A fama de grande comediante de Ramón nasce em meio a uma família de artistas. Seu irmão, German, pertenceu à época de ouro do cinema do México, tendo apresentado vários personagens consagrados, como Tin Tan. Também era irmão de Manuel Valdés, conhecido como El Loco e dos atores Antonio e Cristóbal Valdés. Além disso, foi cunhado de Verónica Castro, que está presente na série da Netflix, A Casa das Flores, e foi tio de Cristian Castro, também ator.

No Brasil, a fama de Ramón Váldez se deu com o icônico Seu Madruga, mas o ator possui mais de cinquenta filmes mexicanos no currículo. Sempre seguindo o papel do homem difícil, mas de coração mole, Ramón começou sua carreira em 1949, com Eu Sou do Amor. Mas, o papel do pai da Chiquinha apenas entraria em sua vida em 1971, dando início há uma era de participações nas criações de Roberto Gómez Bolaños, como em Chapolin e até mesmo em um spin-off com Kiko como protagonista, Ah, que Kiko!

Dentre alguns personagens icônicos de sua carreira, tivemos ele vestido como o Superman e também Tio Sam, fazendo piada do colonialismo criado entre os Estados Unidos e os países da América Latina. Rámon também marcou a televisão mexicana com Tripaseca e teve grande importância na elaboração das primeiras versões de Los Caquitos.

Durante a década de 1970, Ramón participou de diversas produções inspiradas em Chanoc, histórias em quadrinhos mexicanas. Com enredos envolvendo desde contrabandistas até tubarões, o personagem é quase como um James Bond mexicano.

Ramón, infelizmente, não interpretou o personagem título, mas deu vida a Don Arturo, um dos fiéis ajudantes do herói.

Ramón, como diria Linn da Quebrada, era um artista até onde a arte lhe permitia ser. E isso se refletia desde atuar até mesmo possuir um circo no México. Com uma boa proposta de um circo para que Valdéz trabalhasse com eles, nasceu O Circo do Don Ramón. Ao contrário do Kiko, o personagem de Ramón tinha o mesmo nome de seu intérprete, o que impediu que Bolaños exigisse os direitos do Seu Madruga, fazendo com que o ator pudesse usá-lo em suas apresentações.

A última turnê de Ramón Valdés aconteceu em 1987, no Peru. Maria Antonieta de las Nieves, a Chiquinha, chegou a assistí-lo e declarou que jamais imaginou que ele morreria logo depois.

Com o apelido de “chimpanzé reumático” na série, Ramón era uma figura curiosa no elenco de Chaves. O personagem magro, alto, sempre maltrapilho era motivo de zoação para Kiko e Dona Florinda, mas de olhares apaixonados para Dona Clotilde. Já seu nome espanhol na série, Don Ramón, espelhava a personalidade galanteadora do ator.

Como um verdadeiro galã, Ramón declarava que, depois do cigarro, seu maior vício eram as mulheres. Tendo casado três vezes e com dez filhos ao todo, Ramón não se comparava com Mr. Catra, mas isso pode só ter sido por falta de tempo. Outra prova disso é que não apenas Dona Clotilde nutria sentimentos por Ramón, mas também a atriz Angelines Fernández que, em seu velório, passou duas horas de pé ao lado do caixão.

Mas mesmo que o papel de galanteador lhe servia, a verdade é que Ramón nem ao menos se caracterizava para as gravações de Chaves. Sendo o único que não passava por uma maquiagem ou mudança de figurino, o ator chegava para gravar com a própria calça jeans, a camiseta velha e seu chapéu. Então, podemos afirmar que, se tivéssemos celulares na época, teríamos algumas fotos do Seu Madruga andando por aí.

De acordo com o jornal mexicano El Instransigente, alguns dos bordões mais conhecidos do Seu Madrugada não constavam no roteiro original. Ramón Váldez foi o responsável por inserir algumas frases que ficaram icônicas com o passar dos anos, como "Só não te dou outra, porque..." e "Que que foi, que que foi, que que há?".

Ramón era tão respeitado em seu trabalho que era capaz de burlar algumas regras de set. Um dos proprietários da Televisa dizia ter nojo de cigarro, o que poderia ser um problema para o ator que dizia ser viciado em “cigarros e mulheres”. O proprietário não tolerava que ninguém fumasse nos estúdios, proibindo que qualquer um acendesse um cigarro na Televisa. Porém, o respeito e a fama de Ramón era tanta que acabou se tornando uma exceção à regra.

Com especulações que Ramón tenha falecido de câncer no pulmão, a verdade é que foi noticiado que, primeiro teve uma doença no estômago e a mesma evoluiu para a medula espinhal. Porém, a sua morte não impediu que novos episódios com o ator como Seu Madruga fossem lançados. Tendo falecido em 1988, a emissora havia produzido episódios do programa que circularam até 1992.

Mas, o caso não foi nem um pouco pensado. Devido aos problemas que Ramón teve com Florinda Meza García e Roberto Gómez Bolaños – por conta de questões financeiras principalmente –, intérpretes de *Dona Florinda e Chaves, o ator trabalhou ao lado de Carlos Villagrán, o Kiko, por um bom tempo, reprisando o seu papel como Seu Madruga.

Todos sabemos que a saída de Kiko criou um buraco na dinâmica da Vila do Chaves e não foi diferente para o Seu Madruga. Sendo apontado como o favorito de Bolaños na série e de grande parte do público, a saída de Ramón fez com que tentassem encontrar alguma forma de substituir a presença dele. Entre mudanças de cenário, criando o Restaurante da Dona Florinda, até a adição de Dona Neves e Jaiminho, aos poucos, alguns novos personagens foram assimilando as características do Seu Madruga.

Um dos casos mais claros disso é o carteiro Jaiminho, que começa sua história como um homem pateta que vive falando de Tangamandápio, para um malandro que está devendo, isso mesmo, 14 meses de aluguel para o Seu Barriga.