[Crítica] Resident Evil 2 – Traindo sua nostalgia!

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[Crítica] Resident Evil 2 – Traindo sua nostalgia!

Por Lucas Rafael

Resident Evil 2 redefiniu o patamar de qualidade para jogos de terror enquanto assombrou uma nova geração de jogadores quando foi lançado em 1998. Muitos anos depois, a Capcom lança uma releitura de sua obra clássica. E aí, será que ela é digna do seu tempo?

Créditos: Capcom.

O game foi testado em um Playstation 4.

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REmake 2 ou só Resident Evil 2?

Existe um motivo pelo qual a Capcom não trata deste suposto remake de Resident Evil 2 como, de fato, um remake. Embora a essência do negócio e alguns acordes narrativos sejam os mesmos, a experiência foi ajustada e alterada para novas gerações, tornando o que você conhece por Resident Evil 2 uma besta inteiramente nova que, de certa maneira, vai surpreender até os jogadores que sabem de cor os meandros do jogo original.

E é o fato de Resident Evil 2 ser tão imprevisível que o torna desconfortante e assustador como a franquia não era há anos.

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O mundo de Resident Evil sempre dependeu de um balanço entre ludicidade e medo. Alguns jogos acertam mais nisso do que outros. Na cidade de Raccoon City, delegacias são construídas em cima de antigos museus com passagens secretas; o serviço de esgoto do município é feito por uma empresa com um estranho fetiche por peças de xadrez e esse tipo de coisa que só existe para dar vazão à quebra-cabeças.

Aqui, assim como em outros títulos da franquia, o seu boneco deve desvendar o ambiente ao seu redor para prosseguir. Peças, alavancas, engrenagens, chaves e medalhões são essenciais para ativar dispositivos, abrir compartimentos e permitir sua progressão. A cereja no topo do bolo é que existem criaturas sanguinolentas no seu caminho dificultando essa progressão.

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Traindo sua nostalgia

O remake de Resident Evil 2 dificilmente conseguiria conquistar a mesma influência ou impacto de seu antecessor. Mesmo se fosse algo nos moldes de REmake 1, ele introduziria um jogo essencial para uma nova geração e ficaria por isso. Onde esta nova obra vai além é justamente quando ela se recusa em te dar uma sensação de familiaridade. Resident Evil 2 é uma armadilha para você como jogador, e a nostalgia é sua principal isca.

Quando o jogo começa, a cutscene é idêntica àquela do título clássico, ainda que repaginada. O caminhoneiro ouvindo o rádio dirigindo pela chuva, o posto de gasolina tomado por zumbis. Rapidamente, se você é familiar ao antigo, as sinapses do seu cérebro disparam. Você já esteve ali antes, sabe o que vem pela frente. É o que o game quer que você pense.

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A delegacia, primeira área de Resident Evil 2, possui alguns ajustes em seu mapa. Os puzzles foram alterados, você nunca sabe quando um cadáver é pura encenação ou se ele vai te puxar pelo pé. Sua nostalgia rapidamente é corrompida por um senso de desconforto, como que num sonho ruim. Você já esteve lá antes, mas as coisas estão diferentes.

É nesse fator surpresa que mora o pulo do gato, e é aí que Resident Evil 2 faz algo digno de menção: você vai ficar apreensivo durante boa parte do jogo.

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Resident Evil 2 é intenso. Você nunca sabe quando um zumbi está verdadeiramente morto, não importa quantos tiros desfira. Não bastasse isso, gerenciar seu inventário para abarcar itens importantes vai requerer o sacrifício de itens convenientes que podem salvar sua pele mais pra frente.

Quando você começa a desvendar a delegacia, Mr. X aparece e te persegue incansavelmente. Imponente e soturno, é possível ouvir os passos da criatura ecoando uma sala acima da sua, fazendo a mão apertar no controle. Quando ele adentra o mesmo cômodo que você, um trilha sonora pulsante assalta os seus ouvidos como que dizendo: "Corra".

