[Crítica] A Forma da Água – Um inacreditável conto de fadas para adultos!

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[Crítica] A Forma da Água – Um inacreditável conto de fadas para adultos!

Por Fernando Maidana

Confira o que esperar do filme em nossa crítica sem spoilers!

Imagens: Divulgação
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Ficha Técnica

Título: A Forma da Água (The Shape of Water)

Ano: 2017

Lançamento: 1 de Fevereiro de 2018 (Brasil)

Direção: Guillermo del Toro

Classificação: 16 anos

Duração: 123 minutos

Sinopse: Elisa é uma zeladora muda que trabalha em um laboratório onde um homem anfíbio está sendo mantido em cativeiro. Quando Elisa se apaixona pela criatura, ela elabora um plano para resgatá-lo com a ajuda de seu vizinho.

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Guillermo del Toro pode ter trabalhado em filmes considerados mais comuns para o cenário Hollywoodiano, mas foi sua paixão por monstros e pelo bizarro que o tornou mundialmente conhecido.

Desde O Labirinto do Fauno os olhos dos amantes do estilo se voltaram para o diretor e cada anúncio de um novo filme reacendia a chama de esperança de vermos um novo Clássico Moderno nas telonas.

Apesar de alguns altos e baixos, del Toro ainda não havia conseguido repetir o sucesso de sua obra-prima... Até agora!

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A Forma da Água é um filme com forte inspiração em O Monstro da Lagoa Negra, um dos favoritos do diretor e com o qual del Toro sempre sonhou em trabalhar nas telonas.

O visual do monstro e o modo como a história é trabalhada remetem bastante ao clássico de 1954, mas, antes mesmo do lançamento, o diretor já havia dito que gostaria de fazer um filme em que o monstro ficasse com a mocinha.

Pois esse dia chegou.

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Através de uma interessante narração com uma trilha sonora minimalista, típica do cinema francês, somos apresentados à nossa protagonista Elisa Esposito.

Os minutos iniciais da produção nos familiarizam com a rotina de Elisa e nos ajudam a conhecer o universo que circunda a personagem.

Ela divide o apartamento, acima de um cinema falido, com Giles, um pintor fracassado que busca uma segunda chance no mercado de trabalho e vive com seus gatos.

Sua rotina é sempre a mesma: acordar, preparar seu café da manhã, masturbar-se durante o banho e ir para seu trabalho como faxineira em uma instalação militar secreta.

Lá, ela conta com a amizade de Zelda, uma divertida faxineira que compensa o silêncio de Elisa ao falar sem parar por um minuto.

Sally Hawkins está fantástica no papel de nossa protagonista muda. Mesmo sem dizer uma palavra, nós conseguimos ler seus pensamentos em suas expressões.

O modo como ela sustenta a trama em meio ao silêncio nos mostra o quanto o trabalho corporal é importante para a atuação.

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Zelda é interpretada pela brilhante Octavia Spencer e funciona como um grande alívio cômico dentro da trama.

A princípio, pode parecer um desperdício escalar uma atriz do calibre de Octavia Spencer para ser apenas o alívio cômico da história, mas a atriz brilha em cada cena que aparece, além de contribuir para o andamento da trama do modo como um grande coadjuvante deve fazer.

Ela também é importante para nos apresentar o contexto racista e machista dos Anos 60, tema que, infelizmente, ainda continua atual.

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Além de Zelda, o já citado Giles também contribui de maneira magnífica para a história.

Depois de perder seu emprego em uma grande empresa, o pintor sobrevive à base de pequenos trabalhos frustrados.

Sua grande paixão são os musicais de televisão, além de seus gatos e torta de limão galego.

Mentira.

A torta de limão é apenas uma desculpa para o pintor frequentar a Dixie Doug Pies e poder apreciar seu amor platônico, o gerente do local.

Giles é um homossexual reprimido, o que torna sua vida ainda mais triste e solitária, já que ele nunca teve coragem de se assumir para o mundo.

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Mas outro que vive uma vida complicada, apesar de não demonstrar, e é um dos principais responsáveis pela trama é o Coronel Strickland, interpretado por Michael Shannon.

Mais uma vez, Shannon está completamente confortável no papel do vilão. O ator vem evoluindo a cada trabalho e nos entrega um personagem visceral, capaz de ir até as últimas consequências para cumprir suas obrigações.

Apesar de possuir uma metodologia nada tradicional - mas completamente condizente com o contexto do filme - tudo o que Strickland quer é voltar para sua família no final do dia com a sensação de um trabalho bem feito, já que ele é extremamente cobrado por seu histórico impecável no exército.

Nós entendemos suas motivações e os acontecimentos que transformaram o personagem em um vilão. Ele não é um personagem raso que simplesmente faz o mau por prazer... apesar de torturar a criatura não parecer incomodar o Coronel.

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Mas chegou a hora de falar do monstro!

Doug Jones retorna à pele de um ser atípico mais uma vez.

O ator já admitiu se sentir confortável interpretando seres incomuns. Foi assim em todas as parcerias entre Jones e del Toro, sem contar seus outros trabalhos como em Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado ou o mais recente Star Trek: Discovery.

Apesar de algumas expressões do monstro serem criadas através da manipulação da "máscara", podemos perceber a atuação de Doug Jones por trás da criatura.

Sua movimentação é primitiva, selvagem e consegue nos passar a sensação de estarmos diante de um ser único.

A maquiagem da criatura é primorosa. Sua textura escamosa, seus olhos que transbordam emoções e suas linhas corporais. Não há um ponto falho no monstro.

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Mas além de impecável no quesito físico, o monstro é o pivô de diversos questionamentos dentro da trama, além de ser uma metáfora para alguns dos contextos apresentados.

Assim como Elisa, o monstro também não fala e é menosprezado por ser diferente.

Giles vê na criatura um reflexo de si mesmo. Como se estivesse ali, mas não pertencesse àquele lugar.

Strickland também pode ser considerado um monstro.

E, no final das contas, a criatura acaba não sendo tão monstruosa assim, nos lembrando que discriminar alguém - ou algo - por ser diferente é uma atitude desprezível.

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Os aspectos técnicos do filme são de impressionar.

A direção de arte e a escolha dos planos são impecáveis. A paleta de cores utilizada, um tom mais pálido, nos dá uma sensação de estranheza e fantasia, como se todos os personagens estivessem em um sono, esperando para acordar.

Tons de azul e verde estão espalhados por todo o filme e nós, até mesmo, temos uma cena em preto e branco que remete aos musicais, tão apreciados por Giles e Elisa.

A trilha sonora é bela, mas não tão marcante quanto outros pontos da produção. Talvez seja o ponto mais fraco do filme, mas, ainda assim, cumpre seu papel.

Guillermo del Toro talvez tenha alcançado seu ápice e essa pode ser considerada sua nova obra-prima.

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A Forma da Água é um filme lindo em todos os sentidos.

É realmente um conto de fadas para adultos. Mas quem já assistiu ao Labirinto do Fauno sabe como as fadas acabam nas histórias de Guillermo del Toro.

A escolha pelo período de Guerra Fria também foi um grande acerto do diretor. Diversas questões sociais, tensões entre Estados Unidos e União Soviética, crises financeiras... Esses e outros problemas circundam a trama principal, mas não interferem de maneira a criar linhas demais para o espectador se preocupar.

Essa é uma história de amor entre um monstro e uma mocinha.

A realidade pode ser um pouco mais sombria e deturpada do que um conto de fadas, mas no final sempre há a chance de lermos um e foram felizes para sempre.

Nota: 5/5