[CRÍTICA] Jogos Mortais: Jigsaw – Um novo capítulo no legado de John Kramer!
[CRÍTICA] Jogos Mortais: Jigsaw – Um novo capítulo no legado de John Kramer!
Depois de quase sete anos longe das telonas, Jogos Mortais retorna com a promessa de resgatar o espírito que transformou a franquia em um sucesso absoluto. Mas será que os novatos Spierig conseguiram honrar a saga?
Ficha Técnica
Título: Jogos Mortais: Jigsaw (Jigsaw)
Ano: 2017
Lançamento: 30 de Novembro (Brasil)
Direção: The Spierig Brothers
Classificação: 18 anos
Duração: 92 minutos
Sinopse: Uma série de assassinatos brutais começam a assustar a cidade. À medida que as investigações começam, todas as evidências apontam para um homem: John Kramer – O JIGSAW.
Mas como isso poderia acontecer? O homem conhecido como Jigsaw está morto há mais de uma década! Teria um aprendiz assumido o manto do Jigsaw, ou até mesmo alguém envolvido com as investigações?
Jogos Mortais talvez seja um dos maiores expoentes do novo terror do Século XXI.
Em uma época em que os filmes com temáticas sobrenaturais e os famosos Slash Killers estavam em decadência, James Wan surgiu com uma proposta inovadora e surpreendente.
O filme foi um sucesso instantâneo e em uma curta jornada, de 2004 a 2010, foram sete filmes produzidos e uma legião de fãs conquistados.
É claro que a fórmula acabou se desgastando...
Sete anos depois, ficou nas mãos dos quase desconhecidos Peter e Michael Spierig (O Predestinado) a responsabilidade de revitalizar a franquia.
Afinal de contas, nós sabemos que, nos filmes de terror, o vilão nunca fica morto por muito tempo.
Depois de vermos a conclusão das sagas de John Kramer e Mark Hoffman nas telonas, muita gente acreditava que a retomada da franquia mostraria o doutor Lawrence Gordon assumindo o legado de Jigsaw.
Para decepção de muitos, o novo filme não está diretamente relacionado com o que vimos nas produções anteriores.
É um passo arriscado. Afinal de contas, Jigsaw seguiu pelo caminho contrário do que anda acontecendo em Hollywood e nos apresentou uma continuação, em vez de um reboot da franquia.
Mesmo assim, leva um tempo para que o espectador entenda onde o filme se encaixa dentro da cronologia de Jogos Mortais.
O filme alterna entre um grupo de investigação recebendo pistas de assassinatos misteriosos e os participantes dos jogos confinados em um celeiro.
O grupo de investigação é composto pelos Detetives Halloran e Hunt, o médico legista Logan Nelson e sua assistente Elleanor Bonneville.
Eles recebem o corpo da primeira vítima do novo jogo, marcado com a característica peça de quebra-cabeça dos mortos nas armadilhas de Kramer, e com uma mensagem dizendo que os jogos estão apenas começando.
Por mais que nós tenhamos visto John ser morto no terceiro filme, as pistas acabam nos direcionando a Kramer.
Mas como um homem morto poderia estar fazendo isso, sendo que o filme se passa 10 anos depois da morte de Jigsaw?
Logicamente, alguém está levando adiante o trabalho de John.
Por mais que o time de investigação esteja em busca do culpado, todos têm motivos para suspeitar de todos, o que leva os personagens a serem cautelosos e terem sempre uma faceta a esconder.
Enquanto isso, cinco novas vítimas são testadas nos jogos de Jigsaw.
A armadilha inicial é visualmente assustadora, mas, assim como as outras armadilhas do longa, não é tão impactante como os aparelhos tradicionais da franquia como a Armadilha de Urso Invertida ou a Armadilha do Anjo.
Por mais que a produção tenha recebido classificação para maiores de 18 anos, parece que os diretores optaram por não deixar a violência tão explícita como era nos filmes anteriores.
