[CRÍTICA] Marvel’s Spider-Man – Homem-Aranha está de volta ao lar!

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[CRÍTICA] Marvel’s Spider-Man – Homem-Aranha está de volta ao lar!

Por Felipe de Lima

Desde que fez sua estreia no cinema pelas lentes de Sam Raimi, em 2002, o mercado de games viu no Homem-Aranha uma oportunidade de vender uma experiência aos jogadores. Não fosse pela visão do diretor em trazer uma realidade inovadora ao herói da Marvel, talvez nunca tivéssemos visto o aracnídeo com tanta proximidade.

Logo, todo o balanço, a vida pelos arranha-céus da cidade de Nova Iorque e a liberdade em ser o Homem-Aranha foi traduzida para os jogos. E embora alguns títulos tenham realmente vendido essa experiência, a conexão com o cinema se tornou bastante problemática com o tempo. E mesmo alguns games saindo desse espectro, não se pode dizer que eles trouxeram uma obra tão completa quanto Homem-Aranha

Eis que Marvel’s Spider-Man vem para libertar o herói dessas amarras, trazendo uma história nova, em um novo universo, com uma nova roupagem e interpretação dos principais elementos que permeiam as diversas versões do Homem-Aranha em suas principais mídias.

O resultado? Não poderia ser mais satisfatório. Confira nosso review.

Imagens: Sony/PlayStation
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Ficha técnica

Nome: Marvel's Spider-Man

Plataformas: PlayStation 4

Gênero: Ação

Modos de jogo: Um jogador

Desenvolvedora: Insomniac Games

Estúdio: Sony Interactive Entertainment

Data de lançamento: 07 de setembro de 2018

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Situando um herói

Marvel’s Spider-Man traz uma versão um pouco mais madura -- porém não menos ingênua -- de Peter Parker. Há oito anos na ativa como o herói de Nova Iorque, o Homem-Aranha colocou grandes vilões e criminosos atrás das grades.

Quando o game começa, o teioso está no encalço de um de seus maiores inimigos, Wilson Fisk, também conhecido como O Rei do Crime. Já na primeira missão, há uma sensação de conforto ao estar na pele do Homem-Aranha, como se os oito anos de experiencia do herói também acompanhassem o jogador.

É a justamente a prisão de Fisk que serve de pivô para os eventos que vão desenrolar a narrativa de Marvel’s Spider-Man. O vilão controlava grande parte do crime organizado na cidade e sua ausência gera uma guerra pelo domínio do submundo de Nova Iorque, com o proeminente surgimento de um grupo conhecido como Demônios.

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Se é pra chorar, chorei

O game exclusivo da Sony também mantem a tradição dos últimos grandes títulos do estúdio, trazendo uma história tocante e imersiva. O jogador não apenas veste botas, ou melhor, o traje do Homem-Aranha, como também entra na cabeça de Peter Parker, acompanhando o desenvolvimento do personagem e de seus aliados.

Com 23 anos, a vida pessoal de Peter se encontra uma bagunça, mesmo que algum sucesso o encontre – ainda que por pouco tempo – no campo profissional e em sua luta como herói. Trabalhando ao lado do Dr. Otto Octavius, vemos genialidade de Parker ser explorada, o que gera alguns momentos que arrancam sorrisos do rosto.

Mas ser um herói não é sempre gratificante e a história principal trata de deixar isso bem claro. Embora não dependa do jogador, já que o desenrolar do game é totalmente linear, algumas escolhas difíceis são feitas no cerne da narrativa, que em sua essência está sempre flutuando em torno da grande mensagem dos quadrinhos do aranha: Poderes e responsabilidades.

Pode até parecer que existe uma atmosfera pesada na nova aventura do Homem-Aranha no PlayStation 4, mas há uma dosagem bastante equilibrada entre os momentos tensos e os momentos de humor. Há algumas tiradas pontuais do Cabeça de Teia e situações engraçadas que ocorrem pela cidade, deixando um clima leve e muitas vezes descontraído.

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O negócio é misturar

Seja em filmes, games ou até mesmo em quadrinhos, a livre interpretação de elementos talvez clássicos das histórias dos personagens costuma incomodar uma boa parcela dos fãs. Acontece que Marvel’s Spider-Man cairia na mesma vala de muitos games do herói se não fosse a modernização e liberdade criativa que os roteiristas Jon Paquette, Christos Gage, Ben Arfmann e Dan Slott trouxeram para o game.

A história é completamente original e mistura o melhor de cada um dos mundos do Homem-Aranha. A presença de elementos tanto do Universo Tradicional da Marvel quanto do Ultimate favorece a narrativa e surpreende até mesmo os fãs mais assíduos do herói.

Além dos quadrinhos, há fortes inspirações das três encarnações do Cabeça de Teia nos cinemas, o que ajuda bastante a se situar e cada vez mais se sentir em casa ao estar no controle do Homem-Aranha.

