[CRÍTICA] Bleach – Uma luz no fim do túnel para os live-action?
[CRÍTICA] Bleach – Uma luz no fim do túnel para os live-action?
Ainda podemos manter as esperanças?
Quando o live-action de Bleach foi anunciado o público ficou dividido – em diversos aspectos.
Muitos já estavam cansados das diversas tentativas de adaptar para as telonas as propriedades japonesas. Outros ainda acreditavam que uma hora os estúdios acertariam. Outros, simplesmente, já estavam cansados de Bleach mesmo!
Mas será que vale a pena depositar a confiança na mais nova adaptação distribuída pela Netflix?
Confira em nossa análise sem spoilers!
Imagens: Divulgação
Ficha Técnica
Título: Bleach
Ano: 2018
Lançamento: 14 de setembro de 2018 (Netflix)
Direção: Shinsuke Sato
Duração: 1h48min
Sinopse: Ichigo Kurosaki nunca pediu pela habilidade de ver fantasmas – ele nasceu com o dom. Quando sua família foi atacada por um Hollow – uma alma perdida malevolente – Ichigo se tornou um Ceifeiro, dedicando sua vida a proteger os inocentes e ajudar os espíritos torturados a encontrarem paz.
Depois da Netflix disponibilizar em seu catálogo títulos como Death Note e Fullmetal Alchemist ficou difícil dar crédito ao serviço de streaming online.
É claro que existem os defensores das produções, mas, no geral, os filmes se saíram muito mal com público e crítica e pareciam ser a última pá de terra no túmulo da esperança de adaptações em live-action de animes e mangás.
Até que surgiu Bleach com imagens promocionais e teasers empolgantes, renovando o sentimento nos corações dos fãs e nos deixando com aquele pensamento de "será que agora vai?"
E foi...
A trama do live-action é simples e coesa. Talvez seja justamente isso que faça o filme funcionar.
O diretor, Shinsuke Sato, se preocupou em contextualizar todo o universo de Bleach em seu primeiro filme, algo não muito comum nas produções orientais.
Em vez de assumir que a audiência já conhecia as regras de Bleach, Sato organizou as ideias e as motivações do mangá e do anime em uma ordem que funciona de maneira muito mais satisfatória no filme do que nas mídias originais.
Mesmo assim, o espírito da franquia (com o perdão do trocadilho) ainda está lá!
É claro que, como toda adaptação, o filme precisa fazer mudanças na trama e nos personagens. Mas uma vantagem que Bleach tem com relação a outros títulos é a estrutura de arcos isolados.
Assim, os filmes podem contar as diferentes sagas do mangá/anime sem necessariamente fazer muitas alterações na história. Apesar disso, a produção se preocupou em mostrar elementos que serão revisitados em sequências futuras, mas sem revelar a importância deles agora.
Se você é um grande fã de Bleach ou mesmo se conhece os elementos básicos da história, vai ficar feliz com o modo como tudo é trabalhado no filme. Se esse é seu primeiro contato com a franquia, pode ser a melhor porta de entrada para o universo.
O tom do filme fica claro logo nos primeiros 10 minutos.
Nós vemos o lado dramático da história e o fato assustador de Ichigo ter de conviver com espíritos, mas também entendemos como ele lida com isso de maneira bem-humorada e como sua personalidade permanece inabalável diante de qualquer situação.
O filme também constrói a relação entre o protagonista e os coadjuvantes de maneira satisfatória. Fica a vontade de ver um pouco mais deles, mas -pra quem conhece a história- nós entendemos que ainda não é o momento.
Talvez alguns personagens foram sub-aproveitados e isso, de fato, irrite mais do que em outras situações. Algumas cenas constroem relações que não são exploradas novamente na trama e parecem deslocadas quando analisamos Bleach como um todo.
Novamente, como as produções orientais já são planejadas como sagas em mais de um filme, esses elementos foram plantados agora para serem colhidos mais tarde. Mas, realmente, destoam do restante do filme para quem não está acostumado com essa estrutura cinematográfica.
Os aspectos técnicos merecem destaque.
Ainda é uma produção japonesa, com orçamento irrisório quando comparado com os grandes blockbusters americanos. Mas as escolhas de direção ajudam a "disfarçar" isso.
Como citamos anteriormente, Sato optou por contar uma história simples. Assim, diversos elementos fantásticos foram cortados da trama -pelo menos nesse primeiro filme.
É claro que nós temos os Hollow, que inclusive estão bem caracterizados, e vemos uma maneira interessante de retratar a Sociedade das Almas, sem torrar todo o orçamento na criação do local, mas tudo é mostrado de maneira muito contida.
O final ainda brinca com as possibilidades e nos mostra que o futuro pode ser grandioso para a saga, mas não esperem um espetáculo de cores, poderes e absurdos como acontece no anime.
Isso mesmo. Ninguém grita o que você espera que gritem...
Mesmo assim, Bleach equilibra a ausência do absurdo com sequências de ação de tirar o fôlego e uma construção de personagem dificilmente vista nesse tipo de produção.
As coreografias das lutas são espetaculares.
Sim! Usar esse termo não é exagero. O modo como a câmera se movimenta durante os combates também confere ainda mais dinamismo às lutas.
Em alguns momentos, a edição lembra as sequências de ação de filmes como Scott Pilgrim contra o mundo, mas claro que não se aproxima do exagero da obra de Edgar Wright.
Mas o diretor soube mesclar muito bem coreografias bem executadas com o uso de computação gráfica quase imperceptível durante os combates.
Além das cenas do treinamento ajudarem a desenvolver de maneira natural o relacionamento entre Ichigo e Rukia.
A evolução do protagonista também chama atenção. Ele não surge como uma força incomparável, como acontece em diversos animes/mangás e até mesmo na história original de Bleach.
Sua transformação se dá aos poucos e de modo verossímil.
O modo como Ichigo se importa com sua família e com os que estão ao seu redor, da mesma maneira como seu trauma de infância o acompanha durante toda sua jornada são importantes para a história e fazem com que o espectador se importe de verdade com o protagonista.
Nós não torcemos pelo herói porque ele é imbatível, mas porque compramos sua briga como algo pessoal!
Tamo junto, Ichigo!
A Netflix também acertou com a dublagem.
As vozes combinam com os personagens e o texto é completamente coerente com o tom do filme.
As brincadeirinhas da linguagem original foram mantidas e algumas até mesmo adaptadas para o Brasil. Ou seja, mais uma vez tivemos memes sendo utilizados.
Mas podem ficar tranquilos, todos eles são encaixados no momento correto e sem exageros.
Se você gosta de consumir produções dubladas, pode ir sem medo!
Depois de algumas decepções com relação às versões em live-action, Bleach vem como uma luz no fim do túnel para os que ainda sonham em ver seus animes favoritos ganhando vida.
A maioria das mudanças foi muito bem vinda para tornar a história coesa, embora algumas ainda incomodem por parecerem fanservices para agradar os fãs dos personagens que foram deixados de lado e outras façam falta para quem já conhece a mitologia da franquia.
Os aspectos técnicos são limitados, mas o diretor encontrou formas criativas de superar o orçamento baixo.
No geral, Bleach funciona tanto como adaptação como produção isolada e nos deixa esperançosos não apenas pelo futuro da saga, mas para que outras propriedades sigam seus passos no universo das versões em live-action.
BANKAI
Nota: 4/5 Hollows