[CRÍTICA] Death Note – Bom filme, péssima adaptação!
[CRÍTICA] Death Note – Bom filme, péssima adaptação!
Death Note estreou na Netflix nesta sexta-feira e já está causando um bom alvoroço entre os espectadores e fãs da obra original.
Vamos trazer uma crítica sem spoilers para vocês do que achamos sobre este filme.
Imagens: Divulgação/Netflix
Ficha Técnica
Ano de produção: 2017
Dirigido por: Adam Wingard
Lançamento: 25 de Agosto de 2017
Duração: 101 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos Disponível na Netflix.
Death Note é um filme norte-americano, do gênero suspense, baseado na série de mangá homônima de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. O elenco é composto por Nat Wolff, Margaret Qualley, Keith Stanfield, Paul Nakauchi, Shea Whigham e Willem Dafoe.
Adaptação: substantivo feminino Ação ou efeito de adaptar(-se).ajuste de uma coisa a outra. Série de transformações realizadas numa obra de forma a adequá-la a um público diferente ou a transpô-la para o cinema, a televisão, teatro, etc.
Releitura: É uma nova interpretação de uma obra de arte, pintura,escultura, peça teatral, conto, etc feita com estilo próprio, mas sem fugir ao tema original da obra.
Tendo em vista a diferença entre os significados das duas palavras propostas no item anterior, vamos embasar praticamente toda a crítica que virá à seguir no seguinte contexto: o filme Death Note se propôs desde o início a ser uma obra “baseada no mangá original de mesmo nome” e que - assim como o cultuado filme Apocalypse Now do renomado Coppola apenas se baseia na obra literária Heart of Darknes - este filme vem com a proposta de trazer uma releitura desta história, não uma adaptação.
Por isso já definimos logo no início que é uma péssima adaptação, exatamente porque o filme não se propõe a ser uma. Uma adaptação tenta trazer o máximo de fidelidade, fazendo apenas as mudanças necessárias para que aquela história caiba em uma nova mídia, para um novo público.
Death Note vai requerer um exercício de desprendimento muito grande por parte dos fãs do anime e do mangá, e isso foi um movimento ousado e arriscado por parte da Netflix, que resolveu contar uma nova história de um mangá tão aclamado e tão famoso.
Mas, para aqueles que conseguirem tal desprendimento, essa mente aberta para uma releitura, ou para aqueles que nunca consumiram a obra original, Death Note pode ser uma experiência cinematográfica agradável.
O filme traz uma história peculiar, seguindo um jovem estudante chamado Light Turner, filho de um policial, inteligentíssimo e amargurado que perdeu a mãe recentemente. Light encontra um caderno que caiu do céu e aparentemente lhe confere a capacidade de matar qualquer pessoa, em qualquer lugar, como ele quiser, um presente de um deus da morte.
Light se junta com Mia, a líder de torcida que também não vê mais as “cores” da vida, em uma jornada para fazer do mundo “um lugar melhor”, na visão deles.
Nessa ideia, o filme traz um roteiro suficientemente bem feito, nada extraordinário. Contém alguns clichês hollywoodianos de filmes com adolescentes rebeldes, mas ainda assim uma trama que consegue levantar questionamentos interessantes - se você não estiver ocupado apontando as diferenças entre o filme e o anime - como pena de morte, o famoso “bandido bom é bandido morto”, entre outras questões sobre a índole humana e qual é a linha que divide o certo e o errado.
Infelizmente o próprio filme perde a chance de trabalhar essa abordagem, deixando isso apenas no sub-texto ao invés de inserir de forma mais contundente nos diálogos dos personagens.
Ainda sobre a história, o fato de ser uma releitura baseada no mangá original permite que este filme conte uma história que o espectador não conhece e que não sabe onde vai dar. Isso resulta em algumas surpresas até agradáveis no ato final do filme.
Algumas dessas surpresas podem conter a utilização de alguns Deus Ex Machina, mas não se deixe abalar, pois muitas dessas coisas são, de certa forma, explicadas até o fim do filme.
Mais uma vez, essas coisas só podem ser aproveitadas quando há o desprendimento dos personagens e da história original do mangá. Pois diferenças gritantes irão acontecer ao longo da história, que poderão te fazer gritar à todos pulmões “estão destruindo o Kira!”.
O maior deleite deste filme é ver Willem Dafoe no papel do shinigami Ryuk trazendo uma força externa, que simplesmente não se importa com nada nem ninguém que esteja envolvido no seu joguete sádico.
Se por um acaso a raça humana inteira se extinguisse por conta do fato dele ter entregue o Death Note para Light, Ryuk literalmente estaria se divertindo ainda assim.
Dafoe entrega uma atuação incrível que delegava uma presença sinistra e poderosa, ao mesmo tempo que sagaz e carismática para o personagem.
Falando no Ryuk, podemos entrar na fotografia do filme, que brincou muito com a iluminação, para compor ótimos quadros, e até mesmo resolver toda a situação de criar um Shinigami em live action de uma maneira que parecesse plausível.
Cores e luzes estouradas são aplicadas em vários momentos em contraste com sombras pesadas e carregadas.
O filme traz atuações medianas, nenhuma grande performance foi exibida durante esse filme, com exceção talvez de Dafoe.
As atuações de Nat Wolff e Margaret Qualley beiram o pífio, pois enquanto um entrega reações exageradas e emoções quase novelísticas, a outra tem a expressão e a emoção de uma Kristen Stewart em Crepúsculo ou um Stephen Amell. Porém, o restante do elenco consegue segurar muito bem a qualidade das atuações em um nível aceitável.
Já a trilha sonora do filme incomoda demais em determinados momentos.
A produção parece querer embarcar na atual tendência dos filmes de heróis, que tem feito a trilha sonora fazer parte do filme como um personagem presente - e ao invés de fazer isso, conseguem fazer com que a trilha seja algo completamente heterogêneo ao sentimento que a cena quer mostrar, criando um incômodo e em dois momentos específicos, um grande anti-climax para a obra.
No fim das contas, Death note traz um filme aceitável, que fica aquém do peso icônico que o nome traz consigo.
Mesmo que o filme seja uma releitura, ele não consegue equiparar a qualidade do material original e essa nova história acaba deixando a desejar, porém ainda é um filme que, tendo o desprendimento da obra original - e isso vindo de um enorme fã de Death Note que nunca irá superar o luto do episódio 25 - você consegue ter uma boa experiência com este filme.
Por isso demos 3 maçãs para que Ryuk não tenha nenhuma crise de abstinência.