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A câmera é mais fluída do que a do original e os movimentos "tanque" foram substituídos pela leveza da terceira pessoa. Conforme você gira ao redor dos ambientes escuros com Leon ou Claire, é difícil dizer o que o facho de luz de sua lanterna vai iluminar. Talvez, seja um item precioso que você esteja procurando, talvez um Licker paradinho na parede esperando a deixa para te destrinchar.

Aliás, os Lickers agora são realmente cegos. Dá para desviar deles se você passar quietinho, o que imbui o game de sessões stealth inesperadas. Não, nem sempre dá pra peitá-los, e tá tudo bem nisso. É um jogo de sobrevivência em primeiro lugar, com acordes pontuais de ação.

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Em termos de história, coisinhas são alteradas mas no fim, é a mesma essência do original. Personagens como William Birkin e Chef Irons estão aqui e cumprem os mesmos propósitos de outrora.

A área de Ada foi alterada com novas mecânicas, existe uma nova sessão no orfanato que te faz jogar com uma criança para ampliar o fator medo.

Encontros com alguns inimigos foram alterados, mas sem sacrificar a dinâmica desses eventos, e sim atualizá-la para sensibilidades modernas.

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Vísceras em alta-resolução

O gráfico surpreende, das partículas que passam lentamente pelo facho de luz da sua lanterna às tripas penduradas para fora das barrigas de mortos-vivos decrépitos.

As mutações de Birkin são viscosas, o olho gigante no braço do personagem parece ter conjuntivite em alguns momentos, tendo um aspecto untado de pus e membranas gelatinosas. É horror corporal de qualidade com o selo Resident Evil de nojeira, tudo melhorado (ou piorado, dependendo do seu estômago) para os padrões atuais.

O fator medo é ainda mais acentuado pelos efeitos sonoros do game, que são diabólicos e ominosos, gelando sua espinha sempre que você entra em uma sala escura e ouve um zumbi gritando de fome.

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Conteúdo robusto

A munição é generosa se você souber estocar. Do contrário, os recursos serão bastante escassos, acrescentando uma camada extra ao seu desespero. É vital saber quando fugir e atirar somente quando necessário. Uma bala que não atinge seu alvo é um recurso valioso sendo desperdiçado.

Existe uma campanha inteira para Leon e Claire, e posteriormente o lado B desta campanha, dependendo do personagem que você escolheu para começar.

Existem uns errinhos de continuidade bobos na trama que ocorrem principalmente no diálogo entre jornada A e B, mas que são necessários para preservar o fator intensidade do gameplay. Não é porque Leon já saiu da delegacia que a jornada de Claire deve ser facilitada, e vice-versa.

Enquanto a campanha de Leon gira em torno de Ada Wong, a de Claire tem como centro Sherry Birkin. Ambas as campanhas são diferenciadas o suficiente para te fazer revisitar o título, expondo elementos interessantes da mitologia da franquia enquanto os retrabalha e atualiza.

Existem modos extras, como o Tofu e Quarto Sobrevivente. É legal que eles estejam aqui, mas não são de grande valia a não ser que você seja um complecionista.

Como dito, a Capcom se esforçou em trazer uma nova iteração de Resident Evil 2. Embora o game traga novidades, muitas coisas do original, como certos inimigos, foram cortados.

Dá pra incluir a trilha-sonora do original caso você tenha a edição deluxe, o que é bem bacana também.

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Conclusão

Resident Evil 2 não quer revolucionar a indústria como seu antecessor. Pelo contrário, quer oferecer uma nova proposta de medo que vai predar na nostalgia para te expulsar de sua zona de conforto. Se você não jogou o original, talvez as surpresas que Resident Evil 2 desferir em você sejam ainda maiores. Talvez esse seja seu novo jogo favorito. Definitivamente, se trata de uma experiência marcante.

A nota final para Resident Evil 2 é 4,5 de 5.