções dos personagens, criando uma aura muito mais fantástica e lúdica.

Imagem de capa do item

Isso, aliado ao fato de Elton John ser visto, desde o início, como um narrador não inteiramente confiável, torna o longa menos "preso" e preocupado com a retratação da história de uma forma fiel - o que também o torna, de certa forma, imune às críticas em relação às incongruências históricas.

Aliás, a presença do cantor como narrador de sua própria história é outro acerto do longa. O filme usa uma framing narrative (uma "narrativa-moldura", que é quando vemos alguém ou algo contando uma história e isso sendo retratado posteriormente) de uma forma brilhante, já que trata-se do próprio Elton literalmente se despindo e contando sua jornada em um grupo de apoio a alcoólatras.

Imagem de capa do item

O filme então embarca na jornada da vida de Elton John desde quando ainda era Reginald Dwight, em uma infância conturbada e com uma família fragmentada. Suas relações interpessoais ditam suas transformações ao longo dos anos, e o uso da música faz isso muito bem - especialmente quando uma das iniciais é I Want Love e a final é (I'm Gonna) Love Me Again.

Em sua jornada, somos apresentados às pessoas que fizeram toda diferença em sua vida - o compositor Bernie Taupin, que escreveu a maior parte das canções de Elton - e o empresário John Reid, que inicialmente teve um caso romântico com o cantor e posteriormente foi responsável por toda sua ruína artística e pessoal.

Imagem de capa do item

O que Rocketman faz de melhor é mostrar não apenas o impacto dessas pessoas na vida do cantor, como também o impacto de Elton John na vida delas. Dessa forma, ele se torna muito menos um ídolo e ideal inalcançável, e muito mais uma figura complexa e torturada por decisões erradas. O filme é muito mais um mergulho na vida de John do que um compilado de seus erros.

Aos poucos, vemos um garoto britânico tímido e introvertido se tornando uma figura cheia de excessos e extravagâncias. E o filme reconhece isso ao transformar Elton John em uma caricatura de si mesmo, ainda que isso seja feito de uma forma muito bem construída e compreensível, conforme à fama do cantor sobe à sua cabeça.

Imagem de capa do item

Nesse sentido, Taron Egerton foi a escolha perfeita para o papel. O ator, que criou um repertório pessoal para si nos últimos anos, na franquia Kingsman, não se limita a imitar os trejeitos e forma de falar de Elton John, e dá sua própria interpretação do artista - além de cantar as músicas da belíssima trilha sonora, o que torna a atuação ainda mais íntima e pessoal.

De um ponto de vista cinematográfico, essa decisão torna a interpretação de Egerton muito mais complexa do que, por exemplo, a de Rami Malek como Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody. Agora, se Egerton será reconhecido por seu árduo trabalho no Oscar e em outras premiações importantes é outra história.

Imagem de capa do item

Por outro lado, os quesitos técnicos também estão ótimos, com exceção de uma ou outra falha pequena. A fotografia é muito bonita, retratando com exatidão o glamour da vida de Elton John e as mirabolantes sequências musicais. No entanto, o trabalho de som se destaca, por apresentar uma nova roupagem para as músicas clássicas do cantor.

O problema realmente surge na montagem. Às vezes, o filme precisa correr de um ponto A para um ponto B, e isso é feito de uma forma um tanto quanto truncada e corrida. Por exemplo, há uma cena bem dramática que acontece em uma piscina e que renderia uma série de consequências vitais, mas isso é deixado de fora para que as coisas evoluam para a cena seguinte.

Imagem de capa do item

Por outro lado, há outros aspectos que também merecem louvor - dentre eles, o design de produção de Peter Francis e Marcus Rowland, que traz uma reconstrução de época muito atenta aos detalhes. E claro, isso não ficaria perfeito sem o excelente trabalho de figurino de Julian Day, que passa a personalidade extravagante de Elton John através de suas roupas mais icônicas.

Entretanto, há algumas cenas que recorrem ao uso de efeitos visuais - criando uma atmosfera ainda mais fantasiosa, como cumpre a proposta do longa. Ainda assim, essas cenas são, quase sempre, deslocadas na narrativa, causando uma estranheza inconveniente que poderia ter sido facilmente evitada.

Imagem de capa do item

Rocketman é um filme digno de sua estrela. É uma biografia que compreende seus limites e, ainda assim, entrega um retrato fantástico dos primeiros anos de carreira do cantor. Além disso, o filme consegue debater temas como preconceito, amor próprio, auto-destruição e até mesmo redenção de uma forma bem marcante.

Claro que há defeitos - sobretudo na montagem e em algumas decisões visuais -, mas o filme se sai muito bem, retratando de uma forma fantasiosa e irreverente os excessos da vida de Elton John. Para os fãs do cantor, é um presente - que revela os vários lados dessa lenda da música mundial.

NOTA: 4/5