[Crítica] Baby Driver: Em Ritmo de Fuga – A deliciosa oposição entre um título terrível e um excelente filme!
[Crítica] Baby Driver: Em Ritmo de Fuga – A deliciosa oposição entre um título terrível e um excelente filme!
Em um ano com lançamentos como Poderoso Chefinho e Meu Malvado Favorito 3, um filme com o título de Baby Driver poderia passar despercebido aos olhos do público.
O título nacional, Em Ritmo de Fuga, também pode não ser muito atraente, mas não se deixem enganar. O filme de Edgar Wright é uma das gratas surpresas de 2017!
Imagens: Divulgação
Ficha Técnica
Título: Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)
Ano: 2017
Lançamento: 27 de julho de 2017 (Brasil)
Direção: Edgar Wright
Classificação: 14 anos
Duração: 112 minutos
Sinopse: Baby é um rapaz que precisa ouvir músicas o tempo todo para silenciar o zumbido que perturba seus ouvidos após um acidente de infância. Além disso, ele é um incrível piloto de fuga de uma gangue de criminosos liderados por Doc. Mas as coisas mudam quando ele conhece Deborah e resolve cair fora da vida de crimes e perseguições.
Em Ritmo de Fuga não é um filme convencional.
Acho que essa é a primeira coisa que precisa ser dita quando falamos sobre essa incrível produção de Edgar Wright.
O diretor e roteirista do filme se mostra bastante confortável em abusar dos jogos de câmera inusitados, planos que fogem do tradicional e um modo de contar história completamente inovador.
Wright já havia mostrado seu peculiar estilo em filmes como Scott Pilgrim e Todo Mundo Quase Morto. Ver o diretor em ação em mais um excelente trabalho só nos deixa ainda mais curiosos em imaginar como teria sido sua versão do Homem-Formiga.
Logo na primeira cena, somos apresentados ao protagonista.
Confesso que nunca acompanhei o trabalho de Ansel Elgort, mas Em Ritmo de Fuga foi mais do que suficiente para me transformar em um fã do ator!
Ansel combina perfeitamente com o que Baby exige, seja nos trejeitos ou no modo de falar... ou de não falar!
Depois de um traumático acidente na infância, o jovem acabou desenvolvendo um zumbido constante no ouvido e como uma forma de amenizar o ruído, vemos Baby compensar sua condição com a música.
Ele está o tempo todo procurando a trilha sonora para qualquer situação. Assim, ele prefere muito mais observar do que falar, mas não se enganem... ele está sempre prestando atenção a tudo.
Para deixar claro, Baby é um prodígio que, por acaso do destino, precisa usar suas habilidades para o mal.
Além de ter uma memória brilhante, ele é o capeta atrás do volante... E essas são as palavras do próprio Kevin Spacey!
O fato de estar sempre ouvindo alguma música, deixam Baby praticamente mudo durante boa parte do filme. É a música que fala por ele na maioria das vezes.
E ela conversa com o público de maneira brilhante.
Existem trilhas sonoras marcantes... Existem temas que se tornam mais famosos que os próprios filmes... E existe Em Ritmo de Fuga.
Edgar Wright conseguiu utilizar as músicas de forma magistral. Em alguns momentos se assemelha ao que Quentin Tarantino faz em seus filmes. Em outros, nos lembra como James Gunn transformou a trilha sonora em um personagem a parte em Guardiões da Galáxia.
Mas creio que o melhor termo para definir o uso da trilha sonora em Baby Driver é: Ao melhor estilo Edgar Wright!
A música é mais que um personagem... Ela tem vida. Ela dita o ritmo da cena. Ela é fundamental para tudo o que acontece e é construído no filme. E a maneira como percebemos isso e somos envolvidos na trama musical de Baby Driver merece aplausos.
Mas não pode existir um herói sem um vilão!
A relação entre Baby e Doc nos é apresentada aos poucos, como se o diretor estivesse nos provocando com algumas notas antes de entregar a melodia completa.
Baby cometeu um erro no passado e se tornou o piloto de fuga dos crimes organizados por Doc como forma de pagar o que deve ao bandido.
Mas nós conhecemos Kevin Spacey e por mais que ele seja apresentado como o responsável pelo inferno da vida de nosso "herói", é impossível odiar o ator e seus personagens.
Como de costume, Spacey traz uma performance forte, consistente e que desde o começo do filme demonstra porque ele é o líder de uma gigantesca rede de crime.
Os outros bandidos do grupo de Doc também merecem destaque.
São todos caricatos? Sim!
É um clichê dos grupos de criminosos de Hollywood? Logicamente!
Mas a dedicação de Wright em nos mostrar a evolução deles faz com que nos importemos com cada um em cena.
É claro que o elenco também conta muito no êxito dessa missão.
Nomes como Jon Bernthal, Jon Hamm, Eiza González, Jamie Foxx e até mesmo o baixista da banda Red Hot Chili Peppers, Flea, fazem com que nos vejamos torcendo pelos bandidos em meio às perseguições em alta velocidade pelas ruas da cidade.
Mas nosso herói também conta com grandes motivações.
Em casa, ele cuida de seu pai adotivo, Joseph. Uma das gratas surpresas do filme e que enriquece a atmosfera da produção de maneira inacreditável. Toda cena entre Joe e Baby é de encher os olhos e nos fez querer ver mais dos dois.
Além dele, temos a bela Deborah.
Confesso, não sei quem se apaixonou mais pela espontânea garçonete de cabelos ruivos, Baby ou eu!
A personagem de Lily James é muitas vezes colocada na posição de mocinha em perigo, mas seus diálogos são tão bem construídos e executados de maneira tão natural que você consegue acreditar em cada palavra que sai de sua boca.
Baby possui um forte elenco de apoio com o qual se importar, justamente por isso não pode por tudo a perder, já que nós também não queremos ver esses personagens se machucarem.
Mas o filme não se chama Baby Driver à toa!
As cenas de fuga são completamente alucinantes e por mais que seja um filme longo, com quase duas hora de duração, são poucos os momentos em que podemos respirar.
Diversas cenas nos deixam com uma sensação angustiante e prendemos o fôlego enquanto Baby realiza manobras inacreditáveis para fugir da polícia.
Talvez seja por isso que valorizamos os momentos doces ao lado de Joe e Deborah.
Baby está tão acostumado com o caos e a correria dos assaltos de Doc, que a ilusão de uma vida comum é sua única fuga da confusão em que está metido.
Mas não pensem que estamos falando de cenas absurdas como ocorre na franquia Velozes & Furiosos.
Por mais que as façanhas de Baby sejam impressionantes, nós conseguimos acreditar que elas poderiam se repetir na vida real (mas, por favor, não tentem isso em casa). Isso só contribui para que esses momentos se tornem ainda mais fascinantes.
No entanto, o terço final do filme escala de maneira inacreditável.
Claro que esse é um dos charmes e características de Edgar Wright, mas todo o filme tem uma "pegada muito pé no chão" e as soluções parecem muito rápidas e fantasiosas quando comparadas com o contexto apresentado no início de Baby Driver.
Mesmo assim, isso não estraga a deliciosa experiência que é assistir Em Ritmo de Fuga. Edgar Wright vem se provando, cada vez mais, um dos diretores mais inovadores dessa geração.
Prepare o fôlego, seus fones de ouvido e dê play em um dos melhores filmes de 2017!
Nota: 4.5/5