[CRÍTICA] Os Defensores – Muito mais que Vingadores do subúrbio!
[CRÍTICA] Os Defensores – Muito mais que Vingadores do subúrbio!
Uma das reuniões de super-heróis mais aguardadas do ano finalmente chega à Netflix… e definitivamente valeu a espera!
Reunindo Luke Cage, Jessica Jones, Demolidor e Punho de Ferro, a primeira temporada de Os Defensores finalmente chegou ao catálogo da Netflix. A minissérie da equipe não apenas trouxe esse grupo de vigilantes a um confronto final contra o Tentáculo, como também pavimentou o futuro do Universo Cinematográfico da Marvel no serviço de streaming!
A seguir, você confere nossa crítica sobre a série. E, caso queira ver ainda algumas primeiras impressões sobre esse evento super aguardado, ainda pode dar uma conferida na nossa review dos quatro primeiros episódios!
Créditos: Divulgação (Netflix)
Quando a Marvel anunciou um núcleo em seu Universo Cinematográfico dedicado exclusivamente aos heróis urbanos, que se reuniriam em uma série-evento, muitos ficaram animados com o planejamento do estúdio. Demolidor e Jessica Jones foram grandes sucessos de público e crítica. E mesmo a recepção morna de Luke Cage ou o fiasco de Punho de Ferro não abalaram essas expectativas.
Os Defensores é tudo que os fãs poderiam imaginar, combinando esses personagens em uma trama repleta de ação e suspense, sem deixar de lado o desenvolvimento emocional de cada um dos integrantes dessa equipe de vigilantes badass. E por mais que a estrutura desse núcleo se assemelhe ao que foi feito nos cinemas com os Heróis Mais Poderosos da Terra, não se engane: esses heróis são muito mais que os Vingadores do subúrbio!
A trama de Os Defensores toma espaço em mais ou menos uma semana, trazendo de volta os heróis de onde os vimos pela última vez em suas séries solo. Cada um tem um papel importante na luta contra a organização ninja conhecida como Tentáculo, que está mais perto do que nunca de alcançar seus planos malignos, sob a liderança da ameaçadora - e enigmática - Alexandra.
Por conta desse tempo curto e de uma diminuição na quantidade de episódios em relação às séries solo - são apenas 8 episódios, com duração menor -, a história progride em um ritmo acelerado e constante, o que deve agradar os fãs que se incomodaram com a "trama arrastada" de outras séries como Luke Cage e Punho de Ferro. Ao mesmo tempo, isso gera uma correria - compreensível - nos três últimos episódios, para amarrar todas as pontas soltas.
Ainda assim, a série dá saltos no que diz respeito à evolução dos personagens. Cada um tem um papel impressionante, situando-os de maneira brilhante dentro do Universo Cinematográfico da Marvel, e pavimentando o caminho para as próximas temporadas de suas séries solo - ou até mesmo dando pistas para eventuais reencontros e novas séries derivadas.
Jessica Jones está cada vez mais próxima de retornar ao papel da investigadora particular favorita de todo mundo. Luke Cage e Punho de Ferro desenvolvem uma dinâmica amistosa e jovial, abrindo espaço para o futuro dos Heróis de Aluguel. E o Demolidor encontra-se finalmente às portas de "uma certa queda" que todos esperamos para ver desde o início de sua série solo, em 2015.
Falando nos personagens (mas voltando um pouco a fita), cada qual tem um papel importantíssimo na concepção da série. Matt Murdock é, sem dúvidas, o que mais ganha desenvolvimento emocional, tendo abandonado a carreira do Demolidor após a traumática morte de Elektra.
Jessica Jones está num rumo parecido. Depois de ter se tornado regionalmente famosa por ter derrotado Kilgrave, ela está sendo cada vez mais requisitada como investigadora, o que deixa a personagem irritadiça e cada vez mais evasiva de sua profissão.
Esses dois representam os maiores elos dramáticos e cômicos da série. Enquanto o Demônio de Hell's Kitchen é o personagem lógico, que sempre traz soluções práticas, a detetive é fonte das melhores tiradas sarcásticas, carregando em si um tom depreciativo em relação à equipe e sua função.
Por outro lado, Luke Cage é o que parece finalmente ter entendido seu papel social nesse universo. Recém-liberto de seu cárcere, ele finalmente está agindo como o herói que o Harlem precisa e é isso que o coloca no caminho do Tentáculo e dos outros heróis.
O Punho de Ferro é quem liga a série, tematicamente. Desde a última vez que o vimos, ele tem caçado os membros do Tentáculo e procura respostas sobre o desaparecimento de K'un-Lun. Eventualmente, ele se torna o objetivo final da organização.
Se esse grupo funciona tão bem, é por conta de seu elenco. Charlie Cox e Krysten Ritter continuam fazendo o que sabem fazer de melhor. Mike Colter adiciona carisma e simpatia. E embora Finn Jones continue sendo o ator mais problemático do grupo, ele encontra suavidade e personalidade ao lado dos outros heróis.
No lado dos vilões, temos Alexandra, que ganha uma postura ameaçadora graças à performance de Sigourney Weaver. A personagem tem uma história complexa, que ganha profundidade nos detalhes de seu ar bon vivant e ambicioso. Infelizmente, ela perde força por conta dos outros vilões da série, que não funcionam bem em equipe.
