[CRÍTICA] Jovens Titãs: O Contrato de Judas – Sangue e Pedra

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[CRÍTICA] Jovens Titãs: O Contrato de Judas – Sangue e Pedra

Por Gus Fiaux
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Ficha Técnica

Título: Jovens Titãs: O Contrato de Judas (Teen Titans: The Judas Contract) Ano: 2017 Lançamento: 04 de Abril de 2017 (Brasil) Direção: Sam Liu Classificação: Não classificada Duração: 84 minutos

Sinopse: Tara Markov é uma garota com poderes sobre terra e rochas e também é muito mais do que aparenta ser. A mais nova Jovem Titã é uma aliada ou uma ameaça? E quais são os planos do mercenário Exterminador para os Jovens Titãs?

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Jovens Titãs: O Contrato de Judas – Sangue e Pedra

Depois de um bom alarde em seu anúncio, Jovens Titãs: O Contrato de Judas chegou para se consolidar entre os fãs da equipe de heróis juvenis da DC Comics. Com a promessa de adaptar o clássico arco das histórias em quadrinhos que dá nome ao filme, a animação tomou diversas liberdades criativas, e ao final, conseguiu produzir algo coeso, mas com alguns problemas que o impedem de atingir seu total potencial.

A trama do longa segue a premissa básica da história nos quadrinhos. Aqui, vemos a novata Terra tendo de lidar com a equipe, enquanto serve de agente infiltrada para o Exterminador. A diferença é que, dessa vez, o vilão é um capanga contratado pelo Irmão Sangue, ainda que seu plano sinistro seja derrotar todos os Jovens Titãs - especialmente alguns pelos quais ele nutre uma rixa pessoal.

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Com relação aos seus personagens, o filme usa seu pouco tempo para tentar apresentá-los da melhor forma possível. Dessa forma, podemos ver alguns coadjuvantes ganhando destaque na trama, como Robin (Damian Wayne) e o Besouro Azul, que apresentam os arcos mais completos da história. Asa Noturna e Estelar compartilham o papel de liderança, e isso rende bons momentos, ainda que subverta levemente as estruturas das HQs.

Do lado negativo, no entanto, acabam se destacando Ravena, que apesar de ser a Titã com maior potencial, é a menos explorada – nas cenas de ação, ela simplesmente se torna um elemento do cenário – e Mutano, que está completamente insuportável. A primeira hora de filme é uma experiência agonizante, onde o herói só sabe ficar fazendo piadas sem graça ou usando seu celular para tirar alguma selfie e postar algo no Twitter.

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Mas a personagem “principal” do filme é Terra e ela é até desenvolvida de uma forma satisfatória. Embora ela pareça ter poucas nuances – é óbvio desde sua primeira fala que ela é uma traidora –, a personagem tem um arco mediano, que poderia ser muito melhor caso seguisse algumas outras decisões de roteiro.

Por exemplo, a primeira cena do filme segue a entrada de Estelar para os Titãs, algo que não tem tanta relevância na trama quanto a origem de Terra. Caso parte do flashback de seu passado substituísse a cena inicial, a conexão com a personagem seria melhor para o público.

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Em termos de vilões e antagonistas, a animação faz um trabalho curioso. Apesar de ser o grande vilão da saga em questão, o Exterminador funciona aqui como um subordinado do Irmão Sangue, que por sua vez tem relação com a COLMÉIA. Sangue e seu Culto são os elementos mais interessantes do lado antagonista, criando um arco coerente e que serve bem à história principal.

Slade, por outro lado, não é tão ameaçador quanto suas versões anteriores. As tentativas de reforçar o quanto ele não passa de um mercenário acabam dando ao vilão pouco espaço para crescer, ainda que o personagem tenha grande potencial. Aliás, vale o destaque para o trabalho de dublagem de Miguel Ferrer. O último trabalho do ator antes de seu falecimento é, sem sombra de dúvidas, o melhor do filme.

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Nos quesitos técnicos, o filme é um tanto quanto irregular. O estilo de animação, adotado como padrão pela Warner/DC Animation desde Liga da Justiça: Ponto de Ignição, ainda que quase sempre funcional, possui vários erros grotescos, seja na anatomia ou na mecanização dos personagens. A trilha sonora do filme não vai além de toques descartáveis.

A direção de dublagem é onde mora o problema mais urgente. Embora algumas vozes casem perfeitamente com os personagens – Miguel Ferrer como Exterminador, Stuart Allan como Damian Wayne ou mesmo Christina Ricci como Terra – a maior parte não consegue harmonizar bem com a animação. A prova principal disso é Taissa Farmiga como Ravena, algo que já havia sido criticado em Liga da Justiça vs Jovens Titãs.

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Além disso, ainda que seja um bom filme, a trama é poluída com algumas ideias nada oportunas. O romance entre Mutano e Terra se desenvolve de forma muito superficial, até mesmo para um filme animado. E a tentativa de trazer subtramas para todos os personagens nem sempre rende bons frutos, já que a maior parte não pode ser desenvolvida devido ao curto tempo de duração.

Dessa forma, Contrato de Judas é um filme ótimo para quem já está familiarizado com esses personagens e a história adaptada. Mas para quem quer começar a ver algo dos Jovens Titãs, pode ser uma escolha difícil. Muito do que é dito aqui fica subentendido do passado dos heróis, sem até mesmo ter aparecido em outro filme animado anterior.

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O grande problema, no entanto, está na forma como o tom do filme se constrói. Ainda que seja para um público mais jovem – basta notar pelos diálogos e interação entre os personagens, ou até mesmo a falta de violência mais gráfica – a animação se guia em diversas cenas erotizadas ou em piadas com conteúdo sexual bem implícito.

O que traz ao grande transtorno psicológico que é ver Terra - teoricamente uma adolescente - dando em cima do Slade enquanto usa uma camisola semi-transparente. Parece que o estúdio não aprendeu nada com o escândalo que causou a cena de sexo entre Barbara Gordon e Bruce Wayne na adaptação animada de Batman: A Piada Mortal.

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E embora isso não sirva de critério para definir a qualidade da animação em questão, é impossível não acabar comparando com o arco dos quadrinhos ou até mesmo a série animada, que usou uma temporada inteira para tentar recriar a história do Contrato de Judas. Sem dúvida, quando colocada ao lado desses dois parâmetros, o filme acaba sendo muito ofuscado.

A principal falha é a falta de construção e conexão com os personagens, um resultado direto da necessidade de um filme curto para atender aos padrões da animação. Tivesse mais vinte minutos, conseguiria talvez explorar melhor o elo emocional entre Terra e os outros personagens do filme, ou até mesmo desenvolver Slade como um vilão mais perigoso.

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Por fim, resta dizer que Jovens Titãs: O Contrato de Judas é um bom filme. Sem dúvidas, não será lembrado a longo prazo como outras animações da Warner/DC Animation, mas é um capítulo interessante para os personagens e apresenta, inclusive, um gancho para novos filmes, através da inclusão de uma nova Titã.

Fosse um pouco mais regular na escolha do tom, da animação em si, do trabalho de vozes e nas decisões principais do roteiro, seria um filme animado com elementos muito intrigantes e fieis à essência dos quadrinhos. Da forma que saiu, é um filme divertido, que não vai muito além do que propõe.

NOTA: 3/5