[CRÍTICA] Bumblebee – É assim que se faz um filme dos Transformers!
[CRÍTICA] Bumblebee – É assim que se faz um filme dos Transformers!
O que um bom diretor não faz!
Transformers sempre foi uma saga bem polêmica nos cinemas. Nas mãos de Michael Bay, a saga recebeu diversas críticas negativas por sua megalomania e personagens rasos. No entanto, agora temos o filme solo do Bumblebee, e as coisas estão mudando.
Dirigido por Travis Knight – de Kubo e as Cordas Mágicas -, o filme volta aos anos 80 para contar a história do adorável camar… fusca amarelo. Nós já conferimos o longa e aqui está nossa opinião!
Créditos: Paramount
Ficha Técnica
Título: Bumblebee
Ano: 2018
Data de lançamento: 25 de dezembro (Brasil)
Direção: Travis Knight
Duração: 113 minutos
Sinopse: Em 1987, Bumblebee encontra refúgio em um ferro-velho em uma cidade litorânea da Califórnia. Charlie, prestes a fazer 18 anos e com uma grande crise de identidade, encontra o robô, ferido e quebrado.
Bumblebee - É assim que se faz um filme dos Transformers!
Quando o filme solo do Bumblebee foi anunciado, muitas pessoas reviraram os olhos, perguntando a necessidade de um spin-off de uma franquia já tão desmazelada quanto Transformers. Até então, os cinco filmes de Michael Bay nada haviam feito para justificar a existência de um prelúdio voltado para um de seus protagonistas.
No entanto, aos poucos as esperanças começaram a surgir: em vez de Bay, o filme foi passado para Travis Knight, um cineasta já famoso por suas obras animadas, como Kubo e as Cordas Mágicas. O primeiro trailer assegurou uma pegada bem mais emocional, e todos nós nos preparamos para a viagem.
O filme não vai além do que promete: aqui, vemos um pouco da guerra civil de Cybertron. De cara, somos apresentados aos Autobots e aos seus inimigos mortais, os Decepticons. No fim, vemos Bumblebee fugindo para a Terra e se encontrando com sua primeira amiga humana, a rebelde Charlie Watson, muito bem interpretada por Hailee Steinfeld.
E, por mais que a trama não seja nada original, seguindo um caminho que até mesmo o primeiro Transformers já tomou, lá em 2007, há uma diferença essencial: a estrada tomada. O filme é bem mais simples, sem a necessidade de McGuffins clichês, reviravoltas chocantes ou paradas bruscas para cenas de ação desconexas.
Assim sendo, Bumblebee simplifica bem mais sua narrativa. Em suma, é quase como um feijão-com-arroz no que diz respeito a cinema blockbuster. No entanto, um mérito que merece ser levado em conta - e que eleva muito o espírito do filme - é o entretenimento. Diferente dos filmes de Bay, vemos que o longa não tenta se levar a sério demais, e isso funciona muito bem.
Analisando os personagens, também temos figuras bem mais interessantes. Bumblebee é fofo e cativante, e sabe ser engraçado na medida certa. Os vilões, Shatter e Dropkick são ameaçadores e nunca beiram o caricato. Destaque para o trabalho de voz de Angela Bassett e Justin Theroux, que é excepcional.
No entanto, o que realmente diferencia Bumblebee de sua franquia-matriz é o núcleo humano, principalmente a protagonista Charlie. Hailee Steinfeld usa alguns atributos de trabalhos anteriores, como Quase 18, criando uma personagem carismática e que possui um arco dramático bem interessante.
Alguns coadjuvantes também possuem bastante espaço e, apesar de não adicionarem muita coisa no aspecto dramático, geram boas cenas de alívio cômico - como é o caso de Memo (Jorge Lendeborg Jr.), e Otis (Jason Drucker). A única coisa que não funciona muito bem é o "romance" entre Charlie e Memo.
No entanto, nem tudo são flores. O Setor 7, departamento governamental que caça os Transformers, acaba sendo mais um empecilho à trama do que um acréscimo. John Cena pode ser muito carismático na vida real, mas no filme, seu personagem é insosso e inexpressivo, entregando suas falas de uma forma motorizada e sem vida.
Mas ele nem é o pior. O Dr. Powell, vivido por John Ortiz, é um personagem simplesmente burro, em um nível que soa forçado até dentro do contexto do longa. Eles novamente representam o problema externo que acaba entrando na jogada por conta das ações dos Decepticons, mas aqui sentimos quase como se eles só estavam lá para manter a "tradição".
No que tange aos aspectos técnicos, algo que precisa ser realçado é a qualidade sonora. A mixagem está realmente perfeita, criando um ambiente imersivo para qualquer um disposto a embarcar na jornada. A fotografia não é excepcional, mas sabe trabalhar bem planos abertos e movimentos de câmera na hora da ação.
Aliás, falando nisso, o filme sabe lidar muito melhor com a pancadaria entre robôs. As explosões ainda estão lá e o metal retorcido não falta. No entanto, a decisão de Knight em abordar a ação a partir de planos abertos torna as batalhas mais nítidas e compreensíveis. Além disso, o diretor sabe valorizar as tomadas pelo maior tempo possível, sem muitos cortes.
Em termos de roteiro, o texto de Christina Hodson funciona dentro de uma estrutura básica, mas acaba tendo alguns defeitos aqui e ali que comprometem a lógica primária. Isso acaba prejudicando a direção e a continuidade. Há algumas cenas que contradizem sua própria lógica narrativa e causam grande estranhamento.
Por exemplo, há uma cena em que Charlie precisa pegar uma moto elétrica e resgatar Bumblebee - que está sendo dirigido por sua mãe. Ela então entra no carro e dirige, enquanto a moto fica na rua - e posteriormente, ela surge novamente na casa de Charlie. Há outra sequência em que Memo perde uma camisa - e na cena seguinte, ele já está usando outra.
Ainda assim, isso não ofusca os méritos. O filme, de forma geral, é realmente bom. Há emoção, há um humor bem menos imaturo e há momentos em que temos uma tensão sufocante. Outro ponto positivo para os fãs saudosistas são as referências à nostálgica década de 80, que dizem respeito tanto à cultura pop quanto à própria mitologia original dos Transformers e os brinquedos da Hasbro.
Isso fica bem evidente na músicas tocadas ao longo do longa. Temos The Smiths, Rick Astley e Tears for Fears. Mas também temos referências mais específicas, como um Decepticon que "libera" um cachorro-robô a partir de sua caixa torácica, algo que certamente vai colocar um sorriso no rosto dos fãs.
Em suma, Bumblebee pode ser um blockbuster padrão, que segue à risca todas as normas do que se espera do gênero. No entanto, ao se arriscar pouco, o filme ao menos consegue estabelecer uma base - algo que não tivemos em cinco filmes de Transformers. E, no arroz-e-feijão, o longa se prova um prato delicioso.
Com uma atriz que pode ganhar bem mais espaço no cenário Hollywoodiano mainstream, um protagonista cativante e adorável, e vilões intimidadores, Bumblebee prova seu lugar como o melhor longa da franquia. E, sendo um prelúdio, ele realmente poderia servir como uma espécie de reboot, levando a franquia em uma nova geração.
NOTA: 3,5/5