É claro que, por mais que isso tenha mudado com o passar dos anos, o principal ponto de Jogos Mortais nunca foi a violência - o gore - mas sim, o peso das escolhas e como isso definia quem morreria e quem sobreviveria.
Mas fica a impressão de que os diretores não quiseram ousar tanto nesse quesito - ou talvez, depois de tantos anos, a criatividade para as armadilhas tenha se esgotado.
Outra coisa que pode incomodar é o ritmo de desenvolvimento dos personagens.
Nós só entendemos as motivações e conseguimos nos relacionar com as vítimas e investigadores ao final do filme.
A questão das reviravoltas, que mudam completamente o que imaginávamos, já é algo recorrente em Jogos Mortais.
Mas deixar a construção dos personagens para o final da produção é complicado, já que o público precisa se identificar com os participantes dos jogos para que suas escolhas sejam mais sentidas.
Caso contrário, é apenas um grupo de pessoas aleatórias morrendo de forma aleatória. Não há peso nas escolhas dos personagens, do mesmo modo que não há por quem torcer.
Alguns dos participantes têm mais tempo de desenvolvimento, mas, no geral, as informações são muito vagas e nebulosas e quando realmente vem a informação relevante para entendermos as motivações do personagem, ela parece ter sido tirada da cartola, em uma revelação quase desleal com o espectador.
Mesmo assim, o filme ainda consegue surpreender em diversos momentos.
Algumas soluções parecem improváveis e muito convenientes para o andamento da trama. Mas como o próprio John Kramer costumava dizer: "Se souber antecipar bem a mente humana, você não deixa nada para o acaso."
Ainda existem as situações agoniantes que fazem o espectador desviar o olhar das telonas, bem como elementos icônicos, como o Boneco Billy que aparece em seu característico triciclo e o gravador de voz com a instrução Toque-me.
É assustador ouvir a voz de Kramer novamente e tentar entender o que realmente está acontecendo.
Na questão de fazer referências à saga, Jogos Mortais: Jigsaw começa de maneira lenta, mas consegue trazer de volta momentos que os fãs mais fervorosos da franquia reconhecerão com um sorriso no rosto.
Apesar de ter dito que o filme não está diretamente ligado às produções anteriores, Jogos Mortais: Jigsaw ainda está inserido no mesmo universo das outras sagas... e respeita isso.
Os diretores podem ter optador por deixar o sangue e a engenhosidade das mortes de lado, mas a genialidade ainda está lá.
Por mais que em alguns momentos pareça que o filme tome decisões que não seriam tomadas dentro do contexto de Jogos Mortais, todas essas escolhas são explicadas e fazem total sentido na revitalização da saga.
É complicado falar da reviravolta do filme sem dar spoilers, mas podemos dizer que a produção tem pelo menos dois grandes momentos em que a trama muda radicalmente.
Um deles quase tão brilhante quanto a grande revelação no final do primeiro filme.
O problema é que, em uma dessas reviravoltas, as implicações acabam levantando questões que podem ser interpretadas como furos de roteiro.
Além disso, esses momentos acabam modificando a mitologia já consolidada durante as sagas anteriores da franquia, o que pode incomodar algumas pessoas, mas que não prejudica ou desconstrói tudo o que foi mostrado até agora.
Como já foi dito, o filme respeita a história de Jogos Mortais, mas isso não quer dizer que ele não se dá a liberdade de brincar com a trama.
Jogos Mortais: Jigsaw é um filme que ousa em muitos aspectos, mas se contém em outros.
Pode não ser tão marcante como os primeiros filmes da franquia, mas é muito mais "Jogos Mortais" que as últimas produções, que desagradaram diversos fãs.
Se você não é fã da saga, este não é o filme que te fará mudar de ideia. Mas os diretores conseguiram resgatar o espírito da produção de forma que os fãs mais assíduos ficarão satisfeitos e, certamente, novos fãs se unirão aos admiradores de John Kramer e suas armadilhas mirabolantes.
Aliás, a morte final pode ser um novo marco na história da franquia. Preparem-se!
Nota: 3,5/5