[CRÍTICA] Detetive Pikachu – Nostalgia que tropeça nos próprios pés!
[CRÍTICA] Detetive Pikachu – Nostalgia que tropeça nos próprios pés!
Abram alas pro primeiro filme live-action de Pokémon!
Chegou hoje aos cinemas Detetive Pikachu, filme que promete trazer o incrível mundo dos Pokémon para o realismo do cinema norte-americano.
Com bastante humor, verdadeiro sopros de nostalgia, e alguns tropeços, o longa introduz vários dos monstrinhos clássicos da franquia. Confira nossa crítica!
Ficha Técnica
Título: Detetive Pikachu
Ano: 2019
Data de lançamento: 9 de maio (Brasil)
Direção: Rob Letterman
Duração: 1h 44m
Sinopse: Em um mundo onde as pessoas colecionam Pokémon para batalhas, um garoto se depara com um inteligente Pikachu falante aspirante a detetive.
Nostalgia que tropeça nos próprios pés!
Aquela que é uma das mais bem estabelecidas franquias da cultura pop faz seu primeiro aceno na indústria hollywoodiana, tornando difícil resistir a vontade de conferir com os próprios olhos o que se deu nesse tal filme live-action de Pokémon.
Adaptado do jogo de mesmo nome, Detetive Pikachu traz como o protagonista do filme, o rato elétrico que é a cara da marca Pokémon. Só que aqui, ele é uma fofíssima bola de pelo de CGI com uma voz que você nunca esperaria que saísse da boca daquela criaturinha. E enquanto essa foi uma das escolhas mais bem acertadas da produção, não dá para dizer o mesmo da história que vemos se desenrolar.
O prólogo do filme acontece num laboratório, onde cientistas realizam experiências misteriosas através de Mewtwo, personagem marcante do primeiro longa animado da franquia. A cena aliás, remete diretamente ao começo daquele filme, podendo deixar o fã mais nostálgico bem empolgado.
Logo, somos apresentados a Tim Goodman (Justice Smith), um jovem cujo pai, com quem ele não tem contato há anos, foi dado como morto num misterioso acidente. A partir disso, Tim embarca para Ryme City, uma grande metrópole onde humanos e Pokémon são tratados como iguais, e onde o rapaz vai encontrar um parceiro improvável para desvendar o acidente do pai e tudo que cerca aquela história.
A premissa de Detetive Pikachu, na verdade, até soa promissora, mas se torna cansativa a partir do momento em que o filme abdica qualquer tempo longe da relação de Tim e Pikachu, ou do montante de Pokémon inusitados, para se concentrar num enredo que logo se prova pífio e desinteressante.
Junto ao Pikachu, à jovem repórter Lucy e seu Psydcuk, Tim percorre vários pontos da cidade buscando pistas, como um verdadeiro filme de detetive, porém aqui, as coisas são fragmentadas e atropeladas o suficiente, o que faz com que o espectador não se sinta desafiado a embarcar naquele mistério. A cada nova "eureca!", o público só torce para que a câmera foque na reação do Pikachu e na piada que ele tá esperando para soltar.
É quase como se estivéssemos assistindo a um jogo da franquia materializado bem diante dos nossos olhos, onde os protagonistas precisam ir de um ponto a outro, descobrir uma coisa aqui, encontrar alguém ali, com a consciência de que um grande vilão, com um bom plano, nos aguarda no fim da jornada; no entanto, um filme exige uma lapidação um pouco mais cuidadosa, e à medida em que vamos nos aproximando do final, fica evidente que o roteiro não soube esquematizar esses elementos da melhor maneira possível.
As motivações dos personagens, com exceção dos protagonistas Tim e Pikachu, nunca se tornam convincentes, e o plano do vilão, quando finalmente é revelado, soa bizarro e completamente ilógico.
No entanto, a maneira como o filme constrói o personagem de Justice Smith e sua relação com Pikachu é fundamental para o filme criar algum elo com o espectador, já que o mistério em si fracassa nisso.
Além de dar boas risadas com eles, há também alguns momentos que até nos permite emocionar, fazendo lembrar inclusive do popular anime de Pokémon, onde o protagonista Ash e seu Pikachu constroem uma das amizades mais duradouras a que já se ouviu falar na ficção.
E boa parte disso não seria possível sem a voz de Ryan Reynolds, que é sem dúvida o ponto alto do filme. O contraste proposital da voz enérgica e sarcástica do ator com a imagem do bichinho felpudo funciona de uma maneira tão perfeita, que me fez perguntar como ninguém havia tido aquela ideia antes.
No Brasil, o filme está sendo exibido na maioria dos lugares em cópia dubladas, o que vai te fazer se desdobrar um pouco mais se você quiser conferir o ótimo trabalho do ator.
Na verdade, não só a voz de Reynolds é fundamental para o êxito do filme, como também o design do Pikachu. A involuntária vontade de pegar o Pokémon e colocá-lo num potinho se faz presente durante toda a projeção do filme, o que faz com que o personagem animado seja a melhor coisa de Detetive Pikachu, especialmente quando o filme desperdiça outros possíveis potenciais.
Quando dá voz ao Pikachu de Ryan Reynolds, o texto é ágil e estimulante, mas quando precisa explicar para o público o que cada descoberta dos personagens significam, o filme torna a tropeçar.
Não bastasse ser tão didático e burocrático, Detetive Pikachu ainda se aproveita de um recurso barato que envolve uma tecnologia de simulação, que é usado tão exaustivamente pelo roteiro que fica visível a maneira preguiçosa com que o filme é conduzido.
O caos urbano de Ryme City é muito apropriado para introduzir o mundo Pokémon. A nostalgia reina em praticamente todos os momentos em que eles aparecem. Os monstrinhos estão em toda parte, e é praticamente impossível não se pegar falando mentalmente o nome de cada um. “Ah, um Tauros!”, “Ah, meu deus, são Pidgeottos?”, “Eu acho que eu vim um Togepi”. Eles aparecem em todos os lugares, mesmo que não sejam um destaque, que nossos olhos passam percorrer a tela abobados a procura de mais um.
Apesar da pegada realista, os Pokémon ainda têm os dois pés no cartunesco, o que torna o CGI não tão perfeito algo justificável e dentro da proposta.
Detetive Pikachu é sem dúvida um entretenimento divertido, não só pela nostalgia que ele provoca naqueles que cresceram com Pokémon, mas também pela abordagem cheia de humor com a qual ele introduz esse universo no cinema.
O problema é exatamente quando o filme se mostra tão confortável em sustentar o interesse do espectador a partir desses aspectos, que deixa de lado qualquer cuidado com a trama principal.
Mesmo assim, o filme abre espaço para que outras histórias do Mundo Pokémon vejam a luz do projetor de cinema!