[CRÍTICA] Power Rangers – Menos faíscas, mas a mesma diversão!
[CRÍTICA] Power Rangers – Menos faíscas, mas a mesma diversão!
Power Rangers foi uma das maiores febres dos Anos 90. Aproveitando as cenas de luta do aclamado seriado japonês Super Sentai, Haim Saban conseguiu popularizar a franquia no Ocidente e conquistou uma legião de fãs.
Agora, os Rangers estão de volta às telonas, mas será que eles conseguirão repetir o feito da série original?
A crítica não contém spoilers do filme!
Ficha Técnica
Estreia: 23/03/2017;
Direção: Dean Israelite;
Trilha-Sonora: Brian Tyler;
Produção: Haim Saban, Marty Bowen, Brian Casentini, Wyck Godfrey;
Sinopse: A trama conta a jornada de cinco adolescentes que devem buscar algo extraordinário quando tomam consciência que a sua pequena cidade Alameda dos Anjos - e o mundo - estão à beira de sofrer um ataque alienígena. Escolhidos pelo destino, eles irão descobrir que são os únicos que poderão salvar o planeta. Mas para isso, eles devem superar seus problemas pessoais e juntarem sua forças como os Power Rangers, antes que seja tarde demais.
Power Rangers, da Lionsgate, tinha a difícil missão de trazer de volta os aprendizes de Zordon, reformulando a equipe para apresentá-la a um novo público e, ao mesmo tempo, agradar os fãs mais velhos.
O filme pode não ser a obra mais fiel ao seu material original, mas conseguiu cumprir sua função com maestria.
Logo no início da trama somos apresentados a Jason Scott, que se une a Kimberly Hart e Billy Cranston na detenção, em uma clara alusão ao aclamado Clube dos Cinco.
Jason mostra, desde o começo, que, por mais que tenha seus problemas, não aceita presenciar injustiças. Característica presente no personagem original da série.
Mas Jason não é o único adolescente problemático da equipe...
Diferente de Mighty Morphin Power Rangers, que mostrava os personagens como pilares inabaláveis, modelos de perfeição e basicamente imbatíveis, aqui nossos protagonistas são falhos desde suas origens.
Cada um deles possui uma imperfeição, seja a dificuldade de encarar os problemas em casa, um segredo que acabou com sua vida social ou até mesmo um incidente que encerrou uma carreira promissora.
Os novos Power Rangers não são um grupo de adolescentes com garra, mas eles encontram a força para encarar seus problemas unidos e assim se tornarem a equipe capaz de impedir um antigo mal de destruir a Terra.
No entanto, por mais que a união da equipe funcione muito bem e consigamos nos afeiçoar pelos personagens, o desenvolvimento individual dos adolescentes peca em diversos aspectos.
Com a notícia de que mais 5 filmes dos Power Rangers já estão programados, o passado de cada membro pode ser bem explorado nas produções seguintes, mas este filme se propõe a ser o ponto de partida desse novo universo, portanto seria interessante que todas as respostas fossem obtidas em um primeiro momento.
Depois que o grupo é reunido, somos apresentados a Zordon e Alpha 5. E a dupla vivida por Bryan Cranston e Bill Hader é um dos pontos altos da trama.
O passado de Zordon foi alterado e, a princípio, os fãs mais fervorosos podem estranhar a nova personalidade do mentor dos Power Rangers.
Diferente do personagem original, que era um poço de sabedoria e depositava sua total confiança nos Rangers, o novo Zordon não acredita no potencial dos novos escolhidos e os encara com grande decepção.
Cabe ao simpático Alpha a missão de tentar transformar os adolescentes em uma equipe, ganhando muito mais destaque que sua contraparte original.
No entanto, conforme o filme avança, percebemos que Zordon evolui ao lado dos Power Rangers e finalmente a conexão entre mentor e aprendiz é estabelecida.
Mas antes de enfrentar a grande vilã da história, os adolescentes precisam superar seus problemas juntos. É aqui que algumas estrelas começam a brilhar.
A primeira delas é a de RJ Cyler, responsável por viver o Ranger Azul. No filme, Billy é um garoto introvertido e com uma grande sede por conhecimento e novas descobertas, mas também portador de uma síndrome que o faz ser alvo de piadas e bully na escola.
Mesmo assim, Billy carrega a pureza dentro de si e funciona, basicamente, como uma representação do próprio espectador dentro da equipe. A cada revelação sobre os Rangers, a cada descoberta de poderes, Billy fica mais empolgado com a história de se tornar um super-herói. Empolgação que, até mesmo, contagia o androide Alpha 5.
Destaque também para o modo como a sexualidade de Trini foi abordada. Existem alguns momentos de sutileza que introduzem a questão de forma natural, como deve ser.
Vale ressaltar que o fato da personagem ser homossexual não foi utilizado para "promover" o filme, mas simplesmente passou a ser comentado depois que ocorreram as primeiras exibições da produção.
Cada protagonista possui uma crítica social imbuída, mas elas são abordadas de maneira fluida dentro da trama. Algumas podem não funcionar, mas tudo é tratado de maneira natural.
