[CRÍTICA] Game of Thrones: 7ª Temporada – Uma Música Pop de Gelo e Fogo!
[CRÍTICA] Game of Thrones: 7ª Temporada – Uma Música Pop de Gelo e Fogo!
Fogo e sangue marcaram a sétima temporada de Game of Thrones, que chegou ao fim na última semana. Isso era tudo o que muitos fãs esperavam da série há tempos, mas, por vários motivos, a produção terminou seu penúltimo ano com um gosto estranho.
Depois de acompanharmos semanalmente as aventuras de Jon, Dany, Cersei e companhia, aqui está nossa crítica sobre a temporada completa. Nós entramos no grande jogo agora e nele ninguém pode ser poupado.
Imagens: Divulgação/HBO
Pensando sobre o que escrever nessa crítica, uma música dessas mais novas da Lana Del Rey ficou repetindo na minha cabeça. Só um trechinho, na verdade. “Take me as I am, don’t see me for what I’m not” - algo como “Me entenda/leve pelo que eu sou, não me veja pelo que eu não sou”. Pode parecer meio clichê, mas isso resume bem como Game of Thrones deve ser observada nesse ano.
A maior crítica que foi feita para a produção é que ela se tornou previsível, um blockbuster televisivo, desde que ultrapassou os livros e o Martin deixou a supervisão de lado. Realmente, não tem como discordar. Se você comparar a narrativa das temporadas anteriores, que ainda tinham a obra como base e comparar com a sétima - a sexta ainda tinha alguma repercussão literária - é a diferença é gritante.
No entanto, esse é o caminho natural de qualquer produto midiático que cresce de uma forma tão absurda no mercado: ele se torna um espetáculo visual, enquanto o roteiro se mantém “sustentável", mas não como algo primordial. Grande parte do público está mais interessado no “Fogo e Sangue” e não nas minúcias da narrativa. Isso já pode ser visto na sexta temporada.
Não estou criticando o público, a mídia ou o mercado; isso é só como as coisas funcionam. Nesse caso, se você tem uma audiência gigantesca pedindo por um “Clegane Bowl” ou um “Dragão de Gelo” e não está mais atado às direções de um livro, você pode dar esse deleite para as pessoas e ver seu público crescer ainda mais e bater mais e mais recordes. Vide o histórico dessa temporada, mesmo com o roteiro completo vazado quase um ano antes da exibição e todo o drama dos episódios surgindo online.
Dito isso, nem penso em falar que essa foi uma temporada ruim. Longe disso.
No sentido espetáculo, foi de encher os olhos. Dragões por todos os lados - poderiam ter investido um pouco para trazer o Fantasma, mas tudo bem - guerras, navios e figurinos maravilhosos para Cersei todo episódio.
A narrativa não estava boa, mas ganhamos momentos incríveis nesse meio tempo e diálogos dignos da série. Toda a sequência do encontro no Fosso dos Dragões - e seu desenrolar em Porto Real - por exemplo, é um momento que é puro Game of Thrones das temporadas guiadas pelos livros.
Se formos escalar os melhores episódios desse ano, o pódio fica para a sequência “The Queen’s Justice” e “The Spoils of War”. Os dois formam uma conversa poética entre si, quando um marca a maior vitória da Cersei, enquanto o outro traz a resposta da Daenerys.
“The Queen’s Justice” é político e Game of Thrones da forma que os fãs antigos mais amam: a guerra está acontecendo, mas ela não precisa ser mostrada para entendermos seu peso e sua magnitude. Sentimos ela sendo travada pelo Tyrion contra Jaime e Cersei e, quando descobrimos que o anão foi superado, é aquela reviravolta perfeita. Isso sem contar que vemos o Rochedo Casterly e o Jardim de Cima pela primeira vez na série.
Já “The Spoils of War” é o “episódio 9” sem ser “9” dessa temporada. É a Daenerys dando um basta e usando seu lado mais “Rainha Louca/Conquistadora”, montando no Drogon e criando seu próprio Campo de Fogo contra os Lannister e os Tarly. Muito bem executado, as cenas de guerra foram brutalmente magníficas. Se a temporada toda tivesse sido feita com esse cuidado, não teríamos reclamações.
Falando sobre outros pontos bacanas da temporada, mesmo não sendo da forma que as pessoas queriam ver, essa foi a primeira vez que vimos a Emilia Clarke realmente se esforçando pra atuar no papel da Rainha dos Dragões.
Ela não estava mais na sua zona de conforto aqui, de só fazer carão e as pessoas aceitarem. Dessa vez, a moça teve que lidar com questionamento atrás de questionamento e mais tempo que o normal liderando as câmeras. Mesmo que a personagem em si tenha parecido bem “mimada”, para dizer o mínimo, foi engraçado ver a atriz assim.
