Crítica – Batman vs Superman: A Origem da Justiça (e do universo DC nos cinemas!)
Crítica – Batman vs Superman: A Origem da Justiça (e do universo DC nos cinemas!)
Contém todos os SPOILERS possíveis do filme! Se você ainda não viu, dá uma passadinha aqui depois!
A maior batalha de ícones pop, pelo menos até o momento; chegamos à derradeira luta entre o Morcego de Gotham e o Filho de Kripton, rodeados pelo fantasma do filme solo do Homem de Aço, pela expectativa da abertura do novo universo cinematográfico da DC e, principalmente, pelo nascimento da Liga da Justiça.
E aí, o Superman sangrou?
Ficha Técnica
Data de lançamento – 24 de Março de 2016
Classificação – 12 anos
Duração – 2h 32min
Direção – Zack Snyder
Roteiro – David Goyer, Chris Terrio
Trilha Sonora – Hans Zimmer, Junkie XL
Elenco – Ben Affleck, Henry Cavill, Gal Gadot, Jesse Eisenberg, Amy Adams, Jeremy Irons, Holly Hunter, Laurence Fishburne, Jason Momoa, Ray Fisher, Ezra Miller, Diane Lane
Corajoso?
Em termos práticos, Batman vs Superman é um filme confuso, abarrotado de informação e que subestimou muito o espectador em algumas partes de sua narrativa. Isso é fato, a maior parte das críticas está fazendo esse mesmo apontamento. Porém, em um contexto amplo, A Origem da Justiça cumpre seu papel de forma certeira, além de ser um entretenimento de primeira e, ainda, ser um projeto muito corajoso.
Considerando o Homem de Aço, de 2013, como a pedra sobre a qual a DC vai tentar construir seu império, é muito arriscado optar, em primeiro lugar, por um filme desse tipo que, ainda que a junção dos dois heróis cause muito alvoroço, somando com os anúncios dos outros personagens, é um projeto muito distante da área de conforto de quem quer assegurar um universo expandido para competir com a Marvel.
Ousado?
Também, levemos em conta toda a crítica em cima da nova abordagem do Superman nos cinemas e o sucesso apenas aceitável que o longa gerou. E quando estamos cara a cara com o novo filme, vemos uma dinâmica muito distinta; mesmo que seja dividido em atos bem definidos, a trama foi explorada de uma maneira não linear e mais perceptiva, apostando na capacidade do espectador para a compreensão total, coisa que muitos filmes pipoca passam longe de fazer.
Por exemplo, começar com uma origem rápida e concisa do Batman, entendendo que já conhecemos o personagem e não precisamos de mais de 15 minutos para entender sobre quem estamos tratando, foi um acerto que vai dificultar na apresentação do Homem-Aranha, em Guerra Civil, sem que haja alguma comparação.
Investir na ideia de que o espectador não é desinformado, incluir os pesadelos do Batman sem aviso, ou fazer a aparição do Flash sem se preocupar com preparações. Nós sabemos quem são eles, não é necessário se alongar nisso agora.
Papel de Trouxa I
Ainda assim, o filme peca no ponto em que acerta, criando uma narrativa mais que confusa. Mesmo que, em vários momentos, o longa mostre que confia na capacidade de interpretação do espectador, em outros parece que estamos vendo a história mais simplória do mundo. Ou a conclusão da batalha entre os heróis ou o relacionamento entre Lois e Clark não te fizeram pensar “Vocês estão achando que eu sou trouxa”?
No mesmo filme em que vemos toda a trama meticulosa criada por Lex Luthor para colocar os dois vigilantes em uma luta, temos a mesma batalha acabando com o Superman chamando pela mãe e, do nada, vemos Superman e Batman melhores amigos. É quase desrespeitoso, depois de criar uma trama lotada de easter-eggs e referências, que só cita o sobrenome da Mulher-Maravilha uma vez e, mesmo assim, apresenta a personagem de forma eficiente, apostar em chavões como o super-herói resgatar a mocinha em perigo ou respostas simples demais para questões que foram tratadas de forma complexa o resto do filme.
Papel de Trouxa II
E sobre a grande batalha de titãs, vendida desde antes do anúncio oficial do filme, é praticamente um coito interrompido. O longa cria a tensão entre os dois e eleva o sentimento ao seu limite, com o auxílio da edição e da sonoplastia, para, quando chegamos no ápice, com o Batman derrubando pilastras com o corpo do Superman, a batalha acaba. Para um filme com o nome Batman vs Superman, esperávamos muito mais. Esperávamos ver o Homem de Aço realmente sangrar, não apenas sair com um arranhão no rosto.
