[CRÍTICA] Podres de Ricos – Ostentação oriental!

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[CRÍTICA] Podres de Ricos – Ostentação oriental!

Por Gus Fiaux

Após dois meses de atraso em relação ao seu lançamento norte-americano, Podres de Ricos – a adaptação cinematográfica do livro homônimo de Kevin Kwan – finalmente chegou aos cinemas Brasileiros. Um delicioso romance com pitadas de comédia, o longa ganha destaque por suas atuações e por uma incrível estética ostensiva – confira o resultado em nossa crítica!

Créditos: Warner Bros.

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Ficha Técnica

Título: Podres de Ricos (Crazy Rich Asians)

Ano: 2018

Data de lançamento: 25 de outubro (Brasil)

Direção: Jon M. Chu

Classificação: 12 anos

Duração: 120 minutos

Sinopse: Essa comédia romântica contemporânea, baseada em um best-seller global, segue a sino-americana Rachel Chu, que viaja até Singapura para conhecer a família de seu namorado.

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Podres de Ricos - Ostentação oriental!

2018 está se provando um ano muito importante para a representação de minorias no cinema. Se, por um lado, temos filmes como Com Amor, Simon, que traz a questão LGBTQ+ para um público mais mainstream, por outro lado temos Pantera Negra, composto por um elenco majoritariamente negro. E algo similar acontece com Podres de Ricos.

Adaptação do famoso best-seller de Kevin Kwan, o longa segue a história de Rachel Chu, uma dedicada professora de economia, que se apaixona por Nick Young, sem saber que ele é herdeiro de uma família extremamente rica. Juntos, os dois viajam para Singapura, mas Rachel logo percebe que as tradições familiares podem pôr seu relacionamento em risco.

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Antes de mais nada, o filme mostra que muitas desculpas dadas por estúdios para não contratarem atores asiáticos são furada. Além de ter sido um absoluto sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, o longa sabe aproveitar um elenco talentoso composto quase que exclusivamente por atores asiáticos, todos muito bem escalados e dedicados aos seus papéis.

No centro disso, temos Constance Wu e Henry Golding como o casal principal. Ambos esbanjam uma forte química e uma leveza admirável. Wu, por um lado, consegue transmitir todas as inseguranças e forças de Rachel, enquanto Golding traz uma presença protetora, segura e adorável. É a típica comédia romântica na qual você torce para o casal do início ao fim.

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Mas eles não são os únicos a brilhar em seus papéis. O longa conta com um elenco verdadeiramente astronômico, com muitos personagens surgindo nas telas a cada segundo. Michelle Yeoh é uma das figuras mais imponentes, interpretando Eleanor Young, a mãe de Nick. Apesar de agir como uma espécie de antagonista, ela tem várias camadas a serem reveladas.

Por outro lado, também temos Gemma Chan como Astrid Leong-Teo, uma coadjuvante com um arco dramático muito interessante, que corre em paralelo à história central; além de Awkwafina. A atriz que despontou neste ano com Oito Mulheres e um Segredo está aqui novamente, no papel da divertidíssima Peik Lin. Impossível não rir quando ela está em cena.

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Aliás, falando na comédia, o filme sabe fazer uma mescla interessante de gêneros. É uma das comédias românticas mais efetivas dos últimos anos, de modo que, em nenhum momento cai no "água-com-açúcar" e se torna piegas. Apesar disso, o roteiro não foge às convenções do gênero, mas consegue subvertê-las com uma execução primorosa.

De certa forma, o longa sabe ostentar, e faz isso com muito gosto. Cada plano em Singapura absorve toda a beleza e exuberância da cidade, que é uma das mais ricas do planeta. O tempo inteiro vemos cenários belíssimos e cada vez mais chiques, enquanto o nosso senso de deslumbramento encontra o de Rachel, também encantada com paisagens tão peculiares e únicas.

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E isso se deve, obviamente, à dedicada direção de Jon M. Chu. Curiosamente, é o primeiro longa realmente "bom" da carreira do cineasta, que previamente só havia feito alguns capítulos da franquia Ela Dança, Eu Danço, além dos filmes-turnê de Justin Bieber e o fracassado Jem e as Hologramas.

Aqui, Chu incorpora alguns elementos de seus trabalhos anteriores, como a rica mise-en-scène (ou seja, a forma na qual ele conduz a ação e os elementos na cena), além de uma edição mais puxada para o videoclipe - que pode ser um defeito em qualquer outro filme, mas aqui funciona para criar uma dinâmica à trama de duas horas.

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São justamente esses detalhes que tornam Podres de Ricos um filme excepcional, ainda mais considerando o mercado atual das comédias românticas. Nota-se um preciso senso estético na fotografia, que como mencionado, sabe aproveitar muito bem os cenários e ostenta sem pudor a riqueza das mansões e dos hotéis onde transitam os personagens.

Em termos de som, a trilha sonora de Brian Tyler - que já trabalhou em Homem de Ferro 3 e Thor: O Mundo Sombrio - não é lá muito interessante. Na realidade, ela soa genérica e repetitiva, mas isso é compensado pela trilha cantada, que adapta grandes sucessos da música pop, como "Material Girl" da Madonna, para o idioma chinês.

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Algumas cenas se sobressaem mais do que outras, evidentemente - e isso gera os melhores momentos do filme. No meio, por exemplo, temos um casamento, que traz uma das sequências mais belas e emocionantes da trama - e olha que nem se trata da união dos protagonistas. A cena tem uma estética elaborada, que realmente traz lágrimas de alegria aos olhos de quem está assistindo.

Ainda assim, o longa não é apenas um compilado de cenas luxuosas e personagens bem interpretados. Por baixo do romance, reside a clássica história do "príncipe e a plebeia", mas que aqui encontra novos ares ao tecer uma crítica social aos costumes tradicionais das famílias ricas na ótica oriental.

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Desse jeito, acompanhamos a perseguição que Rachel Chu sofre pela família de Nick Young. E se isso começa de uma forma engraçada e até mesmo clichê, logo vai adquirindo contornos mais graves, que envolvem até mesmo humilhação pública e desmoralização familiar, o que cria um antagonismo que, por vezes, parece impossível de deter.

Assim, o filme sabe também tecer uma auto-crítica à sua ostentação. A cada minuto, somos lembrados do pesar que há por trás dessa riqueza - e como a candura proporcionada pelo dinheiro é, na maior parte das vezes, falsa. Em cenas muito precisas, o longa consegue glamourizar, ao mesmo tempo em que combate algumas tradições arcaicas e retrógradas.

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Em termos gerais, Podres de Ricos é uma ótima pedida para assistir com seu parceiro, parceira ou até mesmo com toda a família. É um longa leve e descompromissado, que surpreende não apenas por seu elenco composto quase totalmente por atores asiáticos, mas também por sua riqueza de detalhes e crítica social muito bem instalada.

Não é surpresa que o mais recente trabalho de Jon M. Chu tenha conseguido um sucesso tão grande dentro das bilheterias norte-americanas, abrindo ainda mais espaço para a representação da Ásia nos cinemas. Com sorte, Podres de Ricos é apenas um começo - uma comédia romântica pioneira, que mostra que o público de Hollywood está interessada sim em outras vivências e culturas.

NOTA: 5/5