[CRÍTICA] Brightburn: Filho das Trevas – Assassino de Aço!
[CRÍTICA] Brightburn: Filho das Trevas – Assassino de Aço!
“Superman” de terror não assusta e nem decola!
Nova empreitada de James Gunn (como produtor), Brightburn: Filho das Trevas chegou empolgando alguns entusiastas de horror e histórias em quadrinhos, prometendo uma versão sombria e aterrorizante do mito do Superman.
O filme finalmente chegou aos cinemas na última quinta-feira (23), trazendo um elenco liderado por Elizabeth Banks. Contudo, será que essa sátira hedionda do Homem de Aço conseguiu provar seu valor?
Créditos: Sony
Ficha Técnica
Título: Brightburn: Filho das Trevas (Brightburn)
Direção: David Yarovesky
Roteiro: Brian Gunn e Mark Gunn
Ano: 2019
Data de lançamento: 23 de maio (Brasil)
Duração: 91 minutos
Sinopse: E se uma criança de outro mundo caísse na Terra, mas em vez de se tornar um herói para a humanidade, ele se provasse algo bem mais sinistro?
Brightburn: Filho das Trevas - Assassino de Aço!
Super-heróis estão mais aparentes do que nunca. Na mídia e no cinema blockbuster, não podemos desviar nos olhos de lançamentos colossais que dominam as bilheterias e a cultura pop em um verdadeiro estouro. Vez ou outra, algum cineasta decide pegar esse "gênero" e levar em outra direção, como é o caso de Brightburn: Filho das Trevas.
Produzido por James Gunn - o lendário criador da franquia Guardiões da Galáxia -, o longa é uma versão "distorcida" da história do Superman. Um alienígena cai na Terra quando bebê e é adotado por um casal do Kansas. Aos poucos, ele descobre que possui habilidades fantásticas e isso o leva à conclusão de que sua linhagem é um pouco mais que humana.
A proposta de se fazer um filme de terror com personagens super-poderosos é interessante - e certamente tivemos uma grande cota de exemplares ao longo das duas últimas décadas, com Blade, Motoqueiro Fantasma e até o Hellboy de Guillermo Del Toro, todos incorporando elementos notáveis - isso quando não mergulhavam totalmente no gênero.
Infelizmente, Brightburn acaba soando como uma oportunidade perdida. O longa não constrói seus personagens de forma marcante, e seu elemento de terror é utilizado da forma mais banal possível, no momento em que percebemos que Brandon Breyer não é nenhum Homem do Amanhã disposto a trazer esperança para a humanidade.
Dizer que o roteiro do filme é ruim seria um eufemismo. Em vez disso, é uma verdadeira bagunça que deixa o público com mais perguntas do que respostas. Na premissa básica, Brandon Breyer começa a ter uma força maligna despertada quando completa 12 anos de idade. A partir daí, ele se torna um assassino frio e visceral.
Porém, a construção do personagem se desenrola de uma forma atropelada e sem sentido. Por que ele só começou a "despertar" seu lado maligno aos 12 anos? Quem era a entidade que "habitava" em sua nave? Como, do dia para a noite, ele consegue criar seu visual bem a tempo de atacar uma garçonete em seu local de trabalho? Nada é explicado, implícita ou explicitamente.
No fim das contas, o filme não possui uma trama. Mal dá para dizer que é um conceito formado. Os irmãos de James Gunn, Brian e Mark Gunn criam um roteiro sem personalidade e foco, desviando a atenção de elementos que poderiam ser muito bem trabalhados. O exemplo disso está nos trailers, que a todo tempo fizeram parecer que o filme parodiava Homem de Aço.
O filme se beneficiaria muito de "recriar" o desenvolvimento que Zack Snyder deu para o seu Superman nos cinemas. A visão sombria, distorcida e mais "humana" de um dos heróis mais clássicos dos quadrinhos. Em vez disso, o filme sequer se esforça em trabalhar a personalidade de seu protagonista/vilão. Ele é só um assassino e pronto.
Isso prejudica completamente um dos arcos mais interessantes do filme, que diz respeito à relação de Brandon com sua mãe adotiva, Tori Breyer - interpretada por Elizabeth Banks, se esforçando mesmo com pouco material aproveitável. De início, essa dinâmica me lembrou um pouco o clássico Tara Maldita (The Bad Seed).
Contudo, se o icônico longa de 1956 sabia trabalhar a personalidade de uma mãe que se recusa a todo custo acreditar que sua filha é uma psicopata, o longa de 2019 apenas toca nisso pela superfície. O "amor de mãe" é sempre visto e mencionado, mas nunca sentido. De certa forma, até o núcleo familiar é tão frio quanto o assassino ao qual orbita.
No que diz respeito ao terror, o filme é problemático. Há uma "regra" popular entre roteiristas de filmes de horror, que diz que a cada dez páginas, uma cena tensa/assustadora precisa acontecer para que o público continue fisgado ao que está acontecendo. Porém, os Irmãos Gunn leram a receita errada, colocando dez momentos "assustadores" por página.
O resultado é uma infinidade de jump scares, um mais previsível que o outro. O filme sequer tenta construir tensão, e se mantém em um loop infinito onde nos preparamos para um susto, finalmente o tomamos e já começamos a nos preparar para o próximo. O que salva é a violência e o gore, que ainda assim parecem muito deslocadas e injustificadas na narrativa.
Tirando o desastre que é o roteiro, o resto do filme é funcional, dentro de suas limitações (especialmente orçamentárias). O diretor David Yarovesky consegue estabelecer uma boa fotografia e alguns enquadramentos interessantes, mas realmente entra em uma repetição infinita com os já redundantes jump scares.
A trilha sonora de Tim Williams também funciona dentro do possível, mas é constantemente remendada para se encaixar aos momentos absurdamente altos que acompanham algum susto telegrafado. O design de produção também se esforça, criando um visual ameaçador para esse "Superman do mal" - por mais que o traje não faça nenhum sentido narrativo.
Em termos de atuação, Elizabeth Banks (mais uma vez) se destaca, mas luta com a escassez de um roteiro bruto e hostil. O jovem Jackson A. Dunn transita entre o cômico, o vergonhoso e o aceitável, mas em nenhum momento passa alguma emoção verdadeira, apenas a mesma cara sociopática que já premedita a tragédia.
No entanto, o verdadeiro problema está em David Denman, que interpreta o pai adotivo de Brandon. O personagem muda de ideia tão bruscamente que o ator fica desnorteado, e não consegue dar uma atuação convincente em momento algum, seja tentando entender o filho ou percebendo que ele é uma ameaça que precisa ser combatida.
Em suma, a sensação que fica é a de potencial desperdiçado. No auge dos filmes de super-heróis, Brightburn: Filho das Trevas poderia ter sido muitas coisas - um thriller psicológico; uma análise sombria sobre o papel do super-herói na sociedade moderna; uma paródia aterrorizante de Homem de Aço. E no fim, é apenas mais um típico filme de terror cheio de sustos baratos.
Desperdiçando o talento de Elizabeth Banks e criando um vilão que não será nem um pouco memorável, o filme se justifica na violência pela violência - e no fim das contas, não consegue sequer funcionar como um terror eficaz. É uma oportunidade jogada fora, resultando em um dos filmes mais esquecíveis do ano - seja como horror ou como longa de super-heróis.
NOTA: 1,5/5