Elektra, interpretada por Elodie Yung, está mais perto de sua caracterização dos quadrinhos - com um uniforme que remete bastante o traje clássico da personagem. E na maior parte do tempo, a atriz faz um trabalho competente.
Em termos de coadjuvantes, a série aproveita para reunir e traçar interações entre os personagens das séries solo. O destaque, no entanto, vai para Misty Knight, que ganha um papel importante, com ramificações visíveis no futuro.
Mas não é apenas dessa forma que a série consegue superar o sucesso de suas antecessores. Boa parte disso também encontra significado no aspecto visual da trama.
Um exemplo claro é a fotografia, que retorna ao minimalismo e traça um padrão de cores bem definidos para os heróis. Vermelho, roxo, amarelo e verde dominam a tela, e podemos perceber de quem é o momento de destaque graças a predominância de uma dessas cores.
O som também é digno de nota, seja na trilha sonora ou na sonoplastia, que injetam de formas contrastantes doses de elegância e um charme urbano e "sujo", que não apenas ajuda a compor a personalidade dos heróis, mas também a mostrar o perigo dos vilões ou as falhas nas estruturas - sejam físicas ou lógicas.
Em termos de ação - que é algo que todos estavam esperando - a série ganha um bom impulso. Cada personagem usa seus talentos de uma forma única, gerando sequências impressionantes e bem arquitetadas, seja na coreografia ou na montagem. Ainda que os dois últimos episódios sofram com uma ou outra sequência "mutilada" por cortes muito rápidos.
Aliás, há uma melhora significativa no uso de poderes em combate. O Punho de Ferro, por exemplo, ganha muito mais espaço em coreografias mais refinadas, o que por si só já é uma grande melhora em relação à serie solo do personagem.
Os efeitos visuais continuam como nas outras séries da Marvel/Netflix, adicionando apenas o necessário. Ainda que falhe uma ou outra vez, não é nada que quebre o senso de realidade suspensa da ação e tampouco é usado em demasia exaustiva.
Mas nem tudo são rosas. A série comete alguns erros bem específicos, principalmente no que diz respeito à trama. Embora comece em um crescendo positivo, o final é repleto de coincidências fortuitas e sofre com um plot twist que já foi usado mais de uma vez nas séries solo.
Outro problema é um furo de roteiro deixado na metade da série. Se o Tentáculo estava infiltrado em todos os níveis da cidade de Nova York, como os heróis podiam confiar na polícia para manter seus amigos e amados a salvo?
Ainda há um empecilho que é a revelação final do objetivo do Tentáculo. Além de não fechar as pontas para a trama de Punho de Ferro, essa descoberta ainda acaba sendo um tanto quanto fraca, mesmo que isso não comprometa o entretenimento proporcionado pela série como um todo.
Ainda assim, é uma série definitivamente bem acima da média. Um dos fatores que deve agradar muito os fãs é a deliberada inspiração em algumas tramas dos quadrinhos. Há espaço para um pouco de tudo, desde a história de Elektra, a reunião de duas duplas famosas e até mesmo inspirações visíveis em cenas clássicas das HQs.
Dessa forma, a série ganhará um espaço afetivo entre quem já acompanhou tudo até aqui. Esses heróis se reúnem não apenas de forma aleatória, mas causando uma grande explosão de alegria e recompensa pela espera ansiosa do público.
Diferente dos Vingadores, essa equipe está reunida não apenas por suas qualidades, mas (principalmente) por seus defeitos, que tornam cada um desses heróis únicos e complexos, algo que é cada vez mais requisitado nas adaptações de quadrinhos.
Aprendendo com erros do passado - ainda que repetindo alguns - e traçando um plano visível para o futuro, Os Defensores é o tipo de série que pode ser maratonada em uma única tarde, sem medo. É uma trama rápida, bem humorada e com uma leveza até então desconhecida por esses vigilantes.
Mas não confunda leveza com facilidade: os perigos estão maiores do que tudo que eles já enfrentaram anteriormente e, dessa vez, a luta é em uma escala épica: trata-se de um confronto para salvar não apenas um indivíduo, mas todo o coração de Nova York.
Tudo isso é envolto por uma história que não apenas reconhece seus personagens, mas também sabe levá-los em direções diferentes. Basta ver as cenas de interação entre duplas, como Jessica e Matt ou Danny e Luke, que mostram mais da personalidade real dessas pessoas.
Munida de atores mais do que confortáveis em seu papel, uma história rápida e contida, e alguns planos claros para o futuro, Os Defensores é uma reunião à altura para esses vigilantes suburbanos de Nova York. Todos passam por mudanças estruturais, sejam emocionais, psicológicas ou até mesmo físicas.
E por mais que seja apenas uma minissérie, ela garante de vez uma eventual segunda temporada - talvez com um elenco ativo ainda maior, tornando os Defensores um grupo tão importante para o Universo Cinematográfico da Marvel na TV quanto os Vingadores ou os Guardiões da Galáxia são para o cinema.
Nota: 4/5
E para quem é fã do Justiceiro, não se atrevam a perder a cena pós-créditos do último episódio.