No Norte, finalmente tivemos um reencontro Stark completo - já que o Jon não é filho do Ned - e ainda que o desenvolvimento do plot não tenha sido dos melhores, o resultado final foi bem bacana. Ver a Sansa junto da Arya foi super legal. Arya que, inclusive, rendeu uma das melhores cenas da temporada, lutando contra a Brienne.
Porto Real também teve sua redenção depois da sexta temporada super arrastada - mas já era esperado, afinal, além da Cersei estar no poder agora, estamos em guerra. Todas as palmas do mundo para a Lena Headey por continuar entregando uma das personagens mais consistentes, incríveis, insanas e amedrontadoras da série desde o primeiro ano. Quem aí não viu o brilho demoníaco no olhar dela na cena da vingança contra Ellaria precisa rever o momento.
Sem dúvida alguma, precisamos de um espaço especial para comentar a personagem que rendeu um dos momentos mais icônicos da temporada: Olenna Tyrell. Essa foi a despedida da Rainha dos Espinhos e ela saiu com todo estilo que merecia.
Toda a sequência do Jardim de Cima, mesmo que alguns não tenham gostado do visual do castelo em si, foi extremamente bem executada e muito inteligente, mas o diálogo entre Lady Olenna e Jaime foi daqueles momentos instantaneamente épicos.
Seja pela conversa em si ou pelo último espinho que soltou antes de se entregar aos braços de uma morte pacífica, Diana Rigg foi fenomenal no papel e essa é uma cena para ser lembrada por muito tempo.
Porém, como dissemos no começo, GoT entregou grandes efeitos nessa sétima temporada e tudo mais, mas acabou pecando no roteiro. Primeiro que as coisas ficaram fáceis demais, previsíveis demais. O maior choque da temporada deve ter sido os Lannister enganando a Daenerys com o Rochedo Casterly - e isso foi o meio da história e nem foi algo tão grande assim, o Tyrion nunca soube fazer guerra.
Tudo bem Jon Snow e Daenerys ficarem juntos, mas o relacionamento também foi fácil, simplista demais, para uma coisa que estava sendo construída há sete temporadas. Essa “canção de gelo e fogo” que todo mundo gritou vitória quando aconteceu foi produzida por tanto tempo que deveria ser um smash hit, mas acabou como uma música pop normal de rádio.
Foi tudo muito simples, na verdade. Mesmo que a Cersei seja minha favorita, ela capturou as líderes de Dorne e não sofreu nenhuma retaliação vinda de lá. Isso só para citar um exemplo. Sem contar o plano mais insano do mundo para finalizar a temporada, quando, no lugar de perder um dragão para o Rei da Noite, era mais sensato descer com o Drogon só na Fortaleza Vermelha, derrubar a Rainha e seu exército apenas e tomar Porto Real em um instante,
Não é caçar erros, afinal de contas, assistimos a série porque gostamos também. Quem acompanhou minhas reviews sabe o quanto eu vibro por cada passo que a Rainha Lannister dá, por exemplo. Mas existe um nível entre concessões aceitáveis, como o teleporte do Mindinho e do Varys nas temporadas anteriores e coisas que não fazem sentido, como o episódio 6 inteiro praticamente. São tantos furos ali que é quase uma peneira. Não precisamos ver viagens ou passagens de tempo, mas coisas consistentes e que façam sentido narrativo.
Pensando nisso, talvez um dos erros da série tenha sido encurtar sua temporada - por mais que, com 10 episódios, as pessoas reclamassem de fillers. A sétima teve um gosto corrido demais, mesmo que com apenas 3 capítulos a menos e é possível que parte desses problemas tivessem sido resolvidos com mais tempo de desenvolvimento. Isso, no entanto, aumentaria o orçamento absurdo da produção, então não seria algo viável.
Por isso, o trechinho da música no começo. Essa temporada tem que ser vista e avaliada pelo que ela é: um grandioso blockbuster televisivo, criado para ser espetáculo para um público gigantesco, com um orçamento milionário que está sim mais preocupado em oferecer dragões e maravilhas visuais do que uma consistência narrativa.
No fim, a analogia é bem certeira: hoje, a canção de gelo e fogo é uma música pop. Isso não é uma coisa ruim, afinal, a última temporada deve ser ainda mais cinematográfica e, mesmo agradando o público e tudo mais, dificilmente veremos um final novelão - porque ninguém quer isso, mesmo quem gosta só de guerras. É algo para se acostumar e, no fim, se o roteiro incomodar demais, é só lavar a alma com os livros.
Assim, a sétima e penúltima temporada de Game of Thrones leva 3,5 Olenninhas te julgando da LH - um 7 é uma nota boa, vai; dá pra passar de ano.
Mesmo com todos os efeitos do mundo, algumas coisas me doeram bastante - foi uma ótima aventura, porém. Vejo vocês no ano que vem (ou 2019), lembrando sempre que: Cersei Rainha de Westeros.