[CRÍTICA] A Maldição da Chorona – Sem mais lágrimas para chorar!
[CRÍTICA] A Maldição da Chorona – Sem mais lágrimas para chorar!
Será que o longa faz jus ao universo de Invocação do Mal?
Chegando aos cinemas brasileiros neste final de semana, A Maldição da Chorona é o mais novo filme de terror da Warner Bros. – e, curiosamente, mais um capítulo no universo compartilhado de Invocação do Mal. Porém, será que o filme realmente assusta ou só nos arranca lágrimas de ódio?
Créditos: Warner Bros.
Ficha Técnica
Título: A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona)
Ano: 2019
Data de lançamento: 18 de abril (Brasil)
Direção: Michael Chaves
Duração: 93 minutos
Sinopse: Ignorando o aviso sombrio de uma mãe traumatizada, suspeita de pôr em risco a vida de seus filhos, uma assistente social e suas próprias crianças logo adentram um reino de perigo sobrenatural.
A Maldição da Chorona - Sem mais lágrimas para chorar!
Quando A Maldição da Chorona foi anunciado, ninguém esperava muita coisa do novo longa de horror da Warner Bros.. Sabíamos que o filme teria dedo de James Wan, mas nada dava indícios de que a obra seria grande ou inovadora... E então anunciaram que o filme fazia parte do universo de Invocação do Mal.
Considerada a maior franquia de horror da atualidade, esse universo compartilhado carrega a assinatura de Wan - diretor dos dois primeiros filmes - em seu DNA. Logo, as expectativas aumentaram. Entretanto, após chegar aos cinemas, o filme prova ser o que sempre foi: mais um longa de terror, sem muitas pretensões ou delírios de grandeza.
Aqui, vemos Anna - interpretada por Linda Cardellini -, uma assistente social que, após investigar um caso bizarro, acaba entrando em apuros quando sua família passa a ser perseguida por La Llorona, uma assombração do folclore mexicano que persegue crianças para matá-las afogadas, assim como fez com seus filhos há vários anos.
Antes de mais nada, preciso falar sobre a protagonista do filme - e não a assistente social, mas sim a própria Chorona. Como assombração de filmes de terror, ela mal será lembrada daqui a alguns anos, passando muito longe de ícones visuais como a Freira ou até mesmo a boneca maldita Annabelle. Entretanto, ela cumpre seu papel e garante bons sustos.
Porém, a maior fraqueza do filme está em seu núcleo humano - e não por conta das atuações, já que todos mandam relativamente bem. O problema está no roteiro de Mikki Daughtry e Tobias Iaconis, que não consegue criar uma trama simples sem abusar de facilitações narrativas e convenções baratas.
Há um limite para o qual os personagens de filmes de terror devem ser burros. Infelizmente, essa linha é cruzada aqui. Todos os personagens - literalmente todos - tomam decisões que não fazem o mínimo sentido. Desde não conversarem sobre a aparição de um fantasma em vestido branco à necessidade de abrir a porta para pegar uma boneca de pano.
Isso acaba entrando na frente do que poderia ser um filme de terror convencional, mas muito bem arquitetado - como é o caso de Annabelle 2: A Criação do Mal. Aqui, no entanto, esses problemas acabam incomodando mais de uma vez, o que impede o foco na trama principal e em algumas ramificações interessantes.
O elenco manda bem, mesmo com material limitado. Linda Cardellini (nossa eterna Velma) consegue transmitir a sensação de pavor em perder seus filhos. Ela funciona como uma mãe desesperada, mas calejada por uma tragédia de seu passado. As crianças, interpretadas por Roman Christou e Jaynee-Lynne Kinchen, também se esforçam dentro do possível.
Os coadjuvantes são bons, mas poderiam ter mais espaço na trama. Raymond Cruz é bem interessante como um curandeiro local, mas tem pouco tempo de tela para ter algum desenvolvimento. Porém, o que fazem com Patricia Velasquez é um crime. A personagem é rica em potencial, mas esquecida durante boa parte do filme.
Sintetizando tudo isso, A Maldição da Chorona é um horror mastigado, do tipo que não vai muito além do que se vende. Narrativamente falando, é um filme que não sai da superfície e que se compromete por decisões questionáveis de roteiro, mas que consegue estabelecer alguns personagens carismáticos e cheios de potencial.
Agora, falando um pouco da direção, Michael Chaves é um nome que precisa ser gravado para o futuro. Tudo bem que, neste filme, ele não consegue desenvolver todas as suas capacidades, sendo responsável apenas por construir tensão suficiente para o próximo jump scare - e acredite, são muitos deles.
Ainda assim, Chaves demonstra um domínio absurdo com a câmera. O filme possui vários planos-sequência muito intrigantes, que adicionam uma camada extra de tensão e atmosfera. Para ser sincero, mesmo que o filme se passe em Los Angeles, ele cria um senso de pavor maior do que A Freira, que é situado em um convento sombrio da Romênia.
E esse não é o único mérito técnico. O trabalho de som está bem competente, embora os "sons de jump scare" estejam empregados em excesso. Em termos visuais de direção de arte e efeitos visuais, há um esforço notável, que realmente cria um filtro interessante, quase sempre funcional.
É por isso que a notícia de que Chaves vai assumir a direção de Invocação do Mal 3 é até reconfortante, por mais que James Wan pareça ter saído definitivamente da franquia (ao menos como diretor). É a chance que o cineasta tem para mostrar que, com um bom roteiro, pode produzir algo bom. E no fim das contas, se até Andy Muschietti dirigiu o medíocre Mama antes de fazer IT: A Coisa, aqui também há espaço para redenção.
Por fim, para sanar a curiosidade dos fãs da franquia Invocação do Mal: como já divulgado anteriormente, o filme realmente faz parte do universo, contando com a participação do Padre Perez, que já havia aparecido anteriormente em Annabelle. Aqui, ele tem um papel pequeno e estabelece a conexão do filme à saga de horror.
Contudo, não espere grandes reviravoltas e easter-eggs escondidos que trazem mais da presença dos Warren. Se isso, por um lado, pode decepcionar alguns fãs, por outro acho a ideia interessante, pois mostra como a franquia pode se expandir em diversos capítulos sem a necessidade de se criar um universo completamente coeso e intrincado.
No fim das contas, A Maldição da Chorona não é de todo ruim, mas não vá esperando a nova obra-prima do horror. É um filme que diverte às custas de seus jump scares - alguns muito criativos, por sinal. Porém, não passa de um entretenimento passageiro que não vai te assombrar por dias.
Como novo capítulo da franquia Invocação do Mal, o filme é... competente. Bem melhor do que o primeiro Annabelle ou A Freira, mas não traz nenhuma grande adição significativa à saga, exceto a ideia de que o horror pode acontecer fora dos casos de Ed e Lorraine Warren.
NOTA: 3/5