Capitão América: Guerra Civil – Espetáculo e Tragédia!
Capitão América: Guerra Civil – Espetáculo e Tragédia!
Desde que foi anunciado, Capitão América: Guerra Civil vem sendo aguardado com fervor pelos fãs, tanto por ser um marco no Universo Cinematográfico estabelecido pela Marvel, como também por ter em seu título o nome de uma das sagas mais populares da editora. Tendo assistido ao filme, segue uma breve crítica e discussão sobre o terceiro filme do Sentinela da Liberdade!
Atenção: A crítica a seguir foi realizada por um autor específico e não reflete a opinião total do site. Em todo caso, se você concorda ou discorda com a visão do autor ou dos comentaristas, lembre de ser respeitoso, sem ofender ou atacar ninguém gratuitamente.
Ficha Técnica
Título original: Captain America: Civil War Duração: 147 minutos Data de estreia: 28 de abril de 2016 (Brasil) Direção: Joe e Anthony Russo Produção: Kevin Feige Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely Elenco: Chris Evans, Sebastian Stan, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Chadwick Boseman, Elizabeth Olsen, Paul Bettanny, Don Cheadle, Paul Rudd, Jeremy Renner, Emily Van Camp, Anthony Mackie, Daniel Brühl e Tom Holland.
Capitão América: Guerra Civil – Espetáculo e Tragédia
Dirigido por Joe e Anthony Russo, o terceiro filme do Capitão América já surgiu com uma série de desafios atribuídos que só faziam a expectativa geral do público ser içada às alturas. Primeiro, temos a ideia de que o filme adaptaria uma das maiores sagas da Marvel. Além disso, ele seria lançado pouco mais de um mês após a estreia de outro filme que abordaria temáticas similares. Não esqueçamos a desconfiança trazida pela popular “maldição do terceiro filme” e a re-introdução de um dos maiores ícones no universo de super-heróis no MCU – o chamado Universo Cinematográfico da Marvel - a partir de si, e então podemos ter uma vaga ideia do que se esperava de Capitão América: Guerra Civil.
Todavia, mesmo com toda a pressão, o filme consegue superar as expectativas e se consagra como um dos mais importantes já realizados pela Marvel Studios, dando início à chamada Fase 3 do MCU e trazendo uma série de mudanças e novidades que serão imprescindíveis para o futuro da franquia bilionária.
A Guerra
Sua trama é uma consequência direta dos acontecimentos de Capitão América: O Soldado Invernal e Vingadores: Era de Ultron, abordando, em planos paralelos, o paradeiro de Bucky Barnes – ou também conhecido pela alcunha de Soldado Invernal –, ao mesmo tempo que o grupo de Novos Vingadores precisa lidar com as consequências de suas ações após o desastre de Sokóvia. Após um incidente envolvendo o grupo e alguns problemas com o Soldado Invernal, o governo e a ONU decidem criar um tratado com os Vingadores, colocando-os a serviço das Nações Unidas, de forma que possam ser responsabilizados e comandados por forças superiores.
Decidido a provar a inocência de seu velho amigo e terminantemente contra a proposta que pode acarretar na restrição das liberdades civis dos Vingadores, o Capitão América se torna, lentamente, um foragido, enquanto outros heróis “dentro da lei” liderados pelo Homem de Ferro partem em busca de seus velhos amigos, procurando persuadi-los ou prendê-los para sua própria segurança.
Amarras e partidas
É, dessa forma abrupta que o filme tem seu início principal, gerando uma imediata quebra nos moldes dos Vingadores e criando um forte senso de perseguição. E, ao mesmo tempo que busca tratar de um tema sério e aprofundado, temos a dose de aventura e humor que consagrou os quase dez anos de filmes da Marvel Studios, e que mais uma vez se mostra presente, de uma forma muito bem empregada pelos irmãos Russo, gerando um clima que, ainda que seja denso, não deixa de ser enérgico e divertido.
Há um quê de episódico na trama, que a torna uma espécie de culminação de um arco que vem sendo abordado desde o primeiro encontro entre Tony Stark e Steve Rogers, ainda em Os Vingadores, em 2012. Aqui, os diretores se aproveitam dessa perspectiva para traçar um filme que serve como ponto de chegada e partida de diversas tramas e arcos desses heróis que conhecemos desde 2008, quando um filme consideravelmente importante, chamado Homem de Ferro foi lançado. Pontas são amarradas e mencionadas continuamente, como a relação de parentesco entre duas personagens – algo reminiscente dos quadrinhos -, menções a dois super-heróis “desaparecidos”, a aparição de um general-que-agora-é-secretário-de-estado, além de sequências expositivas a respeito do interesse amoroso de um dos líderes do embate.
