[CRÍTICA] Jessica Jones (3ª Temporada) – Crime e castigo!

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[CRÍTICA] Jessica Jones (3ª Temporada) – Crime e castigo!

Por Gus Fiaux

Mesmo após um brusco e inesperado cancelamento por parte da Netflix, muitos fãs estão ansiosos para saber como o universo da Marvel irá se encerrar no serviço de streaming. Na última sexta-feira, foi lançada a terceira temporada de Jessica Jones, pondo um fim à saga dos Defensores.

Mundo afora, os críticos não parecem estar muito satisfeitos com o encerramento da série que teve uma das estreias mais aclamadas da Casa das Ideias. Nós finalmente conferimos o terceiro ano, e aqui você pode ler a nossa crítica da terceira temporada de Jessica Jones!

Créditos: Netflix

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Jessica Jones (3ª Temporada) - Crime e castigo!

Jessica Jones é uma série de super-heróis muito diferente do que estamos acostumados. Em vez de ver figuras fantasiadas lutando contra vilões mega-poderosos, salvando o mundo de uma destruição colossal, a série aposta em uma trama bem mais intimista, focando na investigadora particular da Alias Investigations, além de seus personagens coadjuvantes.

Sua primeira temporada foi um estouro de crítica e de audiência, provando que o Universo Cinematográfico da Marvel - ou melhor, o recanto afastado da franquia na Netflix - é capaz de contar histórias adultas e extremamente relevantes, discutindo questões cada vez mais presentes, como estupro, relacionamento abusivo e alcoolismo.

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Agora, quatro anos após o lançamento de seu primeiro ano, Jessica Jones retorna não apenas para mais uma aventura, mas para se despedir do público, após o repentino cancelamento de toda a programação da Marvel/Netflix, um evento que ainda assola muitos fãs. E apesar de tudo, a série consegue cativar os fãs apaixonados pela personagem e seu mundo.

Na trama, reencontramos Jessica Jones um ano após os eventos da segunda temporada, quando ela perdeu sua mãe (novamente) para Trish Walker, que no desespero de se tornar uma super-heroína, acabou tirando de Jessica a sua única conexão forte com o passado. Agora, as duas perderam sua forte amizade e não se falam mais.

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Ainda assim, o terceiro ano de Jessica Jones é, essencialmente, uma história sobre Trish Walker. A personagem volta com força total, e sua presença na vida da investigadora nunca foi tão importante, já que as duas precisam, mesmo que contra suas vontades, unir forças para impedir um serial killer à solta.

É justamente nisso que a temporada ganha força, em comparação com seu segundo ano - que até agora é o mais fraco da série, disparado. A trama não perde tempo e já engata bem, trazendo mais personagens e uma construção relativamente intrigante, ainda que algumas tramas secundárias tomem mais tempo do que deveriam - como a de Malcolm Ducasse.

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Por falar nos personagens coadjuvantes, a série continua a dar um banho de atuações memoráveis. Krysten Ritter continua excepcional no papel da anti-heroína, ainda mais sarcástica e ácida. É uma pena, no entanto, que a série decida ignorar a transformação pela qual a personagem passou no ano anterior, justificando-se com a ideia de que "Jessica nunca pode ser feliz".

Por outro lado, Rachael Taylor também vai bem como Trish Walker, mas sofre ainda mais por algumas decisões de roteiro. Do primeiro ao oitavo episódio, a personagem ganha força conforme adota seu manto super-heroico como Felina. A partir daí, no entanto, sua trama vai ladeira abaixo com uma série de decisões que parecem mais apressadas do que nunca.

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Quanto ao vilão, Gregory Salinger, interpretado por Jeremy Bobb, há momentos e momentos. Ele realmente parece intimidador e consegue trazer um perigo real para a vida de Jessica e seus aliados. No entanto, sua trama acaba soando repetitiva, e no fim das contas, a impressão que temos é que seu arco é super esticado, apesar do vilão não ser tão bem desenvolvido.

