[CRÍTICA] Okja – Uma Jornada que Emociona e Instiga!
[CRÍTICA] Okja – Uma Jornada que Emociona e Instiga!
Produção original Netflix dirigida por Bong Joon-Ho se mostra uma viagem humanitária sensível e insana, preocupada em instigar a reflexão enquanto emociona.
Ficha Técnica
Título: Okja (Okja)
Ano: 2017
Lançamento: 28 de junho de 2017 (Coreia do Sul)
Direção: Joon-Ho Bong
Duração: 2 horas
Sinopse: Um imenso animal e a menina que o criou se veem no fogo cruzado entre o ativismo animal, a ganância empresarial e a ética.
Okja - Uma Jornada que emociona e instiga!
Muita gente tem cachorros, gatos ou algum animal de estimação. O relacionamento entre um humano e seu bichinho de estimação é um elo forte, fazendo com que nos preocupemos em alimentá-los, levar para caminhar, botar água em suas vasilhas e desembolsar uma grana no veterinário quando começam a agir de modo estranho.
Esse amor por animais que nutrimos faz com que seja muito fácil criar empatia por obras que usam essa relação como alicerce. É por isso que muita gente chora em Marley e eu, que ficamos com um nó na garganta ao final de Sempre ao Seu Lado. É muito fácil encontrar empatia nessas situações já que elas não fogem muito do nosso estilo de vida. A ficção torna-se relacionável. Esse é um aspecto muito chamativo em Okja. Embora seja um filme sobre uma garota atrás de seu superporco mutante, as expressões no rosto de Okja e o relacionamento da porquinha com a garota Mija, no começo do filme, fazem com que um elo de empatia entre nós, a menina e seu porquinho seja rapidamente estabelecido.
Okja é um filme inteligente. Nele, o diretor Bong Joon-Ho usa a jornada de Mija para recuperar seu superporquinho como um conduíte para falar sobre hegemonia corporativista (cenário onde uma empresa domina o mercado), responsabilidade social através da sustentabilidade e a contradição gerada por essas coisas. Em resumo, a empresa não é sua amiga. O filme também tece críticas enervantes sobre nossa cultura de consumo, mas fica longe de parecer algo ideologicamente propagandístico ou forçado. Embora esses sejam os alvos principais do filme, ele ainda lança um olhar cínico sobre praticamente todo o núcleo de personagens com exceção da garota Mija, o que ajuda a enaltecer sua pureza no meio daquele mundo dúbio.
Um dos grandes destaques de Okja é o seu elenco, composto por personagens vibrantes e energéticos. Temos Lucy Mirando (Tilda Swinton), uma personagem afetada que se preocupa legitimamente em passar uma mensagem consciente e melhorar a imagem de sua empresa. Ela, constantemente, cita sua irmã e seu pai como "empresários chatos e cruéis", botando sua estratégia de marketing para a empresa Mirando na frente de outras pertinências.
Temos também o Dr. Johnny Wilcox de Jake Gyllenhaal, um zoólogo personalidade da TV preocupado com sua atual reputação. A atuação de Gyllenhaal atinge níveis cartunescos propositais que funcionam para manter a atenção do espectador, ainda que seus maneirismos podiam ser um pouco mais contidos.
Já o Jay de Paul Dano e sua equipe de ativistas mostram-se personagens divertidos, contando com uma apresentação épica durante uma perseguição de caminhões. Conforme esse núcleo é desenvolvido, vemos que as coisas nesse meio podem ser um pouco radicais demais. Aqui temos ainda a presença de atores como Lily Collins e Steven Yeun.
É necessário ressaltar também a atuação da jovem Ahn Seo-hyun como a jovem Mija, uma personagem que começa o filme sendo um retrato de inocência, mas que cresce durante a progressão da narrativa tornando-se desconfiada e até mesmo um pouco odiosa em relação ao mundo que a cerca. A vida fora das montanhas onde cresceu é bem diferente do que Mija imaginava.
A própria Okja não deixa a desejar em sua concepção visual, sendo extremamente crível, com texturas realísticas e interagindo com o ambiente de forma natural conforme se movimenta. Os diversos momentos serenos entre Mija e Okja ganham todo um grau a mais de ternura graças ao visual convincente da superporca.
Okja é um filme que merece respeito pela quantidade de gêneros pelos quais transita em suas 2 horas de duração. Passamos por uma abertura que poderia ter saído de um filme do Studio Ghibli até sequências de ação eletrizantes, suspense de roer as unhas, drama de qualidade, ficção científica e chegando até a flertar com o terror.
O melhor é que todo essa sopa de gêneros tem um gosto bom: Okja é um filme que os navega de maneira coesa. No entanto, nem tudo são flores, algumas cenas do segundo ato quebram o ritmo energético da narrativa e, somos brindados com algumas cenas meramente descartáveis. O filme se recupera com força total em seu desfecho, no entanto, oferecendo uma conclusão satisfatória e um embate memorável, resolvido de maneira inteligente e simbólica.
O filme é mais um título de qualidade no currículo de Bong Joon-Ho. O diretor já tratou de temas sociais em ficções incríveis no passado através de Expresso do Amanhã e O Hospedeiro.
Nota do filme
Okja é possivelmente o melhor filme da Netflix até o momento, sendo uma jornada que emociona e instiga ao decorrer de sua duração, onde acompanhamos uma aventura doce se desenrolando em um mundo cruel, consumista e dominado pelo corporativismo. Okja oferece algumas cenas finais assombrosas, mas também esperançosas, sendo mais um grande trabalho no currículo do diretor Bong Joon-Ho e um dos melhores títulos no catálogo da Netflix até agora.
A nota final é 4 Okjas de 5.