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Parceiros? Sim!

Uma das novidades de Marvel’s Spider-Man é como o jogo se empenha para tornar todos os personagens secundários relevantes. Isso se mostra ainda mais palpável quando há a possibilidade de, em alguns momentos, assumir o controle de dois aliados do Homem-Aranha, sendo eles Mary Jane-Watson e Miles Morales.

É realmente interessante ver MJ como a jornalista destemida do Ultiverso e em missões um tanto desafiadoras. Já Miles, ainda que sem poderes, se mostra um personagem que não mede esforços pra ajudar o próximo. Essa combinação intercala a experiencia como Homem-Aranha e dá novas perspectivas a como o jogador enxerga o herói principal.

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Faz tudo que uma aranha faz

Apesar de God Of War ter apresentado um modo de combate inovador e extremamente imersivo usando os gatilhos e bumpers, a quantidade de combos e a até mesmo movimentação do Homem-Aranha infelizmente não permitiu a mesma experiencia.

Em geral, o combate apresentado em Marvel’s Spider-Man ainda é muito semelhante ao da série Arkham, do Batman, que vem servindo de inspiração para os games do aranha desde The Amazing Spider-Man, de 2012.

A Insomniac, contudo, foi muito feliz em trabalhar para trazer um combate mais polido e simples, se comparado a inspiração, ainda que exista uma variação bastante grande de combos, que surpreendem pela movimentação natural, expressiva e adaptável do herói.

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Manhattan como nunca antes

Nova Iorque está mais linda do que nunca e se pendurar pelos prédios da cidade nunca foi tão legal. Em um mundo aberto, é divertido dar de cara com crimes e poder impedi-los, se balançar pela cidade e encontrar diversos easter-eggs do Universo Marvel que estão espalhados pelo mapa.

Há também a possibilidade de compor uma árvore de habilidades ao seu gosto para o personagem e até mesmo para os seus trajes, o que permite que você seja não apenas um, mas vários homens-aranha, com várias habilidades diferentes. Outra coisa legal é o quanto o game te permite se sentir a vontade como o herói, sendo você o responsável pelas acrobacias enquanto está no ar.

Andar a pé pelas ruas de Nova Iorque pode ser muito divertido. Nada como cumprimentar fãs e até tirar selfies com eles. Apesar dos comentários ácidos de J. Jonah Jameson em seu podcast, os habitantes da cidade gostam bastante do herói e constantemente reagem felizes às aparições do Homem-Aranha.

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Sorry, I can't be... Perfect

Na dificuldade Incrível, o jogo tende a ser um tanto repetitivo enquanto se seguem as missões principais. A presença excessiva de capangas, que na maioria das vezes é injustificável, acaba tornando o combate um pouco maçante, já que isso se repete por várias ondas de criminosos.

Marvel’s Spider-Man também peca no equilibro entre as missões. No início do game, as coisas podem ser bem difíceis, mas conforme você avança, tudo vai ficando fácil demais e poucas missões apresentam desafios reais.

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Mas spider significa aranha

Com exceção de alguns poucos momentos, não há problemas graves com sincronia de dublagem e a localização é bastante competente, não fosse por um grande problema.

Tal qual aconteceu com a segunda temporada de Demolidor na Netflix, todos os nomes de personagens em Marvel’s Spider-Man são mantidos no original, em inglês. É realmente estranho ouvir as pessoas se referirem ao Homem-Aranha como Spider-Man, ao Senhor Negativo como Mister Negative, ao Abutre como Vulture, entre outros.

Sendo que o game não possibilita uma troca fácil de idioma, a falta de tradução de alguns termos incomoda bastante. Grande erro, principalmente considerando o público brasileiro que opta, em geral, por material dublado e bem localizado.

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De encher os olhos

Marvel’s Spider-Man é um espetáculo visual. As imagens são excelentes e o jogo de iluminação enche os olhos mesmo na versão normal do PS4. Me arrisco a dizer que o jogo fica ainda mais bonito do que nos trailers e gameplays quando o ápice do seu potencial gráfico é aproveitado em um PlayStation Pro e uma televisão 4K HDR.

Infelizmente, na versão normal do console da Sony, o downgrade gráfico é realmente aparente, mas nada que atrapalhe a experiencia de ser o Homem-Aranha.

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Conclusão

Embora existam momentos maçantes, certa incoerência na dificuldade do game e a falta de tradução de termos para o português incomode, a Insomniac consegue inovar dentro de um cenário bastante explorado e traz o melhor jogo – disparado – do Homem-Aranha em anos. Marvel’s Spider-Man é, ao mesmo tempo, um espetáculo narrativo e visual, que se aproveita das várias versões do herói para condensar uma história consistente em um universo próprio, que com certeza renderá excelentes frutos e novas histórias espetaculares no futuro.

Nota: 4,5 de 5