Por outro lado, quem realmente brilha é Erik Gelden, interpretado por Benjamin Walker. O personagem nunca é quem parece ser, e isso cria várias camadas interpretativas para o ator. De resto, Carrie Anne-Moss brilha novamente com seu charme letal como Jeri Hogarth, enquanto Eka Darville está bem como Malcolm, embora sua participação seja excessiva.

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No entanto, a série não é feita apenas de flores. A essa altura do campeonato, falar de problemas de ritmo para séries da Marvel/Netflix soa quase como um pleonasmo, já que todas, independente de sua quantidade de episódios, parecem se arrastar infinitamente em alguns trechos, por não saberem manejar tramas subjacentes para criar uma narrativa empolgante.

A terceira temporada de Jessica Jones choca um total de 0 pessoas ao sofrer do mesmo mal. Embora seja muito mais agitada que o ano anterior, a temporada sofre com algumas "barrigas", especialmente após reviravoltas dramáticas. Há, no entanto, uma tentativa de suprir isso, que é mostrar, em alguns episódios, a perspectiva de Trish Walker sobre eventos anteriores.

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Ainda assim, dá para sentir o freio narrativo. Se a primeira temporada conseguiu "fugir" melhor disso, deixando a barriga apenas para seus três episódios finais, a terceira tem ao menos uns seis episódios cujos eventos poderiam ser condensados em outras tramas. É obviamente melhor que a segunda temporada, mas ainda não é o ideal, especialmente para um universo em que absolutamente todos os lançamentos foram criticados por isso.

Em termos de direção, a série permanece boa, mas um tanto quanto genérica perto de outros lançamentos da Netflix recentes, como a segunda temporada de Luke Cage ou a terceira de Demolidor. Fica de lado a fotografia intrusiva e inteligente, e tudo parece muito mais comum, como se os diretores dos episódios não tivessem interesse em criar algo vistoso.

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Dessa forma, Jessica Jones se despede não da forma gloriosa como em seu ano de estreia, mas de um modo mais passageiro e sem atrair muita atenção. O que poderia ser a chance para causar um estouro e provar o local de direito dessas séries no Universo Cinematográfico da Marvel acaba se saindo como uma tentativa aquém do que essa personagem merece.

Ainda assim, os fãs da série terão motivos para gostar - especialmente com alguns retornos inesperados e referências não apenas às temporadas anteriores, como também ao universo dos Defensores. No entanto, quem não gostou do rumo da série até aqui dificilmente terá um motivo bom o suficiente para retornar à história.

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Além disso, é importante ressaltar um detalhe que muitos se questionam: apesar da série ser a última do núcleo Marvel/Netflix, não espere muito disso. Obviamente há menções e easter-eggs, mas nada que realmente conclua a trama das séries anteriores - não que isso seja uma obrigação de Jessica Jones, mas pode soar como uma decepção para alguns.

E quanto às conexões com o Universo Cinematográfico da Marvel, não espere muito. Há uma ou outra menção aos heróis que figuram nas telonas, mas nada que traga à tona eventos significantes como Guerra Infinita e Ultimato. Nem sequer há uma tentativa nesse sentido - o que não surpreende, já que o núcleo da TV é quase independente do cinema.

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Por fim, o terceiro ano de Jessica Jones tem seus momentos de glória, mas também sofre com os mesmos problemas de todas as outras séries da Marvel na Netflix. É uma pena, e mostra como as produções não souberam atender às críticas e reclamações dos fãs, apesar da frequência com a qual essas reclamações foram tecidas.

Ainda assim, é um desfecho interessante para quem acompanhou a série até aqui. Em seu ano final, Jessica Jones cresce e amadurece, além de dividir os holofotes com Trish Walker. E embora não seja a despedida ideal, é o suficiente para que possamos ver a investigadora particular mostrando, mais uma vez, que é a melhor no que faz.