Introduções
E, ao mesmo tempo, o filme não se perde ao tentar mostrar um novo horizonte que será amplamente explorado no futuro. O que nos permite falar claramente de dois personagens que fazem total diferença no filme: Primeiramente, temos o Homem-Aranha de Tom Holland. Introduzido agora neste Universo Cinematográfico, o personagem cai como a versão mais fiel do herói já vista nos cinemas, mesmo com um tempo de tela reduzido a poucos minutos.
Mesmo para aqueles que, como eu, não se importam tanto com o personagem ou já estão cansados de tentativas de trazê-lo ao cinema, o resultado é mais que satisfatório e trará uma boa dose de risadas bem construídas. É curioso e necessário traçar um paralelo com outro filme, Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Tanto ele quanto Guerra Civil conseguem explorar e revigorar de forma “definitiva” personagens que se consideravam esgotados em seu uso em outras mídias. E dessa forma, o que sentimos ao ver o Batman de Bem Affleck é algo que se repete com o herói aracnídeo.
Porém, enquanto o Homem-Aranha é um grande coadjuvante de luxo, quem realmente rouba a cena é o Pantera Negra, identidade secreta de T’Challa, de Wakanda. Aqui, com um peso dramático forte – resultado dos eventos do filme –, o personagem acrescente o contraponto ao divertimento bem-humorado: ele representa o trágico e fúnebre, uma voz na consciência que alerta ao mundo sobre a irresponsabilidade dos chamados “super-heróis.”
Personagens e papéis
E grande parte disso se deve à atuação de Chadwick Boseman, que realmente arrebenta em seu primeiro filme na Marvel Studios. E ele certamente não é o único. Há uma clara evolução no trabalho de todos os atores do filme, especialmente os envolvidos diretamente no conflito, como Robert Downey Jr., Chris Evans e Sebastian Stan. Aqui, entre momentos de diálogos excepcionais e lutas de cair o queixo, sobressai um esforço para trazer uma interpretação que valorize em conjunto, ainda que o personagem que dá nome ao filme seja mantido no centro da história sem concessões.
E se os atores evoluíram, o mesmo pode ser dito de seus papéis. Cada herói possui uma importância essencial à movimentação da trama: Capitão América e Homem de Ferro como contrapontos ideológicos, Soldado Invernal como motivo do conflito, Pantera Negra como a “visão de fora”, Visão como consciência lógica, Falcão, Máquina de Combate e Viúva Negra como principais aliados de seus líderes, Feiticeira Escarlate significando o caos que surge com o poder, Homem-Formiga e Homem-Aranha como alívios cômicos na medida certa.
De fato, o único que “sobra” é o Gavião Arqueiro, e mesmo que isso seja sintomático do personagem desde sua primeira aparição, ele ainda ajuda a movimentar a trama, mesmo que minimamente. Esse cuidado e atenção aos vários personagens que compõem o filme mostram que os Irmãos Russo são a escolha mais acertada para comandar as duas partes da vindoura Guerra Infinita.
Os problemas...
Contudo, nem tudo é perfeito. O filme possui alguns erros cruciais. E o primeiro deles, já apontado por muitos, está em seu “vilão”. O filme funciona muito bem enquanto o antagonismo da trama está na luta entre heróis aliados. É até curioso, porque quem entra no cinema disposto a optar por um dos lados sai da sala pensando que “o outro lado não estava tão errado assim”. Isso cria um sentimento de choque, porque por mais que seja divertido encarar aqueles super-seres digladiando, é uma luta que possui um peso e uma profundidade de medidas incalculáveis.
Porém, quando o filme introduz a figura de Zemo, há uma perda de força. O personagem aparece por pouco tempo para se criar uma boa relação com o público, e seu plano inicial não é tão interessante, até que há uma reviravolta e se descobre o que há por trás de sua figura maligna. Ainda assim, está longe de ser o Barão Zemo intimidador dos quadrinhos – apesar de algumas referências inteligentes à sua origem. Quem sabe, seja apenas uma “história de origem”.
Além disso, por ser um filme destinado a um público amplo, ele sempre caminha à beira do abismo, mas jamais se entrega para um salto de fé. Mesmo com uma temática ideológica valiosíssima em mãos, o filme faz pouco para destrinchá-la. E mesmo quando todo o conflito se esvai e podemos ver as rachaduras na fundação, algumas mudanças de ideia de personagens e atitudes tomadas parecem um pouco contraditórias. Ainda assim, não é nada que estrague o fator de divertimento ou a qualidade do filme enquanto obra inserida nesse universo composto.
