[CRÍTICA] Aniquilação – O Brilho que Caiu do Céu!
[CRÍTICA] Aniquilação – O Brilho que Caiu do Céu!
Novo filme de Natalie Portman embarca numa jornada de ficção científica e horror cósmico!
Após ter sido lançado em cinemas seletos na América do Norte e na Europa, o longa de ficção científica e terror estrelado por Natalie Portman finalmente chega ao Brasil, na Netflix.
Os críticos já estão ovacionando o longa há um bom tempo, e nós finalmente conseguimos testemunhar a nova jornada do diretor de Ex_Machina: Instinto Artificial. Mas será que é tudo isso que estão dizendo que é?
Créditos: Paramount Pictures / Netflix
Ficha Técnica
Título: Aniquilação (Annihilation)
Ano: 2018
Data de lançamento: 12 de março (Brasil)
Direção: Alex Garland
Classificação: 16 anos
Duração: 115 minutos
Sinopse: Uma bióloga parte para uma expedição secreta e perigosa, onde as leis da natureza não se aplicam.
Aniquilação - O Brilho que Caiu do Céu!
A melhor forma de descrever Aniquilação, sendo curto e grosso, é que é o melhor filme derivado da mitologia de H.P. Lovecraft - mesmo que não adapte nenhum de seus contos e não tenha a presença de nenhuma de suas criaturas blasfêmicas. Ainda assim, o horror cósmico é tão presente e absoluto que é impossível não ligar o mais novo filme de Alex Garland ao aclamado criador de bestas como Cthulhu e Azathoth.
O cineasta causou um grande furor no passado, ao lançar seu primeiro trabalho diretorial com o elogiadíssimo Ex_Machina: Instinto Artificial, onde explorou as nuances da humanidade com uma trama de ficção científica sobre inteligências artificiais. Em Aniquilação, ele volta para esse questionamento, mas a força motriz do filme está no medo do desconhecido e na loucura.
A trama segue de perto Lena, uma bióloga e veterana do Exército norte-americano, interpretada com primor por Natalie Portman. A atriz consegue passar um ar perfeito como cientista - principalmente por ser uma, na vida real - e cria uma personagem cheia de falhas e rachaduras, mas cujo interior é cheio de surpresas e uma força quase inabalável.
Ela se inscreve em uma jornada perigosa ao lado de uma equipe feminina de exploradoras, composta pela Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh), a paramédica Anya (Gina Rodriguez), a geóloga Cass (Tuva Novotny) e a física Josie (Tessa Thompson). Todas estão muito competentes em seus respectivos papeis, e criam uma equipe diversificada, fugindo dos papéis arquetípicos de filmes onde cada um serve a um único propósito.
A expedição leva esse grupo ao Brilho, uma estranha formação etérea que tem tomado conta de um local isolado e que ameaça se alastrar por todo o continente. Ao mesmo tempo que parece inofensivo por fora, o Brilho já consumiu boa parte das equipes exploradoras anteriores, e agora, elas são a última esperança para que todos possam entender o que está acontecendo.
No elenco coadjuvante, ainda temos Benedict Wong, que é um tanto quanto mal-aproveitado e vive um personagem monotônico. Por outro lado, Oscar Isaac tem pouco tempo de tela, mas sua participação é essencial para o desenvolvimento de trama e ele consegue criar um personagem sobretudo inexpressivo, mas que tem muita coisa a dizer em seu silêncio.
Em termos narrativos, o filme pode não fugir do esperado, mas consegue criar a estrutura de seus dois primeiros atos de uma forma muito elegante e arrojada. O terceiro ato, no entanto, migra para uma exploração mais profunda do horror cósmico e do desconhecido, criando um final bem enigmático e ambíguo, ainda que não seja muito complexo em seu entendimento e interpretação.
