[CRÍTICA] Inumanos – Vamos apenas fingir que isso nunca aconteceu…
[CRÍTICA] Inumanos – Vamos apenas fingir que isso nunca aconteceu…
Marvel entrega aos fãs seu pior projeto até o momento!
A essa altura do campeonato, chutar cachorro morto já soa quase como uma covardia, mas Inumanos finalmente conseguiu chegar ao seu fim após oito (turbulentos) episódios. A série da Família Real decepcionou os fãs desde sua primeira imagem oficial e o saldo final consegue ser ainda mais negativo que o esperado…
Há dois meses atrás, Inumanos teve seus dois primeiros episódios lançados no cinema, em uma exibição especial realizada em parceria da Marvel Television e da ABC com a rede IMAX, uma investida pioneira na história da televisão norte-americana. E se você leu a minha crítica dos dois primeiros episódios, sabe que ainda existia uma esperança para que o potencial da série se revelasse.
Agora, dois meses e menos de dez episódios depois, qualquer ponta de esperança congelou e morreu, uma vez que Inumanos acaba de se provar a pior catástrofe já produzida na história da Marvel Studios. E tudo começa com um nome: Scott Buck.
Após ter produzido a primeira temporada de Punho de Ferro - que apesar de ruim, é assistível -, o showrunner responsável pelas piores temporadas de Dexter foi chamado para conduzir toda a série dos Inumanos, depois que o projeto do filme foi descartado pela Marvel Studios.
E infelizmente, podemos ver a assinatura típica de Buck escorrendo pela série. Cenas de luta mal-coreografadas e mal editadas, diálogos risíveis, uma construção de personagens insatisfatória e insuficiente e, principalmente, visuais artificiais e pobres, que o tempo todo suspendem o menor senso de crença nesse universo e nesses personagens.
A trama de fato começa promissora. Os Inumanos são traídos por Maximus e exilados na Terra. Enquanto isso, o rei louco vai revelando as camadas de seus planos - embora surja como alguém disposto a lutar pelos injustiçados, Maximus na verdade só quer saber de poder para si próprio e tenta passar por outra terrigênese para ter seus poderes inumanos revelados.
Na Terra, a Família Real é perseguida por um esquadrão especial de inumanos enviados pelo déspota e precisam se encontrar nas terras havaianas para que possam derrotar seus inimigos e partir para a Lua novamente, com a ajuda de novos aliados humanos.
Todo o problema em cima da trama é que ela leva um tempo absurdamente grande para conduzir algo que não tem tanta substância. De oito episódios, cinco podem facilmente ser considerados fillers e só estão ali para estender o tempo de exibição da série. Para se ter uma ideia, todos os personagens principais passam por arcos que acabam não resultando em absolutamente nada.
Quanto aos atores, há duas categorias: os que se esforçam, mesmo com o material péssimo de roteiro - e aqui podemos mencionar Anson Mount, Serinda Swan e Iwan Rheon nos papeis de Raio Negro, Medusa e Maximus, respectivamente - e os que nem ao menos tentam - que engloba quase todo o resto do elenco, principalmente Ken Leung como Karnak e Isabelle Cornish como Crystal.
Em termos de narrativas de super-heróis, há problemas grotescos. Os heróis possuem falhas absurdas, defendendo um regime elitista e problemático. Eles passam por situações que os fazem repensar sua posição nesse sistema, mas tirando Medusa, nenhum dos personagens parece ter mudado ao final. A mudança mais básica é extremamente forçada e sem coesão narrativa.
Isso tinha potencial para criar uma trama realmente cativante, onde percebemos que os heróis são, na verdade, vilões da história. Infelizmente, a luva cai pesada para Maximus, que acaba se tornando um personagem unidimensional e cartunesco a partir do terceiro episódio.
E os capangas do vilão conseguem ser ainda mais sofríveis. Sonya Balmores cria uma femme que não tem nada de fatale com sua Auran. O resto da equipe de vilões é risível de tão trágica, com destaque negativo para Mordis. Para uma arma de destruição em massa, o vilão consegue provocar uma vergonha alheia monumental. Talvez esse seja seu poder.
A conclusão da série acaba sendo muito apressada e com uma escala nada aprazível de elementos. Temos o retorno da Família Real para a Lua. Maximus arquiteta um plano para tombar Attilan. Personagens importantes são ressuscitados - ou revelados como não mortos - de forma bizarra, enquanto outros morrem sem o menor peso dramático.
Em termos de visual, a série já se provou (de uma forma negativa) no gosto dos fãs. Se os primeiros episódios ainda eram criticados pelos trajes de couro dos heróis e pelo uso ruim de computação gráfica, as coisas só vão piorando conforme o orçamento vai se diluindo. Os últimos episódios apresentam cenas tão artificiais que é bem claro saber onde estão os personagens e onde está a tela verde do chroma key.
Em termos de direção de arte, há pouco a acrescentar. É bizarro ver os Inumanos em figurinos tão comuns enquanto correm de um lado para outro na Terra. Em Attilan, a situação não é melhor. O design da cidade é claramente um estúdio e não dá pra levar a sério o uso de tecnologia no local.
Para não dizer que não temos nada bom... infelizmente não temos mesmo. O que mais se aproxima disso é a relação entre Raio Negro e Maximus. Aliás, devo dizer que Anson Mount me provou errado. Apesar do roteiro ser péssimo, o ator consegue ser expressivo em sua inexpressividade.
Há momentos em que ele acaba sendo cômico por conta das situações pelas quais passa - algo bem recorrente nos primeiros episódios. Isso acaba sendo divertido, mas ainda assim, não vemos em momento algum o imponente e destemido Raio Negro das HQs. Nesse sentido, a Medusa de Serinda Swan ao menos se aproximou mais de sua contraparte original.
Outros elementos que poderiam ser muito bem utilizados na série acabam indo para escanteio. É o caso de Dentinho, que se torna pouco mais que um recurso narrativo e é o centro de um dos piores arcos dramáticos da série - o que envolve Crystal e seu namorado havaiano.
Em termos de poderes, a série consegue menosprezar todos os Inumanos. Karnak é o que tem a melhor demonstração, embora seja pouquíssimo utilizada. Medusa então nem se fala, afinal é difícil usar cabelos vivos quando não se tem cabelo. A maior demonstração de poder de Raio Negro é derrubar a fachada de um prédio. Quem espera ver ação super-heroica aqui vai se decepcionar e não será pouco.
Em suma, Inumanos é uma completa perda de tempo e dinheiro. É uma série tão vergonhosa e mal-produzida que até mesmo o valor de entretenimento se perde em meio a uma narrativa tão catastrófica. Queria muito poder dizer que é algo que "de tão ruim fica maravilhoso", mas infelizmente não é o caso.
Não apenas a pior série já inserida no Universo Cinematográfico da Marvel, mas também um dos piores lançamentos audiovisuais do ano. Aos fãs, resta fingir que isso nunca sequer existiu e nem foi ao ar. Para a Marvel e a ABC, no entanto, é necessário sempre manter isso como um memorando de "o que não fazer?"
NOTA: 0,5/5