Pontos de virada
Visualmente falando, o filme é ousado. Desde os grandes letreiros às cenas de ação que são melhorias absurdas em relação ao filme anterior do Capitão América, há um claro senso de grandiloquência que, por sua vez, não busca deixar o público maravilhado ou distanciado. Pelo contrário, é justamente essa escala grande que procura acomodar o espectador mais próximo possível da ação e dos acontecimentos. Com essa intensificação emocional, cada soco é sentido mais fortemente. Cada palavra, seja de alento ou de ódio, soa mais potente. E é o bastante para que você possa se identificar dos dois lados do conflito, vendo os problemas e as diferenças de cada.
Se antes éramos plenamente acostumados com um Capitão América bom e leal, aqui vemos um personagem que leva isso a um limite bem grave, soando extremista e “cego” em meio à sua boa fé. Da mesma forma, o Tony Stark que tanto se via como um playboy desinteressado nos problemas ao seu redor abre espaço para revelar uma versão mais sóbria, autoconsciente e dependente de garantias impostas por terceiros para ter um alívio em sua própria consciência.
Nêmese ideológica
E nesse ponto, precisamos retornar ao assunto das atuações para dar destaque especial aos dois astros que compõem o quadro central do filme. Chris Evans evoluiu, demonstrando-se um ator capaz de viver um Capitão América que cruza limites sem jamais se comprometer, ao mesmo tempo que consegue passar uma variedade emocional muito maior que as interpretações anteriores do mesmo personagem. Ao mesmo tempo, Robert Downey Jr. Se despe de seu caráter pavonesco, revelando um herói trágico e fragmentado, com traumas que remetem levemente aos problemas pelos quais seu personagem passou em Homem de Ferro 3.
Uma pena que tais recursos interpretativos não sejam auxiliados por uma trilha sonora à altura. Henry Jackman aqui reproduz um trabalho mediano, bem aquém das expectativas lançadas após sua ótima estreia no MCU na trilha sonora de Capitão América: O Soldado Invernal. Por sorte, esse é um problema que não chega a incomodar, apenas poderia ter sido melhor trabalhado.
Frenesi
Outra coisa que merece ser mencionada, porém elogiosamente, é a coreografia das cenas de ação. É algo indispensável no filme, e funciona de forma magnífica. Cada personagem possui um estilo próprio de combate e as cenas são imersas num frenesi que tira o fôlego de qualquer um. Desde a abertura do filme, na Nigéria, à perseguição na Alemanha, passando pela cena do aeroporto – que, de fato é como os outros críticos dizem: uma das melhores sequências de ação do estúdio, empatando com a Batalha de Nova York em Os Vingadores -, até o derradeiro encerramento, todas as lutas são bem conduzidas e existem com uma função.
E, diferentemente de Era de Ultron, o filme encontra êxito em intercalar essas cenas de ação com momentos onde reina a calmaria e o diálogo. Tudo é bem construído, e não passa aquela sensação de que as cenas sem pancadaria são “bolsões de ar” para preencher o conteúdo do filme.
Adaptações e resoluções
Faz-se necessário ressaltar que, apesar do título, o filme carrega pouca semelhança com a saga dos quadrinhos... e isso é muito bom! Assim como em Soldado Invernal, os Irmãos Russo procuram tirar o conceito por trás da história das HQs e incorporá-la ao seu Universo Cinematográfico. Desta forma, o filme não procura ser uma adaptação fiel da Guerra Civil – ainda que várias referências e paralelos sejam traçados -, mas sim a proposição cinematográfica da Guerra Civil nesse universo construído após Homem de Ferro. E mesmo os fãs mais xiitas irão concordar que, apesar de “pecar” nesse aspecto da adaptação – algo que, exceto pelo título, o filme nunca se propôs a fazer –, ainda é um filme muito bom que passa todo um sentimento dos quadrinhos.
De fato, Capitão América: Guerra Civil consegue lograr em todos os desafios propostos inicialmente. É um filme profundo, com questionamentos que interferem bastante na sociedade, ainda que esse conflito ideológico seja muito diluído. Porém, o que se perde aí, ganha-se em diversão. De fato, caso não seja o “melhor filme da Marvel”, como todos dizem, certamente é um dos mais divertidos, trazendo ação, aventura, drama, suspense psicológico, conflito ideológico e tudo que o torna uma miscelânea variada de grandes hits. E sua maior conquista é ser esse pináculo, onde várias histórias se fecham e outras se abrem, de um modo similar ao que Os Vingadores fez há quatro anos. Se a Fase 2 havia começado de forma preocupante para os fãs por conta de Homem de Ferro 3, agora, na Fase 3, eles podem respirar aliviados, porque ela foi inaugurada com uma das maiores obras do MCU até então.
Nota: 4,5/5