Há paralelos muito marcantes com uma obra em especial de Lovecraft, o conto A Cor que Caiu do Céu, publicada pela primeira vez em setembro de 1927. Os paralelismos ajudam a compreender a intenção final da obra e também escondem subtextos um pouco mais obscuros, enquanto ainda assim entregam uma jornada em busca de humanidade em fronte ao além.
Ainda assim, há alguns pequenos defeitos que acabam tirando a perfeição da trama. As inúmeras cenas de interrogatório - ainda que importantes para o filme -, intercaladas com a história principal, acabam freando um pouco o ritmo da narrativa, e deixando-a com diversas interrupções em momentos onde a construção de tensão e suspense seria muito mais bem-aproveitada.
Uma opção seria tornar essas cenas um pouco menores e mais espaçadas, dando mais ar para a expedição e os mistérios encontrados por Lena em sua viagem. Dessa forma, seria ainda melhor do que apenas trazer sequências que servem apenas para reafirmar o que já foi visto em cenas anteriores ou o que se passaria logo depois.
Visualmente, porém, o filme é de tirar o fôlego. Mesmo com um orçamento limitadíssimo, consegue-se criar uma estética única e intensa, onde as repercussões do Brilho são sentidas de uma forma muito mais primal, apelando de fato para um medo subconsciente muito elementar. E não apenas isso, o filme faz questão de entrar em aspectos intraduzíveis e indescritíveis, criando forma para o disforme.
Em termos de efeitos visuais, a construção é bem operante, e ainda que uma cena ou outra denuncie esses aparatos de CGI, o esforço é visível e bem recompensado, já que na maior parte da trama, o filme consegue sustentar sua própria versão de (ir)realidade. Na realidade, até os defeitos nesse sentido servem à história, já que confrontamos um lugar onde as leis da natureza não se aplicam como deveriam.
O único problema, nesse aspecto, está no filtro utilizado em algumas cenas. Para tornar os defeitos mais imperceptíveis, as sequências às vezes são vítimas de uma luz muito estourada, e um lens flare (aquele "brilho" que se espalha na tela, a partir de um único ponto de iluminação) Tais artifícios acabam conferindo um tom muito plástico e menos orgânico, que é justamente o que o filme não pede.
Em sua sonoridade, no entanto, ele compensa por isso. Por mais que a trilha sonora seja só operante e não muito intensa, a construção de ambiente é ressonante no trabalho de áudio, que incorpora vários elementos reais e fantásticos. Há uma cena muito bem trabalhada, no meio do filme, onde temos uma exploração real do horror, e apesar do visual em si ser bastante intenso, é o uso de som que realmente congela a espinha na sequência.
Assim sendo, Aniquilação é digno de todos os elogios que está recebendo mundo afora. O diretor Alex Garland mais uma vez conseguiu trazer algo que desafia os ideais do "baixo orçamento", ao mesmo tempo em que tem uma história forte e poderosa para ser contada, ainda que muito mais simples do que aparente ser.
Em uma comparação direta, é um filme que lembra um pouco o excelente Abismo do Medo, de 2005, não apenas pela equipe de protagonistas mulheres, mas também pela jornada em direção à boca da loucura. Aliado por uma trama um pouco mais rápida e menos "pausada", sem dúvidas seria um dos maiores clássicos de ficção científica e horror da década.
Concluindo, Aniquilação é um filme inquietante, e que embora não fuja muito do beabá do gênero, consegue se estabelecer de uma forma única e desenvolta, além de trazer visuais espetaculares e grandiosos. Uma verdadeira pena que não tenha sido exibido nos cinemas, no Brasil, pois há detalhes que seriam muito mais valorizados por uma tela grande.
Através da construção de trama e elementos que remetem às mais clássicas literaturas de horror psicológico, o filme estabelece uma ficção científica apurada, enquanto viaja em um teor mais psicodélico ao seu final, trazendo uma boa variedade de temas ao público. Em suma, nossas expectativas foram aniquiladas... da melhor forma possível!
NOTA: 4,5/5