O modo como os problemas de Kimberly e Jason se relacionam ajuda a fortalecer o desenvolvimento dos personagens e conseguimos entender porque eles se aproximam.
Mas mesmo com essa aproximação não há romance! E isso é um ponto a favor do filme!
Nos trailers, víamos uma cena mais calorosa entre os personagens de Dacre Montgomery e Naomi Scott, mas, felizmente, o momento acabou sendo cortado da versão final.
Na série original, havia uma "paixonite" entre os Rangers nos primeiros episódios, mas aos poucos isso muda e eles passam a nutrir grande respeito e admiração um pelo outro.
Com sorte, esse mesmo plot pode ser aproveitado no Universo Cinematográfico, levando ainda mais fidelidade para os filmes.
Falando em fidelidade, o filme pode não ser o maior representante nesse quesito, mas está recheado de referências para os fãs da velha guarda.
Desde frases como Faça o meu monstro crescer! até momentos clássicos como a primeira vez em que os escolhidos saem da "Fortaleza de Zordon" e a hesitação de Jason depois de descobrir sobre os Power Rangers.
Até mesmo o icônico tema de Mighty Morphin Power Rangers é tocado em um momento crucial da trama.
Além disso, há um verdadeiro banho de nostalgia após a batalha final... e os verdadeiros fãs vão saber do que eu estou falando!
Por falar na música tema, a trilha sonora é outro ponto que merece destaque.
Apesar de não ser uma obra prima, as composições originais ajudam a definir um novo tom heroico para a equipe e combinam perfeitamente com a nova proposta do grupo.
As músicas também empolgam. Em sua maioria, são covers de clássicos já consagrados. Versões de canções como Ring of Fire e Stand by Me ajudam a definir o ritmo em momentos chave da trama, seja em cenas emocionais ou ajudando a ditar o tom frenético das batalhas.
Os combates são outro ponto alto da produção, mas infelizmente não temos as clássicas faíscas.
Os Patrulheiros da Massa estão muito mais interessantes e oferecem um desafio maior aos Rangers por agirem como uma verdadeira horda de combatentes incansáveis.
Nós até mesmo gostaríamos de ver mais dos soldados de Rita Repulsa em ação, mas o auge da batalha está no uso dos Zords!
Diferente dos veículos da série original, aqui os Zords são quase organismos vivos, que possuem uma ligação com seus Rangers e só funcionam plenamente quando seu piloto já alcançou seu poder total.
Isso é um reflexo do modo como as próprias armaduras são apresentadas. Agora, elas são basicamente uma força mística que já existe dentro dos Rangers, mas só se manifestam quando eles são capazes de atingir o Canal de Morfar.
Só mesmo a união de armas tão poderosas conseguiria bater de frente com o Goldar de Rita Repulsa.
Mas precisamos falar sobre a vilã do filme!
A Rita Repulsa de Elizabeth Banks rouba a cena toda vez que aparece.
Talvez sua personagem seja a que mais fuja da proposta "pé no chão" que os estúdios querem construir para os novos filmes, mas sua atuação é tão convincente que "compramos" suas motivações logo nas primeiras cenas.
A vilã mescla momentos sombrios e verdadeiramente apavorantes com cenas cômicas, mas que ao mesmo tempo mostram todo o seu poder.
Quem queria ver os monstros assistentes da feiticeira pode se decepcionar com o fato de Goldar ter sido transformado em uma criação da própria Rita, mas o "douradão" consegue espalhar tanto caos e destruição quanto jamais outro monstro o fez na série original.
Rita Repulsa é uma vilã grandiosa e mais do que um desafio para os Power Rangers. Sem sombra de dúvidas é o maior ponto positivo da trama e precisa retornar para a franquia nos próximos filmes!
Mas mesmo com tantos pontos positivos e o fator nostalgia ao seu favor, Power Rangers não é perfeito.
Como já mencionei, algumas questões no desenvolvimento dos protagonistas podem incomodar e existem diversos furos de roteiro como a população não perceber destruições gigantescas nos arredores da cidade ou a família dos protagonistas ignorando situações absurdas.
No entanto, vale ressaltar que esses momentos também aconteciam na série original, mas como o novo universo se propõe a ter um clima mais realista, poderia ter se atentado a esses detalhes.
Os efeitos visuais também podem incomodar os mais exigentes, mas considerando o "baixo" orçamento de 100 milhões de dólares para um filme dessa magnitude, estão mais do que satisfatórios.
No geral, Power Rangers possui grandes momentos que empolgam os novos espectadores e agraciam os fãs antigos com cenas de tirar o fôlego. Não veremos indicações ao Oscar e mesmo suas discussões não são suficientes para fomentar uma mudança de paradigmas, mas o filme arrisca em um novo ambiente e se mostra um forte concorrente para uma nova saga de sucesso nas telonas.
Mesmo com seus erros, Power Rangers continua extremamente divertido e deixa uma série de possibilidades em aberto para serem exploradas. Por isso, o filme leva 4 Rita Repulsas Bandidas pra casa!
Ah, não se esqueçam de ficar para a cena no meio dos créditos. É MORFENOMENAL!