Mulher-Maravilhosa
Depois desse desabafo, podemos falar de coisa boa. Mesmo confusa, a narrativa do filme acertou em muitos pontos, como a Mulher-Maravilha, com Gal Gadot sendo um dos, senão o ponto mais alto do longa, calando MUITAS bocas por aí, e sua Diana Prince meio gatuna, misteriosa, que explode no último ato do filme, com direito a espada, escudo e laço mágico no monstro, ou Lex Luthor, seu plano mirabolante e seus surtos, destoando da ideia original do vilão, mais centrado, mais sério que o mostrado, porém, que casa completamente com a história e com seus antagonistas, deixando o Homem de Aço literalmente de joelhos.
E como já foi dito que a batalha entre os heróis não foi tudo o que prometia, temos uma luta épica sim, mas é só quando o Doomsday aparece, criado de uma forma diferente e mais interessante do que os boatos colocavam, com Lex Luthor entrando nos destroços da nave kriptoniana, aprendendo sobre o universo, e criando a máquina mortífera com seu próprio sangue misturado ao corpo do General Zod. Temos uma alusão à criação original do Apocalypse dos quadrinhos, não sendo apenas uma criatura mutante, mas um ser temido em Kripton.
Batfleck
Batfleck, como estava? 2016 só pode ser o ano da remissão de atores que tiveram personagens quadrinescos ruins no passado. Já vimos Ryan Reynolds detonando tudo com Deadpool e, agora, tivemos o Batman de Ben Affleck que, assim como Gal Gadot, sofreu muito com comentários após a divulgação de seu papel e, no fim, calou a boca de geral.
Já babamos a Mulher-Maravilha e o Lex, então só resta falar do Superman de Henry Cavill, que não estava em sua melhor forma, mas não está tão ruim quanto estão pintando. Cavill entrega o herói da maneira que o filme pede, nada mais, nada menos.
Vem Liga!
E a Liga? Teve Liga da Justiça sim e de forma bem criativa. Poderiam ter incluído os heróis de uma maneira mais simples, mas a magia ficou em Luthor, Diana e Bruce descobrirem os heróis já com suas identidades reveladas, principalmente o vilão, abrindo espaço para muita coisa no futuro DC.
Falando em futuro, tivemos mais Flash que o esperado, cumprindo a aparição surrealista prometida do herói no pesadelo do Batman, dando a entender que o Velocista Escarlate vai manter seu humor nos filmes, mostrando até um pouco de seu uniforme, nos dando dicas sobre o destino obscuro que cerca os heróis.
A Morte do Superman!
Por fim, falemos do final, que muitos apostavam mas, realmente, não botavam tanta fé que aconteceria: A morte do Superman. Cumprindo seu papel principal, Doomsday perfurou o corpo do Homem de Aço, tivemos funeral honorário e caseiro e o cliffhanger, com as terrinhas flutuando. Mais uma vez, arriscado, mesmo que todos saibamos que é muito difícil Kal-El continuar morto, pelo menos até o final da primeira parte do filme da Liga da Justiça. Com essa reviravolta inclusa, o filme se jogou muito mais no efeito quadrinesco dessa vez, deixando de lado muito do tom de Homem de Aço, com ressalvas.
Vale citar mais alguns probleminhas e qualidades. Não podemos deixar passar o arco do julgamento do Superman, que foi bem interessante, mas poderia ter sido mais resumido e fluido, problemas na narrativa mais uma vez. E muitos estão colocando o Luthor caricato como um problema, mas observando os três heróis principais tão sisudos, a imagem de Lex ser mais explosiva é um elemento necessário e que faz toda a diferença na trama.
O longa também acerta em algo fundamental que muitos filmes andam errando: sua ameaça é real. Seja pela parte do Batman, do Lex Luthor ou do Apocalypse, o perigo do filme é sentido e é bem trabalhado. Pra fechar a sessão, a sonoplastia do filme está de parabéns, trabalhando da maneira certa na construção da tensão, dos confrontos e dos momentos mais dramáticos, aliada à pressão natural do filme, cria momentos em que você precisa lembrar de respirar.
Soem os sinos
Batman vs Superman: A Origem da Justiça é ousado, em alguns pontos decepcionante mas, no fim, é um grande filme que valeu a espera e dá o pontapé que a DC precisava para seu Universo Expandido. A controvérsia que o longa está gerando só mostra o quão grandioso é e o quão icônicos são os personagens representados e, mesmo com seus pontos baixos, é, em disparado, o maior evento super-heróico do cinema até agora e é provável que continue sendo por algum tempo.
Não se trata de qual empresa é melhor, não somos fãs de empresas, somos fãs de personagens e A Origem da Justiça de Zack Snyder soube trabalhar heróis queridos da maneira certa. No final, não importa se o Superman sangrou muito ou pouco, importa é que o sangue caiu pelas mãos do Morcego.
E agora, soem os sinos, porque o demônio que vem dos céus está chegando.